Uma prova de amor
Ela comia galinha, porque sabia que era justamente galinha, e era galinha e só.
Não tinha olfato.
Então, um dia, conheceu o seu homem. Um amor porrada, desses grandes, imensurável, amor regado a lágrimas e beijos bons.
Mas nem dessa lágrima soube o sal. Nem desses beijos sorveu o doce. Ela padecia ao sem-sabor desse bem que a vida lhe deu!
Um dia, foram ao mar. Juntos, pela primeira vez, foram ao mar. E essa mulher, essa mulher tão apaixonada pediu ao seu homem que lhe ajudasse a provar do mar. Queria saber o seu sabor...
Houve um espanto nele. Sentiu-se impotente, ignorante, um traste, um cara sonso, sem sal.
Não sabia como ajudá-la!!
Assim, enjoado, convidou-a ao mar. E brincaram, afundaram e sentiram o balanço e aquele medão que só no mar se tem.
Súbito, de uma onda (onda que a tragara antes), ela ressurgiu. E renasceu dessa onda então linda: parecia uma outra mulher. Era garça, fêmea, uma mulher parecendo muito mais madura aos seus 36!!!
Tão bela imagem!
Os cabelos em cachos. Os cabelos em cachos atirados às costas e uma curva descendo. Uma curva descendo pela espinha daquele corpo nu...
A espinha fazia de fato contornos até abaixo... digamos... até a sua nádega.
E esta mulher chacoalhava ainda os cabelos quando trouxe os dedos à boca. E bebeu o mar.
Esta mulher que trazia os dedos à boca bebia então o mar... E disse seu gosto, sim...
Ela disse: o mar tem o gosto que eu provo. E o mar tem um gosto de amor!
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