Casas do tostão furado
Falar de casa, por exemplo. Eu devia falar de casa pra quem precisa e não falo. Eu devia exigir de mim um cronista dinâmico e que tivesse mais atenção.
Mas o meu tom tem saído baixo, eu falo aqui de lágrimas de amor... Eu apenas giro n’água, sou como um velho moinho exímio em enrolar. Penso em falar de quem não tem casa, um terreno, um bendito pedaço de lote e acabo por não dizer.
E este êxodo do meu texto é que é o problema. Eu começo por assunto e já pulo pro final. Vou enchendo a minha crônica de muito lirismo e muita gente anda aí... nos chamando de poeta.
Não ter onde morar. Eu devia era falar sobre este assunto, mas anoiteceu pra chover. E eu queria também falar do mau-humor em carnaval, da inconveniência deste meu texto. Falar do ONDE MORAR?
Eu me debruço no parapeito ali da igreja e fico a olhar. Praça. Carro. Gente. Banca de Jornal. Um banco. Dois bancos. Três bancos. Eu luto por dinheiro. Tu lutas por dinheiro. A Casa da Moeda foi erguida por essa luta nossa. Luta que nem casa nos dá!
Viram! Acabam pensando que é poema!
Outro dia, no rádio, nos insinuaram poetas! Que os cronistas de hoje só fazem poesia.
Viva a poesia, pois! A poesia que está farta dos agrimensores, dos engenheiros, dos arquitetos e de todas autoridades contituídas que deviam se preocupar com terreno, moradia... com DIGNIDADE, sim!
Por isso o mau-humor deste texto. Ele deixou de falar apenas da chuva, de quando anoitece pra chover.
Falar do nada, de quem não tem nada, fazer a blague do poder estabelecido. Das Casas de Moeda que não valem um tostão.
É disso que fala o poeta e não notam.
Mas eu vou continuar como um velho moinho, indo no giro d’água, para de alguma forma dizer: Casas de Moeda que não valem um tostão.
Um tostão furado, antes que esqueça!
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