Ah, uns tapas no ouvido! (ou o blog autoral)
Depois, o pão-de-milho era o meu preferido. Depois fui leiteiro, engraxate, pasteleiro, me ensinaram caligrafia, quaquaquá!
Ah, a “luz do saber”!
Aquela aula mágica, qua, que, qui... no quadro-negro adormecia em nós.
E o sonho era bom: ao invés do feno, o boi, a vaca, poderíamos colher o mundo, se mandar dali.
Muito corajoso, portanto, demorei ainda um tempo, mas me mandei! E fui com sede ao pote: Porto Alegre, Lisboa, vivi aos reboques, olhei perplexo Paris.
A Europa era a língua que não tive, em Toulouse, acordei! Eu era a “raça amarela”, nos diziam cães sarnosos, fui depor por divergir. Com os argelinos dividi meus poucos tomates, com aquela gente da Argélia eu dividi a dor da cor.
Como o pai, covarde ainda, vi o futuro em Orly e voltei. E voltei para a possibilidade de um filho meu. Filho avulso, fosse, mas filho meu. E meu filho, escolhi seu nome, não o tive, hehehe.
A caligrafia, o desenho, percebem???
Por que me ensinaram a escrever e a enxergar?
Quem sabe, sabe a consciência do não-saber. É isso, entendem? Não sabendo, não me teriam tirado coisas, pois não as perceberia em mim.
A literatura, por exemplo, me dá essa chance diária e pública à exposição. É patético, eu confesso, eu me expio, fígado exposto ao sol. Eu bato lata por mim.
Só que nem sempre sou. Somos mais, somos máscaras, exagero, quem escreve diz mais do que é. Não perde a piada, repõe textos passados, vive trazendo remorsos e recriando a dor de amor.
Cuidado, portanto, com este blog autoral!!!
Ele não vai falar da limpeza dos meus dentes, nem da tomografia que eu possa fazer. Fará a confissão do rosto inteiro, muito além da gengiva, muito além do fígado e do rim.
Fosse viva, minha singela mãe por certo diria, ah, uns tapas no ouvido!, andar por aí exagerando, falando dos outros sem permissão.
Isto é a literatura. Ou, quem disse que briguei às duas da madrugada com o meu amor?
Que amor? Onde o amor?
Falei apenas que todos brigam, muitos brigaram anteontem e foi só...
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