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sábado, julho 26

Apelo em

Semana passada, estreou o filme Nome próprio, baseado no blog da Clarah Averbuck, do diretor Murilo Salles. Coincidiu de entrar em cartaz justo com o lançamento de Batman e, aí, surgiu o apelo do diretor, através de 200 mails para amigos (uma “carta quase desesperada”, como li no jornal), pedindo que as pessoas “prestigiassem” o seu filme, temeroso de ser soterrado pela produção americana.
O que a mídia chamou de “apelo” de Salles, o escritor Santiago Nazarian diagnosticou como “mendicância artística”, ao constatar que, deste “pedido” (fazer um favor) ao comparecimento, também padecem os atores de teatro, os músicos de bar e os escritores de modo geral. Todos os artistas que têm de implorar por um pouco de reconhecimento, Nazarian os identifica como Mendigos Culturais.
Ato contínuo, encontrei no blog do Mário Bortolotto o seguinte recado, depois da apresentação de uma de suas peças no Rio. “Ah, o público continua pequeno... A Assessoria de imprensa dessa Mostra foi realmente das piores que já vi. Ontem falava pra Betch e pro Neville: Pensa só, Betch, eu mandei e-mail pra você e telefonei pro Neville, se não fosse assim, nem vocês estariam aqui. Eles concordaram”.
No caso do cinema, por uma lei de mercado, filmes que não sustentem uma média de bilheteria, logo são sacados de cartaz, abrindo espaço para filmes estrangeiros com maior poder de fogo. É bem injusta esta concorrência (540 cópias de Batman contra 12 de Salles) e, só por isso, se entende o “apelo” do cineasta.
Quanto ao Bortolotto, que tem um trabalho de qualidade e mantido com dignidade, ele mesmo diagnosticou o seu fracasso de público: falta de organização e patrocínio, que resultou na incompetência de divulgação.
Mas a coisa fica mais feia é com relação aos livros. Patrono da feira de Caxias do ano passado, tive então 30 dias de mídia, com jornal, tevê e rádios para os meus “apelos”. Resultado: 130 livros vendidos. Disseram: foi bom! E eu decidi parar de escrever.
Mas, não há dúvida, se resolve esta mendicância com a qualidade da arte e o profissionalismo na sua distribuição. E, para isso, o primeiro passo é acabar com os “apelos”.
O pior que pode acontecer para uma obra é constranger aos amigos, cunhadas, colegas, quase implorar que apareçam!
Nenhuma obra merece este esforço.

terça-feira, julho 22

Lista do retorno de Lisboa

Em 1985, criaram o curso de Comunicação na Universidade Nova de Lisboa. Estudante da PUC, atraído pelo canto da sereia, fui “terminar” meu jornalismo por lá. Quem dera! Era tudo muito teórico, muito blábláblá semiótico e nenhum raspãozinho na prática de jornal ou rádio. Aquilo viraria uma pequena agonia.
Eu era legal no país. Mesmo assim, com 120 escudos de “bolsa”, eu comi o pão aquele amassado. A grana mal dava pra comer, e quando comia era caldeiradas de peixe direto. Por instinto de sobrevivência, fui conhecendo pessoas que pudessem me arranjar alguns bicos. E foi assim que fui bater na porta do Diário de Lisboa, do Partido Comunista, e lá escrevi meus primeiros textos públicos. Entrevista com Dalmo de Abreu Dalari, que agora voltou às manchetes por ter alertado sobre o “problema” que seria a nomeação deste Gilmar Mendes no STF, indicado por FHC. Pelo DL, cobri a visita de Tancredo recém-eleito e conheci então Ziraldo, Antônio Britto, etc, os caras da Nova República.
Nesse meio tempo, conheci um cara chamado Duda Guenes, um carioca, Fluminense doente, que vivia em Portugal fazendo versão dos gibis de Walt Disney para a forma de falar dos portugueses. Confesso que eu sentia inveja do Duda. Um trabalhão daqueles era o que eu queria para o resto da vida. Filei muitos almoços na casa do Duda Guenes com a grana do Tio Patinhas.
Havia também em Lisboa, ligado às artes, o Jornal de Letras, dirigido pelo Fernando Assis Pacheco, que era um jornalista de muito boa formação e poeta. Por conta de um professor da PUC, José Edil, fui procurar então o Assis Pacheco para contar as minhas agruras de estudante que vivia com 120 escudos, coisa hoje, talvez, um salário mínino nosso.
Legal em Lisboa, o Assis Pacheco me acolheu não com páginas, mas com um espírito solidário que sempre agradeço. Me passava livros, me passou Herberto Hélder e disse. Este é o cara. Se você quer mesmo escrever dá uma olhada nisso. Pronto! Devo ao Assis Pacheco o meu afogamento definitivo.
Enfim, estou nestas voltas ao passado (quase sempre improdutivas e melancólicas) apenas para dizer que acompanho com muito interesse a “limpeza” que estão fazendo agora na Europa por conta da nova lei de migração, que vai botar muita gente pra fora.
Quanto a mim, mesmo legal em Lisboa, acabei voltando por conta de uma Lista de Retorno, feita pelo Assis Pacheco, que angariou fundos para a minha passagem. A lista teve o apoio até de um ex-presidente da República e do Raul Solnado, o maior humorista dos portugueses. Só podia acabar em piada.