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quarta-feira, janeiro 28

A milagreira dos Ausentes

Eu não conheço Maria Elizabeth de Oliveira. Descobri que há um livro sobre ela e agora ando à cata para ver o que andou relatando. Quem é Maria Elizabeth e por que esta curiosidade? Ora, parece que Maria Elizabeth operou alguns milagres em São José dos Ausentes.
Eu até respeito este tema, mas não costumo ler relatos de caráter sensitivo. Desta vez, porém, me interessei, porque o milagre de Maria Elizabeth tem a ver com uma bonita história de amor.
Há tempo, em 1978, tentando apartar uma briga num baile do Salão Paroquial dos Ausentes, foi morto um jovem músico. A viúva, também muito jovem, ficou inconformada. E, junto com a sogra, procurou então a nossa Maria Elizabeth (pelo que deduzo, devia ser sensitiva).
A viúva e a mãe do jovem pediram à Elizabeth um sinal, uma manifestação que indicasse a salvação do músico. E, na volta da missa de sétimo dia, ao chegarem à fazenda onde residiam, encontraram sobre o sofá um arranjo de flores e uma foto do músico com a namorada, foto que estava em uma gaveta.
Desejando uma confirmação que as flores eram “o pedido”, a viúva solicitou outro sinal. Montou a cavalo e saiu andando pelo campo. Depois de muito andar, bem adiante, onde ninguém poderia ter passado, ela encontrou na grama uma rosa vermelha recém-colhida.
Não precisa mais para que se perceba aí uma profunda história de amor.
Descobri este relato num texto de Fidélis Dalcin Barbosa. Só que, “os pormenores”, ele indica que se procure na biografia de Elizabeth. E daí a minha curiosidade. Teria ela outros milagres descrito?
***
E 2009 está nos dando baixas, o que deixa Bom Jesus muito triste. Agora perdemos Paulo Francisco Collaço Saraiva. Odontólogo, nascido em São Borja, mas que dedicou sua vida inteira a Bom Jesus. Por muitos anos foi um excelente professor na Universidade de Passo Fundo. Enfrentava as piores condições da BR 285 com seu fusquinha, e toda semana lá ia o Mestre.
Devo ao Saraiva, em certo ano, impulso para os estudos por conta do Material de Aula do seu Lions. Meus dois primeiros livros foram de sua biblioteca. Por coincidência, Prisioneiro da Montanha, outro texto do Fidélis, era um deles.
À D. Eni e aos filhos a minha lembrança.
Crônica desta quarta no Pioneiro.

quarta-feira, janeiro 21

O Bertussi só assistiu

É falar em rodeio em Caxias que já se ouve alguma d’Os Bertussi. Isto é o que se chama “estilo”. Quando uma obra vira referência, plena identificação. Lembrei disso agora e a ironia de como a dupla começou. Os Bertussi são um caso de saúde, deixa eu contar.
No segundo aniversário da Rádio Caxias, em 1948, no cinema Guarany se apresentavam vários artistas. Honeyde assistia da plateia. Embora já conhecido como tocador de bailes (e com um programa na própria rádio), não tinha a “estatura” ainda para fazer parte das atrações. Um reflexo do preconceito com a música gaúcha, que não era valorizada. Em Caxias, Honeyde era o único que divulgava o gênero no rádio.
No mesmo ano o programa Cancioneiro das Coxilhas foi suspenso. Honeyde teve problemas de saúde. Com a doença, Adelar acabou assumindo os compromissos do irmão. Tocou bailes, festas com a ajuda do violonista e também gaiteiro Zequinha Silva.
Adelar tinha apenas 15 anos. Honeyde nem sonhava que, às escondidas, na sua própria Todeschinni, Adelar já vinha ensaiando. Foi difícil, no entanto, vencer a resistência da mãe. Aquele guri não podia com o peso da gaita!
Mas, Honeyde gostou. Mais ou menos no seu esquema, repetindo as canções noite adentro, o repertório de Adelar era ainda menor: oito músicas. Honeyde ficou satisfeito em saber que o irmão dava conta do recado. Uma diferença de 10 anos entre eles. O resto é a história que está aí.
***
Solito: 1. Um cabrito e uma rês? 23. Martelões do inferno: 77. O azarado: 13. Quem chegasse no Clube Juventude às sextas-feiras ouviria o Ivo cantando o bingo. E é adequada a expressão “cantar o bingo” porque, ao contrário destes bingos de exploração, aqueles beneficentes eram um verdadeiro ritual. Era preciso um espírito inventivo.
Tenho a impressão que o Ivo foi quem mais persistiu cantando bingo no Juventude, porque de lá saía a grana que ajudava a segurar as despesas do time. Aliás, não deixar morrer o futebol do clube foi uma das suas maiores lutas. Além dos bingos, o Ivo foi massagista, e foi diretor de futebol, e foi treinador, praticamente fez tudo.
Por muito tempo, foi o guarda do Banrisul. Depois, passou para Auxiliar Administrativo. Ivo Sebastião da Silva (era primo do nosso pintor Agenor) foi criado pela D. Dorvalina Silveira. Era quem ajudava na chácara por lá. O Ivo foi um brizolista da vida toda. Uma daquelas grandes figuras e que Bom Jesus agora perdeu.

Crônica no Pioneiro de hoje.

quarta-feira, janeiro 14

O gelo inacabado

Técnica para encarar férias sem dinheiro: reclusão e criatividade. Não, não vou sugerir que você faça um barco, uma nova casa pro cachorro, embora até sejam tarefas a se topar. Para que as suas férias sem grana sejam também produtivas, vou me meter a indicar coisas que, acredito, são fundamentais. Elas nos dão uma maior dimensão do ser humano. E estão aí, a preço zero, é só ir atrás.
Enfrente de uma vez o Grande sertão: veredas. A descrição da morte de Diadorim é muito boa. Pegue também o Cem anos de solidão (o dia em que o menino Aureliano conhece o gelo você nunca esquecerá). E, como está mesmo recluso, Ulisses, do Joyce. O trecho final com aquela sequência (não seria agora sekência??) de “sins” (o fluxo de consciência de Molly) que explodiu com o romance moderno.
Férias Plano B. Sem um tostão e no lucro. Reveja, por exemplo, a trilogia do Sergio Leone, aqueles faroestes geniais. Fique com a sensação do bom e velho cinema, não vá jogar baralho, não jogue nem xadrez.
No YouTube, busque a interpretação de Johnny Cash para aquela canção do Nick Cave, The mercy seat. Aproveite para ouvir Jorge Estrada, Honeyde e o Tom Jobim. O mestre dos trocadilhos, a destreza do Cancioneiro, reencontre Borzeguim.
Ouça também Beatles! Aí já valeu.
(Vá pescar em Tainhas. Dois dias, só. Volte logo para estas sugestões ­— não tem marca-diabo aí, são boas dicas, sim — e o resultado aparecerá.
Isto. Você pensará em escrever um bom livro, uma canção, fotografia de qualquer légua já. Talvez não faça. Mas ficará com a impressão que a rotina “se fú”, como o Lula diz. E, com certeza, suas férias se prolongarão tal o bom saldo.
Serão férias inacabadas. Inacabadas como aquele gelo de Aureliano Buendía.)
Férias boas mesmo. Não aquela sensação da volta de Capão ou Laguna: que só foi ainda mais se cansar. A estrada, as filas, a exploração constante e lá vai o listão.
Saia dessa. Melhor é fazer diferente e encarar por aqui. O teu limite sob controle e o cheque sem usar. O ano, claro, correrá melhor.
Reclusão criativa. Mergulhe nessa aí!

quarta-feira, janeiro 7

O som dos espelhos

O Kraftwerk está vindo ao Brasil. O grupo marcou a minha adolescência e acho que vai ser a trilha sonora deste meu 2009. O Kraftwerk é aquele do comercial do Star sax. Aquele de um cara andando numa estrada, trilho de trens, sapatos de couro, modernos, macios, tendo ao fundo The Hall of Mirrors (O Salão dos Espelhos).
A música (junto com Radioatividade, outra ótima deles) virou trilha de formaturas, de outros documentários, mas o fato é que marcou a minha adolescência. Alcançar um Star sax era sair do Ki-Chute, sinal de amadurecimento e prestígio junto às garotas. E também porque o Star sax era mais discreto no odor, todos sabem.
Curti muito o Kraftwerk, principalmente porque o Joãozinho da Tia Olga não deixava passar um LP que chegasse no Bonja. Gastava toda a grana em disco, na Discolândia do outro Joãozinho, que fechou a loja para se aventurar numa funerária.
Bons tempos. E a gente sempre pensava em seguir em frente, como nos fazia intuir o som daqueles caras. O Kraft era a trilha adequada para se pensar em Porto, São Paulo, Rio, alguns queriam a Bahia. Queríamos sair de Bom Jesus. A minha geração pensava nisso a sério, pois pressentia no horizonte a falta de emprego.
Estávamos certos. O vento sopra pra frente e, como um imã, aquele grupo alemão nos indicava a trilha a seguir. Pé na estrada, sem Ki-Chute, agora calçados em Star sax.
Pode isso?
Bem americanizados, mas nada de bobos. A gente ia com aqueles sapatos recitar Millôr no Ginásio, quando ainda no finzinho ditavam ordens os generais. Desligaram uma vez o nosso som.
Mas, o vento soprava pra frente. E não, não, não vou cair aqui na conclusiva piada das nossas “rugas no espelho”. Prefiro ainda a estrada e os sonhos.
Crônica de hoje no Pioneiro.