Cachos de verão
Mas, embora num ambiente, assim, o sexo é tratado por Gutiérrez com a dignidade que o sexo merece. Daí talvez reprovar sua comparação com Genet e Henry Miller. O cara é menos, desses que comenta a sua iniciação, e nela está uma rebolativa morena que passava pelo menino vendendo gibis numa praia da Ilha. Rodava um chaveirinho, mas não importa, era o primeiro amor de sua vida.
A tradição de Gutiérrez, por isso não é Bukowski. Talvez, num ambiente mais refinado, Fitzgerald.
Momento de criação e depressão: sexo. Eis a motivação do cubano. E este também é o tema central de Suave é a Noite, de Fitzgerald. A novela retrata igualmente um momento de desespero, a crise dos anos 20, a derrocada econômica que abalou juízos e instituições. Apenas o prazer imediato: o amor reduzido à mera satisfação física. O moderno Fitzgerald trata disso a partir das “classes elevadas”. Notem, não estamos na decaída Cuba, mas os sintomas são os mesmos. Sua protagonista é uma jovem atriz de Hollywood, passando um verão na Riviera Francesa e a exercitar sua volubilidade.
Nesse ambiente “elevado”, de vaidade, sedução e pessoas ofendidas, Scott faz sua “ingênua” transitar por um esnobismo hesitante, pegando apenas o sentido geral das frases: “Onde o subconsciente supria o resto, a gente percebe tardiamente que um relógio começou a badalar, tendo nosso espírito registrado vagamente o ritmo das primeiras batidas contadas”.
O que quer dizer isso de palpável? Olhares oblíquos, olhares captados no ar por esposas que fazem não ver. Puro cinismo e ainda assim “a noite é suave ao sussurrar do Mediterrâneo”.
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