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terça-feira, maio 26

Bom Jesus acontecido

Vai acontecer uma cidadezinha na serra, os meses de inverno, um fato, a neve e o rigor que tem. Vai acontecer então um parir, a reprodução da espécie, de pertencer a Bom Jesus. Vai acontecer católico ou espírita, água em cacimba, a semente mais rica, vinculados à vaca e ao boi.
E vai acontecer o nosso maior defeito: lembrar. Todas as virtudes, as coisas vindo ao contrário, a mais furiosa emoção. Leão, puma, um pouco de lenda, as mais prestigiadas fazendas, que era mato e muito capão.
Vai acontecer de essa tábua sair embora. De saber das nossas faltas, bailes, lorotas, a boa mentira, Agripina em procissão.
E vai acontecer um primeiro amor. Um amor da juventude, único, aquele pra sempre, Alma do Bonja em diversão.
Ahhá, meu Bom Jesus! Dos Ramos, do Góte, de Vergílio e Vergilina, Higino e Pelinzer. Ao Juventude, ao Santa Cruz. Submeta este Bom Jesus ao teatro, à toda leitura grotesca, aos românticos alemães. E a todos os ironistas, e a todos os piadistas, aos bêbados!, aos bêbados, sim! Vai acontecer de um filho sair aos seus.
E acontecerá então o quê? O nada? Ou o que dizem carinho num gesto de mão? Acontecerão quais sintomas de amor por Bom Jesus?
Uma rosa que nasça no Bonja é bonita. Também há um sino emborcado que badala ao nosso céu. Dai a coerência a este teu filho.
Vai acontecer o que se diz? O que se teme? Ou vai acontecer no cinema, tanto faz. Vai acontecer Bom Jesus outra vez?
Talvez aconteça na sutileza de cada voz na criação. Ao contrário também. Na prontidão dos passos que os personagens dão pra trás. Para trás! Os decaídos se fazem melhor. Vivam os nossos que caíram, por que não?!
O que vai acontecer às esquinas? Diziam ser retas. Onde? Qual? As ruas do Bonja, as suas vielas, em que Europa irei rever?
Quem cuida de nossos túmulos é o Azul pintor. O túmulo de minha mãe. A Banda Municipal que morreu. A sonata que se foi... a saudade, aqui e ali.
Bom Jesus é a definição da vida. Ah, e a vida, rápida demais.
Crônica de amanhã no Pioneiro.

sábado, maio 23

Trecho de O tal Eros só. Osso relato. (Leia ao contrário)

Até o pomo come à grega. A paródia de atino, baço. Matuta. A! nutro fatia baixa. O gênero, sexo, a saca de sopa após é da casa.
Aura da rua. Hálito. Ar. A pesar cirrose. A Eva, Gina. É Melo, tua é sopa.
Acaba beleza, o dote de prata, e sorri com Alá.
Álamo.
Cirrose?
Atar pé de todo.
A!, zele, babaca. Após é auto, leme. Ani Gávea.
E sorri crase para o til.
Ah!
Aura da rua: a saca de sopa após é da casa.
Ôxe, sô, renego!
Axi, a baita fortuna?
A Tuta, moça bonita e, daí, do rapá.
À grega. Emo. Como poeta.

quarta-feira, maio 20

Autocrítica bonjesuense

Em 1969, Bom Jesus promoveu o Festival Nacional de Teatro Estudantil. Era uma extensão do trabalho em salas de aula do então Ginásio N. Sra. das Graças. Dois anos antes, as irmãs Belan, Milton Baggio e Frei Getúlio lançaram uma espécie de “ensino integrado”, que abrangia todas as séries a partir de encenações teatrais. Foi o embrião da excelente montagem de Morte e Vida Severina, que despertou o interesse de gente como Pascoal Carlos Magno, então um dos mais conceituados homens de teatro do Brasil, ele mesmo idealizador do Teatro Estudantil.
Mais do que integrar as disciplinas de todas as séries do Ginásio — ideia, aliás, que 40 anos depois a UCS idealiza implantar — aquele movimento era o embrião do que poderia ser Bom Jesus. Com a morte de Frei Getúlio, e outra série de futricas que sempre rolam nos bastidores, aquele estupendo projeto esvaziou. Morreu, mas se pode tirar dele alguma reflexão.
Era, sem dúvida, uma fonte de lideranças que poderiam pensar e administrar a cidade. Uma espécie de oficina para a formação de futuros dirigentes. E coincidiu, para azar de Bom Jesus, com a reta final na extração da madeira, cujo reflorestamento não foi seguido, e que exauriu a principal fonte de renda do município.
Mesmo que a tão pregada integração do Ginásio apenas ensaiasse alcançar o restante da comunidade, o que se viu dali em diante foi que Bom Jesus se perdeu numa divisão política proporcional à cabeça de seus líderes. Primeiro sintoma: a saída dos capuchinhos e o consequente esvaziamento do prestígio cultural nas decisões.
E ainda não era tudo. A emancipação de São José dos Ausentes foi um baque, pois praticamente ficou com o Turismo, o grande filão a ser ainda explorado. E, por fim, a “crise” da agropecuária, como se as pessoas deixassem de comer.
Precisava-se então pensar bem Bom Jesus. Mas, a partir de lá o que temos são administrações divididas por rusgas que não ultrapassam a folha de pagamento, já que a prefeitura é a maior “empresa” daqueles lados.
O que falta em Bom Jesus é uma “ação integrada” que alavanque iniciativas na área, sim, da agricultura diversificada e da pecuária. Mas, para isso, é preciso que se tenha articulação e boa capacidade de buscar investimentos. É preciso retomar as lições daquelas aulas do Ginásio. Mas, nem míseros 8 quilômetros de asfalto se consegue.
Crônica de hoje no Pioneiro. (Na foto, Aparados da Serra, que ficou com São José dos Ausentes).

sábado, maio 16

O rumo de Eros (Leia ao contrário. De baixo pra cima)

O tal Eros só. O rumo? Alegrete. À terra à barba e bota.
À la bruta! Helenão de Deus.
Epa!, a loba?
A aranha cobaia.
Ô, sua cá...
Epa! Só passo. Abóbora-céu, o Danha lá.
Olha. Terá Deus e traído?
Só da riso. À bruta. Ladrão a cavalo. Late o lave Maria cheia de graxa tá.
Oba! Íde! Ave! E vá! É Diabo. A taxar Ge, daí, hé, caíram e valo e tal.
Olá, vaca! (O arda La turba. Os irados).
O dia três?
Ué! Dá retalho.
Alanhado.
Ué!, caro. Boba, os sapos a pé? Acauso?
Aí abocanhara. A bola a pé, seu dedo, anel... eh!... A turba lá. Ato Bê, abra bá!, arreta.
Éter gela. O muro. Osso relato.

terça-feira, maio 12

Vidas paralelas

O criador, em literatura, música, artes plásticas, qualquer área, quando sente que “acertou” dá um urro. Um Olé!, como talvez tenha bradado Hemingway depois de reescrever por mais de 30 vezes as últimas páginas de Adeus às Armas.
Certa vez, Guignard disse a Iberê: quando o quadro “fizer” um som, está pronto.
Para aquele que não lida com arte, parece conversa de maluco. Mas ocorre mesmo uma espécie de vida paralela quando se acerta numa busca. É algo (vou carregar talvez de misticismo a expressão) sobrenatural, indescritível mesmo. A sensação de um bom estranhamento diante da Nova Realidade que se tem então como produto artístico.
O urro, o Olé, o Brummm! que um quadro faça, na verdade nada mais é do que a volta do artista mergulhado num outro mundo. Pejorativamente, chamam a esses criadores que “saem da real” de Poetas. Mas não há nada de pejorativo. Cabe aos criadores, muito mais agora neste mundo virtual em que estamos submersos, esta saída de cena. É aí que se dá a criação. A criação autêntica, diga-se. É um mergulho mesmo, é o confronto com forças que não se encontram aí na igreja ou nos shoppings.
Trata-se de uma outra natureza de percepção. Trata-se de um instante sobre-humano, muito mais do que se adquirir o primeiro carro ou aquele apartamento.
Iberê, por exemplo, para alcançar isto, conjugava no seu processo criativo a tensão do talento com a reflexão sobre o mundo. Essa conjugação fica evidente principalmente na sua trajetória final, os anos 90. Pressentindo o seu fim, Iberê, cada vez mais isolado, acirrará este ajustar de contas com as “forças estranhas” que regiam a sua arte, e levará ao extremo esse apostar com o absurdo, o que resultará, entre outros aspectos, na deformação do modelo — como se vê radicalmente nas telas do período.
Nesse jogo, nesse mergulho que sempre empreendera com o “poço encantado que transforma as coisas” (a frase retirei de um dos seus contos do livro No andar do tempo), Iberê deixava a descoberto toda a sua essência (a essência do verdadeiro criador): o jogo com a angústia de viver resumia-se, ali, num jogo com a própria morte. Ao lançar-se a isso, Iberê Camargo encerrava uma experiência artística das mais fecundas do século passado. Talvez insuperável em nosso horizonte.

Texto para o Pioneiro de amanhã. A tela é Pintor e Manequim, de Iberê.

sábado, maio 9

Osso relato (O tal Eros só). Leia de baixo pra cima.

Ramo? Novo Ano? A vida. O milagre.
E vamos, ô, canoa rota!, Alet meu amoxim.
Ama careza o tal Eros só.
Em olho, olho-me.
Só.
Par?
A! leva, Odana. Cira, acolham o cesse desse “esse”.
O Gago. A ti a boataria.
A.R. Bacametra. Arrazoados.
Mas, né, pela folha ocorre. Erro. Coalho (fale!) pensam...
Sodão, Zarra.
Arte macabra, a ira tão baita, o Gago. Esse “esse” desse com alho cá!
Ari Canado a velar após... Em olho, olho-me.
Osso relato, a zera cama. Mixo, mau em tela, à tora, o naco:
som, ave, erga! Limo a diva.
Ô, não vô no mar!

quarta-feira, maio 6

Jornaleiro da ZH

Jornaleiro em Bom Jesus — nem pensava em ser jornalista — lembro de uma das manchetes: Morreu Mao. A chamada se referia ao líder do Partido Comunista Chinês, Mao Tse-Tung, que protagonizara a Grande Marcha em 1934, e estava no poder desde os anos 40. Pirralho, eu tentava alcançar a dimensão daquela manchete que estava na capa de Zero Hora em 10 de setembro de 1976.
Zero Hora, então com 12 anos, disputava espaço com a Folha da Manhã e Folha da Tarde, os tablóides da Caldas Junior. Portanto, agora percebo, participei da migração dos leitores das folhas e do Correio do Povo para Zero Hora. Lembro que o Tio Véio, Otílio Córdova (meu tio de criação), trabalhava em Porto Alegre com o criminalista Eloar Guazzeli. Quando ia a Bom Jesus, Tio Véio preferia comprar Zero Hora.
Tenho bem marcado quando o Carlos Nobre (com o seu humor diário e as mulheres seminuas) saiu da Folha da Tarde para a última página de ZH, o que alavancou muito a leitura. Mas, para aquele menino que se interessava por notícias, 1974 talvez traga a lembrança mais forte. Foi quando aconteceu a famosa Corrida de Gatos. Não esqueci um nome estampado em Zero Hora: Palmira Gobi. Era uma severa defensora dos animais e condenava com todas as letras a iniciativa dos meus conterrâneos, que foi bater até no Fantástico da Rede Globo.
Acompanhei por Zero Hora a avalanche colorada nos anos 70, com aquele timão que formaram. E o jornal então já se firmara mesmo e ficou para preencher o vácuo da falência da Caldas Junior.
Anos depois, jornalista formado, fui trabalhar numa das tantas iniciativas de concorrência aos Sirotsky. Chamava-se Diário do Sul. Na primeira semana, “setorista do Inter”, descobri que Gilberto Medeiros concordava com Raul Régis, e aceitava a indicação do Grêmio para o árbitro do Grenal. Paulo Sant’Anna, que ainda escrevia sobre futebol, (em meu terceiro dia de Diário) dedicou espaço na sua coluna para enaltecer “o furo” do concorrente.
Em seguida, lancei Glaucha, o primeiro livro, e tive impulso de Zero Hora, com matéria do Juremir Machado da Silva. Quando saiu Vitrola, igualmente recebi apoio, e também em ZH tive a “polêmica dos 3 meses” com o Diogo Mainardi (este mesmo da Veja), trocando farpas sobre a representação dos pobres na literatura.
Depois, colaborador do Pioneiro, deixei de mandar textos para o Segundo Caderno. Mas já era uma boa relação para quem vendia o jornal pelos bares do Bonja.
Texto de hoje no Pioneiro. Na foto, o grande Carlos Nobre.

sábado, maio 2

O pesadelo de Eros (É um palíndromo. Leia ao contrário. De baixo para cima)


O Dia. Crimes:
Ô, Leda, se “pograma”. Ô, Ane! Ó, se cela falasse!
Sós. Só. Doninha.
Irene ri. À rua, ladeira, a cidade das Amélias.
Ô, Sodoma!
Ane, possamos amar tu!
E o Deus só relato: o São Mateus, a mãe, Ariet soberba.
“Água-se e sauga”.
Ãn?
Ou: “Lenha-se!”
“Aluguem”. Eu li lá grande.
Ednar. Galileu. Meu! Gula.
És? Ãh?!
Nê Luona.
“Água-se e sauga”.
“Abre bosteira”. E ama. Sue, tá, moa só o tal Eros.
Sue. Doeu?
Trama somas, só pena, amô do só.
Sai, lema! Sade dá dica. Ari, Êda, Laura. Irene ri.
Ah, nino dos sós!
Essa lá falece só. E não?
Amargo pesadelo. Sem ir. Caído.