Camisola
É este andar da camisola pela casa que nos dá saudade quando o amor ausente.
É. É esta falta da camisola de corpo presente, a camisola cosida, rendada, que nos faz falta, pois nem na Bíblia tem.
Não, não. Não falo da camisola como avental, essa que encosta na pia, e não deixa de ser macia, mas não fica bem.
Quem já não viu? Camisola assim não dá.
Camisola é a pura vaidade. Justa então, é peça rara, ela é mesmo tri essencial.
Camisola no hospital é imprescindível!
Camisola chata, do medo, da doença, mas é a mesma que não guarda segredo, a camisola que engravidou!
Esta é a mais. Ela estica, enobrece, como vela de um barco se enfuna, comparável só à camisola na tarde, essa doce transparência que se estende da manhã.
Ah, que a mulher vem e vem neste gostoso dormir prolongado!
Carrega a vida nas costas assim de camisola. E a vemos, nem basta tanto, a sair para o pátio, no gramado, lá a estender suas coisas no quarador.
Ainda de camisola a mulher que anda. Coisa linda, porém, é camisola que dorme. Sim, aquela do guarda-roupa, bem acima, exibida, segregando todos os vestidos no seu Tô nem aí!
E é assim que ela nos guarnece a lembrança do amado corpo da mulher.
A camisola.
São várias as formas e em qualquer estação: de verão, camisola de inverno, há a camisola do mimo, dos seios, a camisola da cólica, camisola até pra irmã apostólica, que é a camisola do perdão.
Há muitas.
Camisola do Benfica, por exemplo, se diz em Portugal.
Mas preze mesmo a camisola rica, a seda, estilo oriental, já viu? Da magra, da graúda, a camisola da viúva?? Ah, como ainda casa bem!!!
A camisola pobre, por fim, também considero. E uma tarde, a pintei, fiz retalhos. E a camisola que eu fiz em frangalhos mostrava um bumbum.
Que, escrupuloso, em seguida tapei.
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