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quinta-feira, abril 6

Músico de mulher

O Beno tinha os lábios cortados, leporino, fazia anos esperava a escritura. Precisava escritura de músico e a escritura demorava não vinha. E só veio pronta de um latão de abacaxi. A papelada voou, e era um presente dado, o freguês se ria.
A escritura a abacaxi desemperrada e apenas com sete cadeiras, de chapéu, capa impermeável, o primeiro baile o Beno tocou.
Um astro, galã, sobressaía o chapéu de feltro.
E o Beno se arrodeava fazendo o chapéu arrodear junto. A pena do pavãozinho era amarela e ventava. E o Beno vá e vá num pandeiro.
Era pandeirista, tinha as mãos bem ossudas e gritavam, “olhe os outro dedo do Beno”, quando ele não usava sapatos.
Tocava de pés descalços mesmo e tinha uma múltipla capacidade de acompanhar com domínio o pandeiro.
Famílias se deslocavam só pra baile com o Beno esse.
Pandeirista, moreno, olhão preto, garantia com olharzinho uns quantos bilhões de moças.
Gostavam dele.
Era um mimo, os labiozinhos partidos, era bom de beijar o rachadinho dele.
Diziam da cavinha que bifurcava o bigode e aí que vinha o maior charme do Beno.
Seus olhos negros no ritmo, chegava Setembro rapaziada e prendas já se lembravam.
Era a temporada de tradição e baile e que trouxessem o Beno Rachadinho e os irmãos amigos dele.
Os convites vinham de moças e ai se não aceitassem!
E porque já eram uns astros, aceitavam.
Aceitavam, o Beno não se rogava e comparecia batendo por baixo. Socando na parte inversa do pandeirinho, de impermeável, pés descalços, nunca se viu humano ritmo igual.
E sabe por quê?
Primeiro, porque não cantava.
E porque os dedos do Beno moreno eram assim como os olhos.
Como os olhos dele, negros!
Bolitas, graúdos, os dedos ossudos do Beno...
e os seus olhos fechados agradando em sete mesas que houvesse...
Tocava assim.
Vá e vá, solo, concentrado, em harmonia com as gaitas, na inversão de quase tudo.
Só farfalhando uns papéis no couro, o Beno caprichava, fazia uns floreios, floreios apropriados, era a homenagem do pé rapado para todas as moças.
Lábio aberto. Chapéu de pena. O louco fazia dos dedos parte do seu instrumento.
Só marcando, pé descalço, sapateando serragem fria.
Êeee, beleza!
Marcha, rancho, polca, valsa, não tinha colorido de dança que não tirasse.
Só no pandeirinho, chiquechique, amor, saudade, harmonia, o que havia de bom na vida ficava floreado nos dedos.
E os dedos do Beno bem ossudos.
E o Beno, chapéu preto, dedos e mais dedos, era identificação imediata: tava ali um crioulo bonito. Moreno de olhos graúdos e escondendo esses olhos fechados.
Ah, dava mesmo todo o carinho que a mulher interiorana carecia, precisava.
Era um astro, era um ídolo, as morenas diziam que foi o lábio aberto o inventor do amor.
Peraí, não chegassem a tanto!! Mas fossem dizer pra elas...
Com a música e pandeiro dele rodavam os sentidos.
E rodavam vestido, ah, farfalho!!, até o dia do homem explodir.
Explodiu, ficou assim, maior alegria e felicidade caído aos pés de uma...
Hum-hum... sofreu do coração o Beno justo num baile.
E não tocou o pandeiro ainda!?!
Deitado!
Deitado, enfartado e tocando.
E morreu assim tocando numa orla de saia.
pr