Meu amigo David
Meu querido amigo David Camargo não apareceu na feira sábado à tarde porque já estava morto. Faleceu sábado de manhã.
Quando soube, pensei: não deixou de ser uma homenagem ao meu amigo estar ali na feira no dia de sua morte.
Era muito querido em seu meio, deve ter feito uns 50 filmes e nem falava em cobrar. Estava com 73 anos.
Conheci David em 1982, na Mostra de Artes de Bom Jesus. Já apresentava o seu “monólogo”, e nunca mais deixou de falar do Bonja. Fez amigos. A centésima apresentação do monólogo foi lá.
Daí, nunca mais deixou de aparecer a cada lançamento.
David vinha de longe. Tinha participado do Coração de Luto, com o Teixeirinha, na década de 60. E o convidamos, a nossa turma de cinema da PUC, para ser a estrela do curta-metragem de conclusão do curso. Chamava-se Ogramac divaD, um palimpsesto que eu mesmo criei em homenagem à figura, para valorizar a sua interpretação.
No filme, ele faz vários personagens da literatura mundial. Faz Arlequim, Pierrot, Shakespeare, se veste de mendigo, interpreta São Sebastião. Mas, o melhor, é o David dançando balett, frevo, samba, o escambau.
Perdemos a fita, uma pena. Ficamos mais tarde de dublar, nunca mais fizemos, e o curta deve estar perdido nos arquivos da Famecos.
David sempre me cobrou isso aí.
Foi nosso convidado de formatura, depois. Lembro ele dizendo palavrões na festa que fizemos na casa do Sérgio Kapustan.
Quando resolvi ir embora pra Franca, na despedida, no Zelig, apareceu o David por lá. E me deu esta foto aí de cima que eu sempre guardei com carinho. Vejam só que figuraça!
No verso está escrito:
"Ao amigo Paulo Ribeiro uma recordação sincera e que nunca será esquecida do amigo das lutas artísticas".
Não foi esquecida, amigo David!
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