OBRA     AUTOR
         


Vitrola dos Ausentes
Clique aqui e leia um trecho.


Nova Edição



Clique aqui e leia.


DEMAIS LIVROS


Glaucha
Clique aqui e leia um trecho.



Iberê
Clique aqui e leia um trecho.




Valsa dos Aparados
Clique aqui e leia um trecho.




Missa para Kardec
Clique aqui e leia um trecho.



Quando cai a neve no Brasil
Clique aqui e leia um trecho.


Cozinha Gorda
Clique aqui e leia um trecho.


As luas que fisgam o peixe
Clique aqui e leia um trecho.

Coletâneas


Meia encarnada, dura de sangue
Clique aqui e leia um trecho.



Cem Menores Contos

Clique aqui e leia um trecho.



Contos Cruéis

Clique aqui e leia um trecho.



Contos do Novo Milênio

Clique aqui e leia um trecho.




 

sexta-feira, abril 21

Anatomia de um rosto

Eu vou plagiar o teu rosto na filha que vais me dar. Quero recopiar tuas pálpebras, lábios, pele, cada um de teus traços de expressão. E quero vazar de ti as formas, buscarei por rasuras a catarse, a tola ternura que te roubarei. Nítida, plena, filha, sonho que será viga, legado, o nosso esperado bebê.
Ao novo ser tudo de ti eu quero, contorno, traço severo, farei de teu colo o trono, o embalo do sonho sonhado que furtivo chegou. É o desdobro do que tive represado, reprimido, sempre alerta, por fim descoberta e pronta a explodir: berros do berço, terço no parto, pintarei o novinho quarto com o dom do dizer:
Amor de carne, louco! Amor singular, múltiplo, à mostra, eu lá sei de que forças este amor eu formei!!
É criança, veio vindo, veio. Amor, bochechudo, pleno e cheio na forma que tomou. É a gravidez assim que te precede. Sabes, mulher grávida, essa é a desrazão que se mede, é o tamanho desse ser.
Alvura, rosto, figura. Essa forma de anjo seja feita à sua mãe. Por isso, o plágio de ti. Por isso, mulher madura e feita um dia será. Para que outro também a sonhe, seus cheiros, suores, poros, todos os seus defeitos de humana ele também os verá.
A moça querida que crescer serás tu de novo. Será o amor repetido de agora na forma que o tempo passar.
Fala-se aqui na filha. Fala-se aqui na permanência do amor. Fala-se aqui na permanência latente de todo o homem querer ser pai. Quis não, o senhor, ter sua filha? Não quis vê-la também moça, educada sem prataria ou louça, sei lá?
Sabe-se, esse é o orgulho maior! Se for rainha, seja rainha feia aquele que contigo quero ter. Para que jamais a coroem, recopiem, pai sente ciúmes que nem sonhei.
Com um dedo indicador esse anjo criança me aponta. Tonto, sonso, burro, homem idiota, refaço em plágio o rosto teu. E escravo, piegas, ponto de fuga, sou um simples homem exposto ao chavão.
Mas o que devota, se devora, no berço jamais chora, porque fazer criança é da espécie, não tem segredo, fórmula, magia, é o homem seguindo o destino seu: viver, se reproduzir.