A vida
Gritei três vezes a vida quando pela primeira vez te vi.
Eu desescondi então a faca que trazia, o punho de capricho com que esbofeteava o amor, a aproximação de qualquer carinho, a ojeriza estúpida a toda atenção que me dessem.
Eu me desarmei. Minha mão eu cedi.
Humilde, entendi o nojento capricho que se rendia frente à simplicidade de tua oferta.
E pela primeira vez ouvi de ti a palavra filha.
Ao te conhecer, a generosa palavra filha eu ouvi.
E então escondi o meu rosto, porque eu, indigno, indigno ao procriar, vi em tuas mãos a calma do apelo que dizia, honra à espécie!
Honra, homem febril, abre em tia a fenda do amor.
E então eu desrepresei.
E eu vi em ti, a vida e três vezes não te neguei:
Vida! Vida! Vida!
Eu que esbofeteava o amor me rendi. Eu acusava o pleno golpe da aproximação do carinho e da atenção.
E rendido eu cedi.
Vida, vida, vida!
Dei-me ao casamento, as palavras solteiras quebravam.
Vida, vida, vida!
Havia generosidade em mim naquele instante. E, pagão, cristão recém parido, eu parti o pão e te dei. E eu não juntei os cacos e a carne da solidão que antes havia em mim.
A solidão, súbito, morreu. E herdeiro desta morte, eu decidi rústico, simples, a palavra boa que aprendia em ti:
Vida, vida, vida!
Gritei três vezes a vida quando pela primeira vez te vi.
Este texto é dedicado à Lu@, de coração
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