Mercado Nervoso
Compre-me porque eu faço que durmo, que não conheço, não passo de curiosidade pra você.
Compre-me, toque em mim, compre-me como se compra um artista, jogador de futebol.
Compre-me de coração, miúdos e tripas, me leve tudo inteira se dinheiro tiver.
Vamos, compre-me, me dê saúde nova, e eu vou ter UNIMED se comprada por você.
Compre-me, diga, “tenho filha diferente”; compre e me exiba como um troféu.
Compre-me, não fique com pena de mim!
Compre-me antes do teu derrame. Invente pra mim Sapatinha, me ensine a brincar.
Compre-me, é uma boa causa, é coisa moderna, sou canhota, peça publicitária, sou tevê, um esmalte, faça a papelada de mim.
Compre-me pra se acalmar. Compre-me, deixe o remorso, compre-me, leve-me, sou às centenas, aos milhares, aos bilhões.
Compre-me. Orgulhe-se, seja um bom maçom.
Compre-me e suborne uma alfândega do Brasil.
Compre-me, eu posso ir pra Suíça, sou baixo preço, o valor nem sei.
Compre-me porque um gordão do mercado já me comprou!
Trecho de texto que escrevi para a coletânea Contos Cruéis. O livro, organizado por Rinaldo Fernandes, será lançado pela Geração Editorial, na Bienal de São Paulo
Veja lista dos autores do livro
Leia entrevista com Rinaldo de Fernandes
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