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quarta-feira, abril 12

A mãe pronunciada


D. Carmem estaria hoje de aniversário. Três anos já sem ela, a lembrança é a da minha outra mãe por tabela. Dona Zezé, minha mãe negra de criação, também há anos morta.
Nasci em churrascaria, e por ali não dava, filho em cozinha, imaginem! E Oneide e Elsa, colegas então da Carmem, certa tarde me “roubaram”. Levaram o guri para a casa e só depois contaram. Estava com D. Zezé, a mãe delas, e seus 4 netos. Fui ser a criança onde havia o cachorro Dick. Criei-me ali até os 5 e foi isso: de Zezé recebi o carinho, os cortes pelas mijadas. Foi ela quem apimentou a camisa que eu insistia mascar crescido. E era também seu mascote, ela de véu, um véu muito negro, e os dois lá na missa.
Nem devia. O vigário me havia negado o batismo, nem importa, e D. Zezé foi a primeira morta de minha vida. Fui chamado para um beijo quando se despedia, pois ela morreu em casa.
E então de volta à Carmem. Ainda na pia. Agora Hotel dos Viero, mais impraticável. E fui mandado para uma outra José, a avó materna. Costureira, recém no Bonja, minha avó logo entrou pra Assembléia. Os cultos à noite, eu na Assembléia não entrava. Era minha fidelidade à outra, entendem?!
Coincidência, o templo era defronte ao Hotel dos Caminhoneiros. E eu ficava então ali, aguardando o culto. Era quando D. Carmem abria a janela. Eu debruçava vendo ela lavar pratos e colocando os assuntos em dia. Fiz arte, como ia o colégio, precisava sapatos??
Sempre assim os diálogos. Olho no olho, mas com uma parede entre os corpos. Pouco nos abraçamos na vida.
E na janela da pia, ela já de reumatismo. Mãos na quente, água fria, minha mãe já falava no “encosto”. Sempre bicos e papagaios e problemas nas juntas.
E andei em Porto, passei Europa, fui bater em Bom Jesus e Caxias. E D. Carmem sempre com as “costas e os joelhos”. Decidimos então que operava e foi a tormenta. E, ali, no Pompéia, a janela por fim se rompera. Eu a chamava de mãe no momento aflito.
A “mãe” nunca pronunciada. Porque aprendera o D. Zezé e D. Carmem, respeitosamente.