A canção das panelas
E diziam, crianças, pelo amor de Deus, entrem pra baixo da mesa, respeitem a Néia.
E que a Néia não ficasse no apuro, pedisse pras crianças também ajudar.
E era por isso que a Néia deixava se beijar.
E a Néia, na hora de dar banho, dava um grande susto no coração do Pedro Antônio.
Se beijar numa grande dá um grande susto.
Mas criança se beijar é que nem uma lágrima.
E o Pedro Antônio se lembrava da língua da morte da mãe e das pernas peludas da Néia também se lembrava.
Será que era por causa dos pêlos que tinha nas pernas que a Néia sentia um desprezo com os próprios cabelos?
Lutava com os cabelos dela.
Os cabelos da Néia eram também cabelos de galinha e ela batia nas panelas.
O Pedro Antônio e a Néia ficaram amigos.
O Pedro Antônio que levaram no velório com uma blusinha de marinheiro.
E o vestido que mudaram na mãe dele tinha a cor da mariposa.
As crianças que acompanhavam, queridas, ficavam sentadas.
Tudo tinha o gosto da Néia no caixão da mãe dele.
O tom combinando, as flores inocentes de coroa, nada de muito caro pra quem tinha loja.
Pensando bem, os que trabalham, mas trabalham por anos, entristecem na morte da patroa.
E quer jogar que daqui a pouco a Néia chorava?
Como diria a Néia, “praticamente”.
E também praticamente parecidas eram ela e a cantora Martinha.
A Néia que beijava guri na boca.
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