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terça-feira, junho 23

Peixes fritos e diploma

A decisão do Superior Tribunal Federal (STF), que extinguiu a obrigatoriedade do diploma para o exercício do Jornalismo (e misturou cozinha com redação, peixes fritos com ética) é de última instância e sobrou para nós os protestos. E é preciso que eles sejam consistentes. Escritor, como os românticos de outros tempos, poderia evocar aqui o direito de “ser jornalista” por gostar do hábito da escrita. Bobagem. Hoje, a sociedade, a clientela quer alguém habilitado, com formação específica, técnica e eticamente preparado para o exercício da atividade jornalística.
Talvez seja válido também recordar aos ministros que liberdade de expressão não é o mesmo que liberdade de informação, que é o que distingue a prática do Jornalismo do direito que a Constituição assegura a todo o cidadão.
Mas, por outro ângulo, até que é em boa hora a decisão do Tribunal que gerou esta onda de protestos. A profissão de jornalista, até aqui, era regulada por um decreto-lei do tempo da ditadura, normatizada por um ato da Junta Militar. Era uma forma de “cassar” jornalistas sem canudo que se manifestassem contra o regime instalado.
Mas, os tempos mudaram. As formas de comunicação evoluíram, as ferramentas do jornalismo se tornaram tão específicas, que a obrigatoriedade de uma formação universitária é uma realidade imposta pelo mercado. E não só: o compromisso social do jornalismo, as balizas éticas da profissão, a indispensável formação humanística, inerente à atividade, só se adquire mesmo na Universidade.
Portanto, somado aos nossos protestos de agora, o que se precisa é um Projeto de Lei no Congresso Nacional, que regulamente e normatize a profissão dos Jornalistas, bem como a criação de órgãos que os fiscalize. É o momento, quem sabe, de se encaminhar a criação de um Conselho de Imprensa, instituição que serviria para acompanhar os atos dos profissionais diplomados no exercício de uma profissão que lida com questão tão delicada como a Informação.
Como se vê, “liberar geral” o jornalismo é uma situação intrincada, perigosa, pois uma notícia, uma opinião pode ser usada para favorecer grupos econômicos, políticos, corporativos, e fugir da sua função principal que é o compromisso com a verdade e a responsabilidade social. A reconquista de nosso diploma começa agora, com a nossa voz no Congresso, em Brasília.
Jornal Pioneiro de amanhã.

terça-feira, junho 16

O fazedor de livros

Nunca conversei com frei Rovílio Costa, mas sempre o admirei à distância. A vez que estivemos mais próximos foi no Cais de Porto Alegre, na abertura da feira do livro da qual foi patrono. O que mais ouvi naquele final de tarde mormacento foi: “muito merecido!”. Eram unânimes. Ali estava um homem dos livros.
Frei Rovílio editou centenas de obras com a sua EST (editora da Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brides). Admirava a sua coragem em editar aqueles volumes de quase mil páginas com assuntos que as editoras comerciais jamais publicariam. Confesso, porém, me incomodava a rusticidade dos livros, sem costura, que davam a se despregar tão logo se manuseasse.
Frei Rovílio foi um fazedor de livros. Devo a este capuchinho muito do apego à história de Bom Jesus. Em 1977, em parceria com a UCS, ele publicava Bom Jesus Histórias de uma Cidade. Depois, em 1981, Bom Jesus, Duas épocas. Estes dois livros, do médico Ennio Farias de Abreu e sua esposa, a historiadora Marisa Abreu, sempre serviram de referência para os textos que escrevi sobre o meu Bonja.
São apenas dois exemplos do trabalho de Rovílio próximo a nós. Poderia também citar Vacaria dos Pinhais, de Fidélis Dalcin Barbosa, também editado por ele. Mas, o fato é que Rovílio foi o grande incentivador das pesquisas sobre a imigração italiana em nosso meio. Arquitetura, política, economia, música, o que se relacionasse aos gringos interessava ao capuchinho. E não só. É edição dele, por exemplo, o fundamental Os Capuchinhos do Rio Grande do Sul (nos 100 anos de chegada), de sua autoria em parceria com o meu conterrâneo Luis Alberto De Boni.
Cartas de Alforia de Porto Alegre, sobre a libertação dos escravos na capital, também teve a sua edição. Livros do nosso Mario Gardelin. Frei Rovílio prestigiava toda a área da cultura e seus mais diversos autores.
Quem se interessaria em publicar livros sobre tropeirismo?? Pois bem, ele publicava. E aqui, um ponto de convergência de minha trajetória com este frei que jamais encontrei. Dividi com ele as “orelhas” de apresentação de Bom Jesus na Rota do tropeirismo no Cone Sul, organizado por Lucila Sgarbi Santos e Véra Maciel Barroso. Falei ali de nosso primeiro romancista serrano e do Honeyde Bertussi construtor de bruacas. Percebo agora o privilégio de estar ao lado deste generoso frei, que agora perdemos e nos deixa tão bonito legado.

Crônica para o Pioneiro de amanhã.

quarta-feira, junho 10

Caros amigos

José Arbex Jr. pode ser visto como aquela figura que ainda simboliza o jornalista: testemunha ocular da História. De fato, como repórter da Folha de S. Paulo, Arbex cobriu os acontecimentos mais relevantes que fecharam o século passado. Acompanhou a convulsão social do Haiti, a Revolução Sandinista na Nicarágua, viu de perto o Muro de Berlim ruir e privou da companhia de figuras como Yasser Arafat, o líder da OLP, e Mikhail Gorbatchov. Acompanhou, portanto, mudanças fundamentais, como a Abertura da União Soviética, e tem Gorbatchov mesmo como um dos personagens mais importantes de nosso tempo.
Arbex é um dos integrantes também de uma “revolução” que transformou a Folha de S. Paulo no maior jornal do país, a partir de 1985. Junto com figuras como Otavio Frias Filho, Matinas Suzuki Jr. e Carlos Eduardo Lins da Silva, modernizaram a Folha e oxigenaram a forma de fazer jornalismo no Brasil. Daqueles dias, Arbex tem boas lembranças da presença de Paulo Francis (boa gente, boa figura, distante da arrogância que enchia a página do jornal). Conviveram em Nova Iorque ao tempo de Arbex correspondente.
O projeto Folha, inovador, interessante até mesmo do ponto de vista ideológico, logo se transformou também no comum da grande mídia: rápido, ágil e vinculado às normas do mercado. Arbex se desiludiu com esta prática e enveredou por um jornalismo mais interpretativo, alternativo, de preocupação social. E foi ser editor especial da revista Caros amigos, dirigida então por Sérgio de Souza.
A partir daí, Arbex passou a dividir sua atividade jornalística com as aulas na PUC de São Paulo. Aproximou mais do que nunca o Jornalismo da História, e se filiou ainda mais radicalmente entre aqueles que ainda acreditam que a notícia deve ter o seu contexto.
A notícia não deve ficar na simples aparência dos fatos, na rapidez dos acontecimentos, não pode ser simulacro daquilo que se testemunhou. Isto, para Arbex, seria o “showrnalismo”, termo que cunhou para título do seu livro que interpreta a notícia como espetáculo.
Esta experiência e postura profissional é que Arbex veio dividir com os alunos da UCS na Semana da Comunicação. A necessidade de saber dosar informação com a busca da essência dos fatos. A notícia que contextualiza e, principalmente, a notícia que atende ao apelo social daqueles que a protagonizam.
Crônica no Pioneiro de hoje.

terça-feira, junho 2

Os espíritas e a neve

O ano que antecedeu a maior neve da história de Bom Jesus foi marcado pela cassação do padre Vitorino, afastado por ter comprado uma camionete sem a autorização do bispo D. Cândido Maria. Frei Valério de Parai então assumiu a paróquia, que tinha ainda por finalizar, por dentro e por fora, as pinturas da igreja. Buscaram então pra empreitada um Emílio Zanon de Caxias.
Começava com um bom trabalho aquele 1957. Além da pintura, havia toda a instalação elétrica, e três carrilhões seriam elevados para avisar a hora das missas. Como se percebe, a Igreja estava bem disposta naquela época.
O espiritismo era forte em Bom Jesus. A escola formada pelos seguidores de Kardec ia muito bem, atendendo até mesmo aos filhos de católicos. Tinha sido idealizada, entre outros, por Francisco Spinelli, incentivador das “Escolinhas de Evangelização” e líder espírita do Bonja. Assim, se pode perceber como uma contrapartida da igreja toda aquela ação: ainda em 1957 inaugurariam duas novas escolas. A Escola Paroquial Frei Geraldo, que atenderia aos mais pobres; e a Escola N. Sra. de Fátima, sob o comando das irmãs franciscanas.
Irmã Branca assumiria em outubro mesmo a escola e também, bem em frente, foi lançada a primeira pedra da nova Hidráulica.
Antes, porém, em julho, mais exatamente no dia 20, a grande “surpresa”. O município amanheceu coberto de neve. A maior da história. A Praça Rio Branco, ainda com o seu coreto (na verdade, o “coreto” era o reservatório de distribuição de água instalado no ponto mais alto da cidade) acumulou neve próximo a 1, 50 m. Era mesmo a maior já vista. Em certos lugares, durando quase 6 dias, matou por jejum e frio parte de todo o rebanho. E parte da cobertura da igreja, ainda cercada de andaimes, também desabou com o peso.
Quase nada. Como os padres estavam a trabalho, em agosto Bom Jesus já pode dar vivas à sua igreja pintada. Em setembro, seria a grande consagração da matriz, porque era em frente à igreja que haveria o Desfile da Pátria. Mas a “parada” foi cancelada pelo surto de “gripe asiática” que assustava “povo reunido”.
Foi mesmo um ano marcante. A igreja fincava os alicerces que intimidaria qualquer avanço do espiritismo de Francisco Spinelli. Morto dois anos antes da grande neve, Spinelli hoje dá nome a livrarias instaladas nos Centros Espíritas de todo o estado.
Texto de amanhã no Pioneiro.