O sotaque do amor
No Conservatório, pra se ter uma idéia, estudaram Frutuoso Araújo, Chicão e Edson Dutra, o embrião de Os Serranos. Calculem a importância se aquele troço continuasse. Pois bem, eu fui para as “Irmãs” nos 70, e vocês não podem saber o que era pisar pela primeira vez no pátio interno. Que eu saiba, o Colégio das Irmãs era o único do mundo com pereira no próprio pátio. Éramos quase 150 pirralhos lançados, por 15 minutos, num pátio carregado de pêras!
Fora o futebolzinho, claro, no pátio das freiras dávamos também os nossos primeiros tropeços na Terra. Estou falando das gurias, o nosso raio de luz. O legado que nos veio de Eva e que era novamente proibido em folhas de parreiras que também havia no pomar das Irmãs. Falo das aulas de Ciências, quando nos mostravam o corpo humano. O corpo humano nu. O ventre com suas camadas internas, beiços, pequenas e macias fibras, aquele contraste entre a cor rósea e arroxeada do “pontinho mínimo”, surpresa!, então ilustrado nos livros.
Ah, aulas de Ciências!! As freiras colocavam músicas nos recreios. (E tem uma bendita música que até hoje trago, que nunca sei a autoria, orquestra, em que disco... mas todos os santos dias, eu disse todos, eu assobio a grudenta música!)
Mas, voltando. No pátio acontecia o primeiro olhar entre macho e fêmea e o sotaque encabulado do amor que começava a despertar. O recreio nos aliviava daquela tensão das ciências e matemáticas iniciais, e valia mesmo cada minuto dos 15 de recreio. Daqueles intervalos trouxemos a apreensão da força fêmea, o que faz o homem gemer e chorar. Tímidas, encabuladas, quem já queria namorar? Onde andarão as nossas namoradas que nunca mais se viu?
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