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quarta-feira, novembro 25

Reflexão sobre as perdas

Raul Solnado, o humorista português que andou pelo Brasil na década de 70, era estimadíssimo em Portugal. Não o conheci pessoalmente. Mas, houve um episódio que acabou cruzando nossas vidas. Em 1985, ilhado em Lisboa, depois de uma malsucedida tentativa de estudos, eu precisava voltar. O jornalista Fernando Assis Pacheco então teve a ideia. Ia passar uma lista entre os amigos, pedindo ajuda para a compra da passagem. Vi a lista. Um dos primeiros a assinar foi o Solnado.
Pois bem, o Raul Solnado morreu em 8 de agosto. Só fui descobrir, sem querer, numa crônica online da revista Bravo. O Brasil ignorou a notícia de sua morte. Três meses depois, lamentei. E fui para a Internet matar saudades. Ali está o Raul e seu humor. Confiram A Guerra de 1908. Como dizem os portugueses, é o seu momento “místico”.
O meu segundo lamento é por D. Anita Piazza, a minha primeira professora. D. Anita faleceu em outubro. Acaba que fiquei lhe devendo uma visita e D. Anita, que eu havia falado um ano antes, pensava em deixar Bom Jesus. Queria ficar com os filhos em Araranguá. Escrevi então naquela crônica.
“Se D. Anita mudar do Bonja, Bom Jesus ficará ainda mais vago. Mas, fará bem ir para perto dos seus, do carinho dos netos”. E a perdemos. Repousa em Araranguá.
Agora, a morte do Maurício Moraes. Em quase 20 anos do curso de Jornalismo da UCS, foi a mais inesperada experiência que compartilhamos. E nenhum dos colegas ainda assimilou.
O fato é que, conviver com as perdas expõe, sobretudo, a nossa fragilidade, como a vida é tênue, e que nem sempre nos damos conta. Um comediante distante, a primeira professora, a morte de um colega de trabalho produz em nós a sensação do mesmo pesar e uma clara reflexão: o nosso destino comum.
E mais não sabemos. Não há como dar conta disso numa crônica, se nem toda a Filosofia sobre isso concluiu.

***
Saiu o resultado do Financiarte e tive um projeto aprovado. Trata­-se de um romance cuja segunda parte foi escrita em forma de palíndromo, isto é, para ser lida ao contrário (de baixo para cima, da direita para a esquerda). Dificilmente conseguiria editora para tal tipo de obra. E o Financiarte também contempla as nossas experiências formais.

Crônica no Pioneiro de hoje.

quarta-feira, novembro 18

Dois papagaios e uma troca de ideias

A nossa ignorância é essencial para matar o tempo. O Tom Jobim, por exemplo, ia lá pro Ary Barroso pra falar de futebol. Sartre pedia que Simone lesse os jornais em voz alta, aguardavam o almoço assim. Tom e Sartre aprendiam. E eu inventei, por eles, uma forma de também me instruir. Passo as horas no Youtube ouvindo músicas que nunca escutei. De Tim Maia, descobri Rodesia, que é genial. Porque é proibido pisar na grama (assim, sem o por que separado), uma maravilha do Jorge Ben.
O Tom era bom. Era um cara cheio de talento e descobri agora uma certa Two Kites (Dois papagaios), canção que parece pássaro, asa-delta, ave voando pela paisagem do Rio. É cheia de uns “lalalalas” que as irmãs do N. S. de Fátima bem poderiam ter feito pro Tom aquele coral. As irmãs nem sabem o que perderam! Podiam ter saído de Bom Jesus e cantado no Rio. Com o Tom Jobim. É. Poderiam fazer o coro pra ele. Mas, enfim, religião.
E sonhos. O Florizeu sonhava ser palhaço. Um dia, o circo passou no Bonja e o Florizeu desapareceu. Sumiu da cidade para ser palhaço. Inicialmente, devia tratar os leões. Levar a carne e lavar com sabão os tabuões da jaula. Depois de deixar as jaulas bem confortáveis o Florizeu ia treinar para ser palhaço.
Era um sonho. Para que mais da vida? Devia pensar também assim a irmã Inocência, a irmã Dulce, todas as irmãs da congregação. É que a gente acredita em cada coisa. Vejam vocês:
Antes, eu achava que o Chico era muito melhor que o Caetano. Por muitos anos, achei. Agora, eu acho o Tom muito melhor que os dois. (Mas antes eu também achava o Simon & Garfunkel os grandes bambambãs. Tinha uma canção deles que falava de sálvia, salsa e tomilho, sei lá, sou ruim de inglês). Ah, a nossa formação. Talvez só o Sá e Guarabira eu tenha acertado.
Em resumo: da súmula dos nossos achismos de formação sobra pouco. Antes, eu achava San-Ju o clássico dos clássicos. Não tinha Glória e Brasil pra bater na região. (Parêntese rápido. Havia uma mania no Bonja, que era discutir quem foi melhor: Chumbão, Jorginho ou Marreco? Pela “noção de espaço”, pelo posicionamento na área — olha a influência do Lauro Quadros aí —, eu “achava” o Marreco o melhor zagueiro que vi jogar).
Mas, o que quero dizer, não é que o meu alcance mental estivesse limitado à Vacaria e Bom Jesus. Não, antes eu também, como disse, achava o Guarabira legal, a Rita Lee logo depois.
O problema era a falta de tempo. Justamente. Depois o tempo vem, há a troca de ideias ­— e a gente pega certa experiência aí.

Crônica no Pioneiro de hoje.

quarta-feira, novembro 11

A intimidade das sacadas

Quando você tem uma sacada, uma frase que diz tudo e ainda de quebra traz algum humor, é o que se chama aforismo. É quando, em poucas palavras, você dá a moral de uma história. É aquela chispa de sabedoria e que estabelece uma plena sintonia entre as partes, o autor e o seu ouvinte, ou leitor, que seja. Requer certo senso de humor, eu friso. Por exemplo, este aforismo do mestre do gênero em nosso meio, Nelson Rodrigues.
A pior forma de solidão é a companhia de um paulista.
A constatação de Nelson rendeu muita polêmica, e ele acabou tergiversando e dizendo que, na verdade, ao invés de paulistas, quis dizer o Vinicius de Moraes, hehe.
Próximo de nós, faz muito tempo, um espirituoso advogado soltou esta:
Caxias pensa que é São Paulo, mas não passa de Ana Rech.
Percebam o duplo sentido do “passa” na sociológica sentença.
E nossa literatura, que sempre se quis independente. Leandro Sarmatz foi na veia.
A literatura gaúcha olha tanto para trás, que sofre de torcicolo.
É do gênio de Nietzsche este: “Deus está morto!”, então valeria tudo, quer dizer, a crença em outros valores. Aforismos, como se vê, são definitivos. E a construção tem proliferado no twitter, onde encontrou o seu ponto ideal, dado ao limite de 140 caracteres (Carpinejar, que está lançando seu “livro do twitter”, acrescenta aí epitáfios).
Mas, aforismo, no fundo, é um gênero difícil. Talvez, por isso, se apresente em muitas variantes. Tenho uma porção de aforismos escritos e, por conta e risco, me encorajo mostrar uns cinco deles aqui. Vejam:
Se a mentira tem as pernas curtas, a fadiga é que inventou a política.
Mais este:
Se o papel certifica o aborto. É o testamento de quem nunca nasce.
E este:
Anestesia é um sonâmbulo com preguiça.
E mais um, para os perseguidos pelas boas oportunidades e que as renegam.
Eu rasgo dinheiro porque é o que sempre está mais próximo.
E para o artista que faz música fácil, só visando a venda.
Deitado no dinheiro, o músico perdeu a nota.
Por fim, este, num outro estilo, com título e tudo:
A intimidade do Pop
A Beyoncé, decerto por Britney, mão em concha no seio trazia.
Rihanna sem causa, all right, Madonna!, cada lábio é a coisa mais sexo.
Crônica no Pioneiro de hoje.

quarta-feira, novembro 4

700 crônicas no Pioneiro

Coincidiu o aniversário do Pioneiro com o dia da crônica e isso me levou a refletir como a minha vida, nos últimos anos, está mais ou menos exposta aqui no jornal. Começa que, por aqui, dei a público a agonia de minha mãe no Hospital Pompéia. Também foi aqui, neste canto de página, que depois narrei a nossa volta para Bom Jesus, numa madrugada de neve, pela Rota do Sol, ela morta às minhas costas.
Houve também momentos de puro acaso. Quando por aqui escrevi que nunca havia encontrado o pai, exceção ao único encontro quando eu tinha 5 anos, minha mãe (que era analfabeta, mas as amigas leram a crônica) me contou que há um mês meu pai havia morrido. E me presenteou com uma foto, ele e o seu velho caminhão. Escrevi então Em nome do pai, que acabou vencendo naquele ano, 1996, o Prêmio Ari de Jornalismo.
Ah, mas há também os momentos de alegria, como a divulgação por aqui da minha escolha como Patrono da Feira do Livro, em 2007. Costumo dizer que devo a Caxias apenas isso: escrevi aqui oito dos meus 10 livros. Serei sempre grato por ter encontrado aqui condições para produzir esses textos.
Por outro lado, houve momentos em que me senti emocionado pelas matérias que li e que me eram próximas. Primeiro, aquele tufão que varreu o meu Bonja e que teve no Pioneiro reportagem completa. Ainda tenho na memória as imagens dos meus conterrâneos em meio aos escombros. Também me deixou marcado a morte do Tio Leo, o Leonardo Silveira, nosso jovem vice-prefeito naquela tragédia do banco.
Ruas, pessoas, tragédias. Uma foto de um pai saindo com a filhinha morta de uma tempestade em Antônio Prado. O pai segurando a mão da filha assassinada em Flores da Cunha. Estes flagrantes ficaram. Mas, houve alegrias. Como esquecer as carreatas pelo título do Caxias em cima do Grêmio do Ronaldinho? E a grande explosão da papada com o título da Copa do Brasil, merecida conquista do Valmir Louruz, um cara gente boa e amigo.
Temos bons políticos. Por aqui, acompanho com simpatia o Alceu Barbosa Velho, com quem trabalhei no Bonja, na sua eleição duas vezes como vice e assumindo responsabilidades. E entendi muito bem a alegria do Pepe, lhe acenei como incentivo na sua eleição para prefeito. Queira-se ou não, a eleição do Pepe é um marco nas relações políticas da cidade. Caxias nunca mais seria a mesma, hoje se constata pelo empenho do Sartori.
Como se vê, daria para citar muitos outros fatos que o Pioneiro publicou e que me envolveram nos últimos tempos. Sim, são 15 anos de Coluna. E, descubro, dos colunistas (na ativa direto nestes 15 anos, umas 700 crônicas) já sou o mais antigo. Caramba!
Crônica no Pioneiro de hoje.