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domingo, março 30

Uma velha canção

Canções da memória num domingo à tarde.
http://www.youtube.com/watch?v=rQ3ax8NWNGA&feature=related

terça-feira, março 25

O silêncio da liberdade

John Cage foi um moderno compositor americano que sempre se interessou pelo silêncio, tendo inclusive escrito um livro com este título, Silence.
Em 1952, “compôs” 4’33’’, uma sinfonia de nada, de não-sons, regida por um maestro que entra no palco, vira a partitura, pega a batuta e fica estático com a orquestra igualmente congelada. Parece que vão tocar e não tocam. A sinfonia é feita então pelas tosses e pigarros, revirar de gente nas poltronas, impaciência de uma platéia incapaz de suportar quatro minutos e trinta e três segundos de absoluto silêncio.
Eu coloquei isso aqui no blog e aqueles que visitaram a postagem sabem a angústia que isso dá. Você percebe então nitidamente os sons ao seu redor: o barulho da rua, do seu prédio, o avião da GOL, as buzinas e um ruído contínuo que é o deslizar dos pneus.
A partitura do velho Cage é composta de nada. Mas ela nos enche de sons e vida. E este foi o seu grande barato ao criar o 1º, o 2º, o 3º e o 4º movimento da composição.
O NADA. E eu sei que há muita lição nesta ausência (e eu a confirmei ainda mais em plena Sexta Feira da Paixão, tantos foram os cânticos e falação junto ao corpo do Cristo Morto. No seu interior, por outro lado, a catedral impunha uma solidez de silêncio que dizia muito mais. Quem anda por lá sabe que a catedral é um refúgio!).
Parece até que estou sugerindo aqui (e o pessoal do ioga haverá de rir) uma espécie de budismo sem prática, uma espécie de budismo feijão-com-arroz como só numa crônica a gente é capaz. O fato é que John Cage sempre foi um estudioso das filosofias orientais. Ele se inspirou mesmo no i ching, o livro de oráculos chinês, para algumas de suas composições, composições ao acaso, diga-se.
Cage sabia da força do silêncio, que o silêncio pode ser inquiridor, contestador, o silêncio pode provocar a reação de uma arma pacífica.
O mesmo silêncio que agora “grita” mundo afora. Um silêncio que vem do Tibete e se alastra. Pela liberdade.
(Da crônica do Pioneiro).

sábado, março 22

Mahler e Quintana

Certa vez, (acho que foi uma entrevista para o nosso jornal da FAMECOS-PUC), perguntei ao poeta Mario Quintana qual era a sua música preferida. Nunca esqueci. Ele respondeu: A Sinfonia nº9 de Mahler.
Lembro que eu tinha em casa e ouvi depois em seguida não sei quantas vezes.
Agora, encontrei aí no Youtube a sinfonia numa regência que me fez lembrar o Quintana.
A "viagem" é do maestro Leonard Berstein. Vejam isso:
http://www.youtube.com/watch?v=S8YUIG3YgxQ&feature=related

sexta-feira, março 21

John Cage

John Cage — que nos ensinou o silêncio também na literatura.
CLICA AQUI:

terça-feira, março 18

Gremistinhas e colorados

A família que me criou gostava de futebol. Tia Elsa era do Grêmio, Oneide do Inter. O Celso, o guri maior da casa, era juvenil do Santa Cruz e tinha o apelido de Sapiranga, um ponta-direita que jogava muito no Inter. O Celso até hoje é um baita colorado em Alvorada.
Mas era o nosso Tio Otílio, que trabalhava em Porto Alegre, que virava uma festa quando ia pra Bom Jesus. Ele nos contava como era “de perto” a vida do Inter e do Grêmio. Acho que Tia Elsa me fez melhor a cabeça, porque eu virei gremistinha deste muito pequeno, capaz de saber até hoje as escalações da dupla Grenal. O Valmir Louruz, que encontro agora sempre no seu café aqui perto de casa, jogava com Gainete ou Schineider, Scala, Pontes e por aí vai, no Inter.
Na escola depois, lembro, havia na lista de chamada o Elton Gessi, Juarez e Aírton (todos jogadores de um Grêmio que foi Hepta nos anos 60). Os pais batizavam mesmo os seus guris em homenagem à dupla. Sempre foi assim: os pequenos já saem do berço encaminhados. E é uma coisa que gruda. Muda-se o casamento, de partido político, mas mudar de time ainda não vi. É uma relação forte, uma “saudável pressão” que tias, avós e padrinhos fazem já no hospital.
Pois a editora Belas-Letras, aqui de Caxias, percebeu esta relação e está lançando agora dois livros que contemplam exatamente isso. A coleção Meu time do coração será uma série de livros infantis, escritos por torcedores reconhecidos (músicos, escritores, celebridades de alguma área) que abrangerá todos os clubes brasileiros.
E, para começar, nada melhor do que a dupla. E larga bem, com Meu Pequeno Colorado, texto do Luís Augusto Fischer, escritor, pai do Benjamim, e autor do roteiro do Gigante, o filme que dá conta da (pra nós gremistas “inacreditável”) façanha do Inter contra o Barcelona no Japão.
Os gremistas serão representados pelo Humberto Gessinger, líder da banda Engenheiros do Hawaii, com as ilustrações do Fábio Nienow que vocês conhecem aqui do Pioneiro.
Os dois livros serão lançados no final de abril, com direito a mini-show do Humberto. Uma bela sacada!
(As ilustras são: Inter - Jorge Herrmann. Grêmio - Fábio Nienow.
Crônica para o jornal Pioneiro de amanhã).

terça-feira, março 11

Pássaro perdido

Andei assobiando por estes dias Pássaro Perdido. Alguém aí lembra do Pássaro Perdido? É a música vencedora da 8ª Califórnia da Canção Nativa, aquele festival que foi o último sopro vital da nossa cultura campeira. A partir da décima edição, entrou em decadência, já não havia o que dizer. Aliás, mesmo nos áureos tempos de Uruguaiana, como a sétima edição cheia de clássicos, já não havia muito a dizer. No mesmo Pássaro Perdido há um verso que diz, “e uma estampa de monarca”. Que gaúcho tem estampa de monarca? Ah, pára!!!
O que a Califórnia ainda tinha a dizer era pela inovação dos arranjos, pela criatividade das melodias, pelos excelentes intérpretes que fez surgir Leopoldo Rassier, César Pasarinho, Mario Barbará, que só compunha obras-primas como Desgarrados e Retirante.
A Califórnia morreu porque não havia mais a dizer. E quem prossegue hoje em música gaúcha sabe disso: nada mais a ser dito e o que se diz é um incompatível cenário do campo que há quase um século deixou de existir. E temos aí insistentes que acabam caindo nessa ladainha de nossas façanhas, ou ainda artistas de uma música só (Elton Saldanha, eu quase ia dizer).
Mas eu peguei o Pássaro Perdido apenas como um gancho pra melhor ilustrar a falta do que dizer em todas as áreas da criação. Por exemplo, eu. Estou voltando das mais improdutivas férias da minha vida. Não por preguiça, mas por sinal de alerta, desisti de um livro já bem adiantado. A intuição de não cair no abismo da repetição soando forte.
Vocês devem conhecer a frase: desconfie do autor de um só livro. O que este petardo quer dizer é o seguinte: pode-se até publicar meia centena de obras, mas o conteúdo... bah, sempre o mesmo.
E eis que chegou a minha hora de temer a rotina, a repetição, a falta de criatividade. É preciso ser crítico em relação ao repeteco, não só em artes, como em tudo, não é?! Nada mais desanimador do que a mesma aula, o mesmo desfile, a mesma Portela, o goleador de um gol só!
Sacar isso, ajustar o semancol, pode ser o recomeço.

(Crônica para o Pioneiro)

terça-feira, março 4

Seu Berato

Seu Berato tem 106 anos. Passei a tarde de domingo dando boas risadas com ele. E ouvindo tocar a sua viola. Taí o segredo do Seu Berato: estar de bem com a vida. Lúcido, muito lúcido, traz na memória as letras das músicas que mesmo canta. Reclamou que a voz não estava “boa” no domingo. Mas lembrou de muitos casos e (ah, Seu Berato!), recorda das namoradas.
Seu Berato está escrevendo um livro: serão passagens da sua vida que, contou, escreve a lápis e na ordem cronológica. Já passou pela Revolução de 23, lembra em 30 Getúlio tirando Washington. Tem histórias de leão, confrontos e jaguatirica.
Seu Berato nasceu no Barreiro, um riozinho em Bom Jesus. Morava em Gramado antes, fica agora em São Virgílio, Caxias. A mão esquerda, a das notas, tem apenas de sobra dois dedos. Ainda assim toca a viola. Toca aquela canção da “saudade”, autoria do Seu Bite do Bonja.
A primeira vez que ouvi falar do Berato foi num papo, uma pesquisa com o Seu Bento. Seu Bento Jacoby tinha uma gaita-ponto, era carpinteiro e marceneiro. E Seu Berato lhe acompanhava: tocava com ele nos bailes e entendia igual de madeira. Era homem das serrarias, foi por lá que decepou os três dedos. Na serra-fita, faz anos, mas preservou bem a saúde. Seu Berato ainda ensaia que dança, põe no ritmo o Benedito Lacerda: “Soltei o primeiro pombo-correio”, assim vai...
Foi através de sua nora, Iracema, que conheci Seu Berato agora. Berato Ribeiro. Teria algum parentesco?
Iracema, que tem apenas 20% da visão, ouviu alguma coisa que escrevi e está gravado lá na Apadev. Um conto de bailes, no Valsa dos Aparados. É a história de um gaiteiro que caiu no palco e ainda assim tocou deitado. E um outro num pandeiro. E um outro na viola, exatamente chamado Berato!
Era este?
Era. Comprovei no domingo. Seu Berato tocando e cantando e nenhuma das canções era gaúcha: são músicas dele, do Joubert de Carvalho. Cantou como Carlos Galhardo, um repertório dos velhos boêmios.
“Morena os teus olhos divinos...”
Seu Berato canta, sorri e escuta tranqüilo. Seu Berato tem 106 anos e tá melhor que o Niemeyer.
(Crônica para o Pioneiro).