Fazer criança
Ao novo ser tudo de ti eu quero, contorno, traço severo, farei de teu colo o trono, o embalo do sonho sonhado que furtivo chegou. É o desdobro do que tive represado, reprimido, sempre alerta, por fim descoberta e pronta a explodir: berros do berço, terço no parto, pintarei o novinho quarto com o dom de dizer:
Amor de carne, louco! Amor singular, múltiplo à mostra, eu lá sei de que forças este amor eu formei!!
É criança, veio vindo, veio. Amor, bochechudo, pleno e cheio na forma que tomou. É a gravidez assim que te precede. Sabes, mulher grávida, essa é a desrazão que se mede, é o tamanho desse ser.
Alvura, rosto, figura. Essa forma de anjo seja feita à sua mãe. Por isso, o plágio de ti. Por isso, mulher madura e feita um dia será. Para que outro também a sonhe, seus cheiros, suores, poros, todos os seus defeitos de humana ele também os verá.
A moça querida que crescer serás tu de novo. Será o amor repetido de agora na forma que o tempo passar.
Fala-se aqui na filha. Fala-se aqui na permanência de amor. Fala-se aqui na permanência latente de todo o homem querer ser pai. Quis não, o senhor, ter sua filha? Não quis vê-la também moça, educada, em prataria ou louça talvez?
Sabe-se, esse é o orgulho maior! Se for rainha, seja rainha feia aquela que contigo quero ter. Para que jamais a coroem, recopiem, pai sente ciúmes que nem sonhei.
Com um dedo indicador esse anjo criança me aponta. Tonto, sonso, burro, homem idiota, refaço em plágio o rosto teu. E, escravo, piegas, ponto de fuga, sou um simples homem exposto ao chavão.
Mas o que devota, se adora, já no berço jamais chora, porque fazer criança é da espécie, não tem segredo, fórmula, magia, é o homem seguindo o destino: viver, se reproduzir.
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