Milk-shake
Uma vez, artes lá de pirralho, sugeriram que não mais aparecesse.
Minha mãe não deixou o emprego. Mas ficou solidária.
E como não podia mais “pisar” no hotel, sempre pouquinho antes, pouco depois, eu ouvia seus passos chegando em casa ao meio-dia. Andava três quadras, ela com uma panelinha.
Eu só fazia bicos, graxa e entrega de jornal. À noite, panelinha, cansada, a Carmem lá. Arrumando panelinha e o pano antes de dormir.
Era esta a imagem: a panela num pano-de-prato com a comida remexida pelos passos apressados.
Eu acho que minha mãe agia bem.
Anos depois, eu introduzia a sonda para a sua alimentação após um AVC.
No Hospital, lembro quando decidiram a alimentação pelo nariz. Tinha um mingau do Governo do Estado, e eu muito caminhei até convencer umas garotas do Postinho de Saúde que era urgência. PORQUE ESTAVA EM FALTA.
Enfim, me deram o tal milk-shake que eu complementaria com sal.
Eu lavava os frasquinhos e tudo ali medido eu ia então para a enfermaria que o quarto virou. Até hoje tem coisa aqui... frascos, filtro, saco!!
Mas o que sobrou mesmo foi a disciplina do Milk: manhã, tarde, às 20h. Às duas da manhã.
Insuportável aroma de milk. E por isso eu preferia a dieta do sal que era assim:
1 ovo inteiro cozido
1 batata média
3 colheres de feijão cozido
4 colheres de sopa de legumes cozidos
500 ml de carne
Com estes ingredientes começo Cozinha Gorda. O livro é dela.
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