Preparo de um poema
Talvez um poema azul
Um poema-desejo
Um poema-estandarte
Ou me sobre a infeliz incumbência de apenas prosear
Morrem poetas a cada minuto diante de um sorriso
Faltou-lhe o preparo
Morrem poetas a cada minuto diante do percurso de um vestido
faltou alinhavo
E assim, toscamente, se pensa que a sorte
é poesia
Pensa-se que um ramo, a guerra, uma despedida vale um poema
Despreparo ainda
Falta-lhe um método, um jeito, uma função de apoio
Faltou-lhe um seio
A cor, o ritmo, o sexo
Mas onde ainda o preparo?
Poema.
Que se faça poema no balcão do diabo
na toca de Deus
mas que o poema tenha (pela descrença que faz da prosa)
a sua decantação
o seu vinagre, o coalho,
a sua serenata de lágrimas
Acaso isto é um poema?
É cláusula
Intenção
Tabelionato de Idéias
Renderia prosa.
Prepara-se aqui à luz do dia
O poema não escurece
Ele requer uma seca
Estiagem
vento e frio
pra dizer de sua safra
Não se convençam, garotas, leitoras, meus amigos gaudérios...
Aqui não se tem UM poema
Se tanto, um esboço.
Muito sendo, estrago saudável
Uma goteira de intuição
Arremedo, traços
Poema escorado em desenho?
Que vá plantar bananeira!
Poema é o que se vira sendo o próprio
Poema que faz seu inverso o espelho da alma
E, cá com o meu despreparo, já combinamos: o poema deve ser antes de tudo sincero.
O resto é alpiste
pr
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