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quarta-feira, novembro 28

Olhos no rio que abraça

— Fiz um pecado.
— O quê???
— Uma vez, não salvei uma moça.
— Capaz!?
— Quer jogar que os cabelos vinham aqui?
— Vinham?
— Arrastava na terra.
— A-hã!
— Dançava não sei como.
— É?
— E as minhas forças ficaram na água.
— Essa não!
— Num baile. Eu disse: quer jogar que te namoro?
— E namoraram?
— Que que acha!?
— Deu um beijo?
— Nem dei três.
— Essa é demais!
— O cabelão vinha na terra...
— E sim?!
— Tinha tanto cabelo que nem me escutou.
— O que houve?
— Saímos pra ouvir o rio e o rio se avolumando. Grande, bonito...
— E ela, decerto, gostando?
— O olhinho mais verde ainda e eu olhando aquele olho.
— O maior rio...
— Pra ver. Ali, passando nos olhos.
— Santa...
— Perguntava quem é que faz, que ela não sabia o quê.
— E você?
— Eu disse: onde tiver um rio, eu abraço, moça!!
— E ela. Quis jogar?
— Não. Mas andou até na beirada.
— É. Ela não sabia... o que foi???
— Escorreu assim com os pés...
— E o rio ali, transtornado?
— Água e água. Só fazendo volume.
— O rio nos joelhos...
— Se ouvia!
— E ela?
— Foi tragada, o maior pecado.
— E??? Homem!!???
— Eu nada podia.
— Então era mentira?
— Era. Eu não tinha a força que disse.
— E ela, o que fez?
— Abraçou-se no rio... E desceu com ele os seus olhos verdes.

terça-feira, novembro 27

Aforismo

anestesia é um truque que o sonâmbulo esqueceu

segunda-feira, novembro 26

São Roque e o cachorro

Em Bom Jesus, certa vez, um cachorro entrou na procissão de Corpus Christi. Foi bem lá pra frente e ficou junto ao corpo num altar improvisado. Apesar dos gritos de “sai” e “sai” de todo o mundo, o cachorro ficou lá com Cristo, ajoelhado como aquela mula aos pés de Santo Antônio.
Quem conduzia a procissão era frei Ângelo, que vai fazer 95 anos agora (sim, faz aniversário agora, no dia 8), e é o mais idoso dos capuchinhos. Vive ali na Casa de Saúde junto à igreja.
Pois este frei Ângelo de Alfredo Chaves fez muito por Bom Jesus. Comprou o primeiro jipe e atendeu as capelas da “Costa”, quando Bom Jesus quase “chegava” em Florianópolis. Deu à igreja um altar, pois, apesar de imponente, a matriz carecia de imagens.
Havia poucas. Entre elas, um São Judas, uma outra de São Roque. E, decerto, inspirado pelo cachorro, naquele ano frei Ângelo realizou uma festa pra São Roque. Era uma preocupação antiga. Há 15 anos o santo estava ali e não sabiam quem era. De qual milagre se tratava.
São Roque é o protetor dos enfermos, dizem, até dos médicos. E foi homenageado então o jovem francês que largara a riqueza e saíra na penúria para servir aos doentes e inválidos. Quem não lembra a figura? É aquele com cajado, ferimento na perna, sempre acompanhado de um cachorro. É o santo das “feridas”, das epidemias, e que acabou numa prisão acusado de espionar pro Papa. Trazia uma tatuagem no peito (uma cruz de nascença) quando o identificaram morto.
São Roque Peregrino!, que até poderia proteger o gado. Não se sabia. E frei Ângelo era esforçado, ensinava os seus santos (já falei do jipe e do altar trazido), mas havia outras coisas: os bancos, que eram modestos, e a luz, muito precária. Luz pesada, daquele jeito com sombra amarela.
E, em 1951, dois anos depois do cachorro, o que veremos? A igreja repleta, iluminada por fluorescentes.
Casualidade como o cachorro? Não. Um ano antes, tinham inaugurado a Usina dos Touros.

(Crônica para o Pioneiro).
A imagem acima é São Roque na prisão, de Pedro e Ulderico Gentilli

domingo, novembro 25

Alento

Seriam minhas as mãos se eu tocasse viola?
Seriam minhas as mãos já defuntas em confuso horário?
Seriam minhas as mãos da porrada, indefesas, da paz
Seriam minhas as mãos que eu forço nas cordas,
Oitavo lugar numa Feira de Ciências
Seriam minhas as mãos em Seis Ave Marias, em Cinco Padre-Nossos
As mãos nas chaves deste apartamento 200?

Duas mães, uma ex, seis mãos que um dia me alentaram!

Drummond


quarta-feira, novembro 21

Sarau, livro, telas

O camarada Cláudio Troian, produtor cultural, armou essa e parece que vai ser bacana. Um sarau em Nova Roma do Sul com a turma da Literatura Caxiense que reunimos na Feira do Livro.
Parte da trupe vai estar, mas só presença, porque os textos serão lidos por atores que já fizeram esta em outras produções do Troian.
Dia 28 de novembro, às 20h, no ginásio lá da cidade. Promete valer!
Ah, dia 14 de dezembro, tem o lançamento do As luas que fisgam o peixe lá no Bonja, no Clube Juventude. Será uma espécie de Noite Cultural, pois a minha amiga Miriam Dutra Zuanazzi também vai mostrar as suas mais recentes telas. A exposição fica por lá depois.

terça-feira, novembro 20

Usina dos Touros

Em 1950, o governador Walter Jobim inaugura a usina hidrelétrica do Rio dos Touros. A partir dali, se observarmos, começam as construções dos grandes prédios em Bom Jesus. É claro! Grandes edificações não suportavam a pouca energia tocada por um precário diesel. Por isso, aquele 24 de Setembro de 1950 é um dia-marco para Bom Jesus.
No ano seguinte, sintomaticamente, já se observa a compra de imenso terreno na praça, visando a construção do Clube Santa Cruz. É uma extensão de quase quadra inteira.
Em 1952, havia o Cabaré da Maria Bonita, do Cabo Chico e o Cabaré da Brita. O que se observa em seguida é um período “nervoso”, com a migração da Brita (do local onde depois seria a funerária), passando para o Hotel do Seu Padeiro, mais tarde, Hotel Bela Vista para atender as serrarias.
Havia luz e o conseqüente aumento do movimento em nossas casas noturnas. E logo se dá a polêmica: queriam tirá-las do “perímetro urbano”.
Mas, não só. Logo lançam a pedra do Ginásio, que seria o maior edifício do lugar, e o salão da paróquia que viraria escola. E o Juventude construindo a sua sede também na praça.
Grandes prédios!!
Em 1954, a Igreja adquire uma máquina cinematográfica para matinês. Coisas da luz.
Logo que assume, Áureo Ribeiro Velho decide: uma nova prefeitura! E começa um moderno prédio. Os casarões de madeira (nossa “era locomóvel” foi marcada pelo seguinte refrão: Bom Jesus/cidade que produz/De dia falta água/de noite falta luz) começam vir abaixo e as grandiosas construções de pedra tomam o espaço. Foi quando tudo se construiu. E é quando se observa uma efervescência cultural e mesmo fatos comuns aos centros urbanos, como a cassação de um vigário e o “duelo” que resultou nas mortes de Silvino e Odenath.
Mas, paradoxal, com a luz, começa a derrocada de Bom Jesus. Com a Usina dos Touros (eis o reforço de minha tese), as serrarias estavam por fim assistidas para a transformação do pinheiro. E é então o auge das serrarias. Serão mais de 140 na passagem dos 50 para os anos 60.
Eis aí o meu “toco de vela” para a compreensão da nossa História.

Acima, a Usina dos Touros em ruínas.

segunda-feira, novembro 19

A riqueza por dois dias

Vocês nem pensam o quanto é ingrato o ofício de um cronista. Primeiro, é achar o assunto, pois o cronista semanal pode chover no molhado do colega de ofício diário. Depois, achado o assunto, as limitações que nos impomos, sejam de ordem ética, jurídica, de fundo afetivo.
Tenho, por exemplo, uma crônica pronta sobre o “fenômeno” do Jornalismo no vestibular deste ano na Universidade de São Paulo. Não publico por parecer cabotino, as inscrições da UCS estão aí abertas.
Também não divulgo aqui as porradas que levei com o meu último livro, que não sou masoquista. E, divulgasse também os elogios, seria pior, pareceria um abobado, usando o espaço pra insuflar a vaidade.
Apontar a decadência do meu Bom Jesus é outra coisa que evito. Seria deixar Bom Jesus ainda mais fragilizado, e eu sempre recuo. Prédio, banco, time, tudo isso me aborrece. E assim vou podando os meus assuntos.
Quando a coisa aperta mesmo, como hoje, eu corro pro Pioneiro (já que estou também tomado do pior jornalismo, que é deixar de andar nas ruas). Domingo, por exemplo, o jornal nos convida a ser Papai Noel este ano.
Achei bacana, principalmente porque a matéria mostra que a iniciativa de ajudar crianças pobres partiu de jovens que sabem do que se trata “ser pobre”. Bacana!
Por outro lado, a matéria me fez lembrar de iniciativas paralelas, e que são bem intencionadas na essência, mas das quais eu discordo.
Este negócio, por exemplo, de algumas entidades ou clubes pegarem crianças em instituições para passar um final de semana bem na ocasião natalina. Tenho até alguns amigos que fazem isso: tiram as crianças do seu meio (menos favorecido, dizemos) e num final de semana dão roupas, passeiam, dão festa. Na segunda-feira, devolvem a criança ao seu mundo.
Acho isso, como dizer?, uma boa intenção ofuscada. Por que não doar a grana direto (e é tão óbvio!!) àquelas instituições, colégios ou creches que são o universo daqueles meninos e meninas? Por que mostrarmos “a riqueza” por 48 horas e devolvermos a criança na segunda??
Crônica para o jornal Pioneiro.

domingo, novembro 18

Gravura

A lista geral dos defuntos devia ter não só Jesus, poliglotas, gravuristas.Os homens que fizeram sonatas e guerras.A lista geral de todos os meus versos mortos devia trazer a mão de minha mãe e a mão de minha mãe a tocar no meu rosto.
E uma busca de gado. A primeira namorada. A construção do encanto.
Na lista geral das minhas provas defuntas, pedras de chuva. Rita Lee. E também abacate, morcego, a escalação de um time.

sábado, novembro 17

Partida

Há sempre alguém partindo por opção, por remédio, pela segunda ou terceira vez.
Do espiritismo, partindo de imediato, há sempre alguém partindo dos toldos, partindo ciganos, sem herança, solidariedade, sem olhar pra trás.
Há sempre alguém partindo do fundo do coração.
Apresentando a barriga... grávida porta rude de um pai!
Há sempre alguém partindo transpassado de flecha, punhal, triste e só.
Um crespúsculo humano, alguém partindo, quem sabe distraído, há sempre alguém partindo sem amor.
Há sempre alguém partindo, haverá, dos confins, na canção, há sempre alguém partindo pura e absolutamente num momento febril: partindo choco, ofendido, sem graça e sendo ainda honesto em suas convicções.
Há sempre alguém partindo por perseguição.
Há sempre alguém partindo pra guerra, no entre-guerras, em prece, por gesto, há sempre alguém partindo sem um destino melhor.
Há sempre alguém partindo no olho d’água que verte na face. Há sempre alguém partindo sem saber, pra se salvar, há sempre alguém partindo por indescritível intuição.
A nadar pelo rio, a partir de um incêndio como da árvore a folha cai.
Há sempre alguém partindo nos braços de outros, com um medo, para onde?, para quê?, como um fugido?
Há sempre alguém partindo como açúcar, alho, pilha, como penicilina em caixotes.
Há sempre alguém partindo com uma coragem triste.
Uma mãe deixando o seu rosto no avental e há sempre alguém partindo no sol de chinelo.
De um fracasso de amor.
(Há sempre alguém partindo enquanto a mulher faz as unhas!!)
Há sempre alguém partindo como um foguete, aproveitando a folga, a invenção da pólvora, partindo na estação.
Por temor, piedade, muita estrela!?, há sempre alguém partindo, não se sabe, há sempre alguém partindo da idéia dos já esquecidos.

sexta-feira, novembro 16

A voz negra se defendeu nas cordas

A Luta do Século, entre Muhammad Ali e George Foreman (tem vários vídeos no Youtube), se diz, mostra um exemplo de superação que pode ser aplicado em nossas vidas. Mas, eu queria neste pôste chamar a atenção para a relação de Ali com a mídia. A luta foi em 1974.
Naquela noite, Muhammad Ali, depois que se tornara adepto da religião muçulmana e se negou ao Vietnam, atraiu sobre si todos os holofotes. E soube muito usar a mídia por seu alto potencial para sacar as brechas, as oportunidades que lhe abrissem.
No embate, ele provou contra o gigante que, com sua agilidade e astúcia (o seu jogo de pernas e o descanso nas cordas), abateria Foreman com a sua inteligência. A montanha de carne e osso que lhe atingia apenas o fígado, desnorteada, não entendia de onde partiam aqueles jabs certeiros.
Impávido, Ali resistiu ao massacre até cansar Foreman. Há um momento em que Ali se desvia nas cordas, pra trás, como um bicho acuado, e Foreman passa direto, estendendo o corpanzil quase lá na platéia.
Depois dessa, o nocaute era em minutos.
Mas, saber quem era o cara mesmo, é depois da luta. No vestiário do estádio de Kinshasa, Cassius Clay (o seu nome de batismo, antes de um escravo) foi perguntado se aquele era o momento mais feliz da sua vida:
—Não, não e não. O melhor momento de minha vida foi quando me tornei Muhammad Ali para defender os negros.
É isso aí.

quinta-feira, novembro 15

O chassi do Benhur

A televisão do Seu Bibílio, a primeira da cidade, com sua antena saudada na praça, sempre achei a melhor do Cinqüentenário de Bom Jesus, em 1963. Mas, a melhor, descubro agora, foi o massagista escolhido para o Grêmio Esportivo Pérola: o Benhur. Essa perdemos: o Benhur, dois metros de altura, como massagista de futebol!
Impensável, não pela altura (coisa da idade, talvez servisse mesmo ao time), mas é que o Benhur do Seu Danda se notabilizou por lidar com carros usados. Diziam, o Benhur só lida com carro velho, tendo dinheiro!
Pois é, o Benhur Camargo sempre lidou com carros, não importava a marca, o tamanho, o Benhur ia do fuquinha ao caminhão. E sempre de segunda.
Existem pessoas assim: gostam de “lidar” com carros mais do que dirigir. O Benhur é desses, até hoje lida com um táxi lá...

Trecho de Quando cai a neve no Brasil, do capítulo intitulado Tipos Humanos, onde as figuras do meu Bonja aparecem ali retratadas. Um deles foi o Benhur, 73 anos, estupidamente anteontem morto (o cara levou um celular e dois CDs!!) quando fazia uma de suas corridas.

quarta-feira, novembro 14

Migração

O ganha-pão de quê? de suor, de sangue, do esperma de qual pai? O ganha-pão entre os arames que cercavam o pasto, o ganha-pão dos gritos e salivas de cada mãe e o filho de alguma delas que voltava da pescaria, da lida bruta das pedras, do ganha-pão cuidando de lã, do ganha-pão cuidando de carne, do boi no campo como ganha-pão quando o ganha-pão lhes dava o pão naquela terra depois devastada e quando resolviam sair de lá para também encharcar o peito das mães naquelas despedidas com as chapas ardendo e o frio o frio pra quem ficasse nos seus tanques também com as roupas pesadas e acenavam pouco e era um adeus um triste adeus pesado de casacos e no remoer dos dentes e era muito frio na emoção aflitiva daquelas mulheres que ficavam e eram depois aquelas mulheres num Glória a Deus seco e com eco e o ganha-pão estava então mais no pensar que poderia ser um seu filho que voltaria como um corpo identificado assim como sempre depois voltariam muitos dos seus filhos daquele ganha-pão urbano onde não havia menina e menino que entendesse o que era VOLTA e havia então um balançar dos cabelos como grãos de milho desgrudados e isso servia para compor o choro de primas e primos que ficaram a jogar bochas com achas nas cercas e São Sebastião no quadro da parede depois de todas as toras decepadas e arrastadas ainda em carne viva em São José dos Ausentes no ganha-pão da madeira por um trêmulo salário que servia para a cachaça e então o mijo morno que é próprio do bêbado clareado por lua e céu e o que ao céu cabe dizer de joelhos circunflexos os filhos e filhas que ficaram? Um bicho e sua virtude como proteção? E qual rabo de nuvem sobrou daquele momento do abraço? E qual rabo de nuvem ficou como a cópia de uma gravidez?
Beijavam o santinho no peito.

segunda-feira, novembro 12

Dessas nossas na França

O meu amigo Luís Carlos Bon, que talvez tenha sido o professor mais jovem que tive —ele nos dava aula então com 20 anos— me fez lembrar outro dia mais uma do nosso lendário Tio Purça, o intelectual do Bonja que gostava da noite.
Certa vez, o Tio Purça ficou sem cigarros no meio da noite e entrou em pânico. Não ia nunca conseguir dormir e todos os botecos de Bom Jesus já estavam fechados.
Desesperado, o Tio Purça nem hesita: se mandou pra Vacaria. Ia lá comprar cigarros.
A estrada era ainda de chão batido, se levava mais de 2 horas de Bom Jesus até Vacaria, fora o desgaste do carro. E o Tipo Purça chegou em Vacaria já era mais de 2 da madrugada. E também lá não encontrou nenhum bar, café ou boteco aberto.
Continuava sem cigarros.
E o Tio Purça então foi prum hotel. Ia deixar amanhecer.
No outro dia, cedo, o Tio Purça acerta o hotel, entra no seu fusquinha e volta pro Bonja.
Chegando em Bom Jesus é que foi lembrar: tinha ido em Vacaria só pra comprar cigarros!!
Se eu conto dessas do Tio Purça por aí, quase passo por mentiroso. E aí é que está. As histórias do nosso Bonja são tão incríveis, que eu já sei qual foi o maior erro da minha vida. Eu nunca devia ter voltado de Toulouse. Devia ter ficado pra sempre lá, escrevendo em francês todas estas hilárias histórias.
—Imaginação espetacular! Poder de criação sem medida!, me diriam. E eu estaria consagrado.
Não?
Então vejam esta outra nossa. Não faz muito, depois de uma galinhada, cerveja e tal, um amigo oferece carona pro outro. Noite de cerração fechada no Bonja, o motorista pede ao amigo caroneiro que desembarque e vá na frente indicando o caminho.
De repente, o fulano que dirigia passa por cima do amigo que o conduzia na neblina. Atropela e vai embora. E o amigo atropelado conta essa e ainda complementa:
—Me deixou lá bem mortinho e nem chamou socorro!
Imaginem uma verdade dessas numa outra língua. Ficção francesa da mais pura!
E eu voltei...

domingo, novembro 11

Cachos




sábado, novembro 10

Da natureza I

O peixe nunca vê
a nuvem de terra
E a música,
Nem nota

Da natureza II

Por poucos segundos foi mãe
mas nem percebeu o nascido

sexta-feira, novembro 9

O jogo das coincidências

Chumba o pé na água, cata uns galhos secos. Diz que Jesus anda perto, estuda gaivota, gravura. O Cabelo Louco sabe oração pra criança sepultada e uns versos para a falta de tempo. Tem uma caixa registradora e contam que faz homenagem aos pássaros no sono.
Dorme ali na praça e gosta de jogar dominó sozinho. Desenha no chão como o Modigliani, o Cabelo Louco é filósofo?, ex-exilado?, quando o conheceram era visto no Olímpico.
“Gravura do flautista sepultando a mulher numa tarde de chuva”.
“Estudo para chutar bola”.
“Honra ao Contrabando!”
“Hino aos Malucos”.
“Paisagem de um ruído d’água.”
“Cena de um batismo.”
“Cantigas Hipócritas”.
“Carta da Volta”.
“Poemas de minha profissão”.
“Álbum da grávida”
e “A cartilha das farsas”.
O Cabelo anda à noite nos bares e distribui estes cartonetes com as mãos bem trêmulas. E propõe o jogo.
(a continuação)
Uma mulher que não gosta de tardes chuvosas pega a primeira carta. Um executivo, cansado do estresse de terno e gravata, resolve comprar uma bola depois de conhecer o Cabelo. Um camelô grava ainda mais CDs e DVD's. Um sargento acaba a noite ensinando o Hino Nacional a um mendigo. Um cego compra uma casa na praia depois que sua filha lê uma das cartas. Um ateu ri, mas reza antes de dormir. Um poeta sonha, mas decide passar a noite calado. Um viajante sente saudades. Um universitário, que já está no 3º curso, resolve escrever poemas e lança seu livro. Um pai começa a chorar, e uma carta cai no chão. Coincidências, só não existem para quem não as cria.

Este é o conto na íntegra da promoção Ponha um ponto final nesta História, do ClicRBS, Especial Feira do Livro (clica aí!).
O desfecho do conto, que está em negrito, é de Thaisa Silva de Souza, de Viamão, que foi a vencedora entre 78 participantes.
A Thaisa ganhou 5 livros (5 títulos) da minha trajetória. Espero que ela tenha uma boa leitura.
Parabéns, Thaisa!

quinta-feira, novembro 8

Ponha um ponto final nesta história

O vencedor da promoção do ClicRBS, Ponha um ponto final nesta história (no caso, um conto que iniciei e o leitor devia encarar o "jogo") será divulgado amanhã, às 19h, no http://www.clicrbs.com.br/, link Feira do Livro.

Foram 78 participações. O autor do melhor desfecho ganhará 5 dos meus livros.

Valeu!!

Ah, e aqui também será postado o conto na íntegra.

quarta-feira, novembro 7

Tobogã

Minha cidade é um tobogã. Você põe um King Crimson rodar e dá uma certa saudade!
Ah, Bonja!

terça-feira, novembro 6

Sem dedicatória

Eu já fui perguntado sobre a falta de dedicatória neste livro que lancei agora, As Luas que fisgam o peixe.
A obra é uma obra de amor, da relação amorosa, do auge e decadência de uma paixão. Uma experiência vivida na carne e que enfrentei sem medo de soar piegas e tornei num livro para fisgar leitor. Diferentemente dos meus livros anteriores, é uma primeira “exposição” do autor, sem temer a crítica.
E a falta da dedicatória. Não vou responder? Ora, o livro de um grande amor, do qual não sobram incertezas, não sacramentaria a hipocrisia do dedicar. E é muito triste um livro sem dedicatória, e deve ser assim.

Como anda o sono

Como anda o sono na urina, como anda seu aspecto?
no telhado, na ponta do lápis? O sono na missa, como anda?, tem chance, tá tranqüilo?, como anda o sono, anda aos poucos?
Como anda o sono,
se vela,

e morre?

domingo, novembro 4

O jogo das coincidências

Chumba o pé na água, cata uns galhos secos. Diz que Jesus anda perto, estuda gaivota, gravura. O Cabelo Louco sabe oração pra criança sepultada e uns versos para a falta de tempo. Tem uma caixa registradora e contam que faz homenagem aos pássaros no sono.
Dorme ali na praça e gosta de jogar dominó sozinho. Desenha no chão como o Modigliani, o Cabelo Louco é filósofo?, ex-exilado?, quando o conheceram era visto no Olímpico.
“Gravura do flautista sepultando a mulher numa tarde de chuva”.
“Estudo para chutar bola”.
“Honra ao Contrabando!”
“Hino aos Malucos”.
“Paisagem de um ruído d’água.”
“Cena de um batismo.”
“Cantigas Hipócritas”.
“Carta da Volta”.
“Poemas de minha profissão”.
“Álbum da grávida”
e “A cartilha das farsas”.
O Cabelo anda à noite nos bares e distribui estes cartonetes com as mãos bem trêmulas. E propõe o jogo...

(Este é o início do conto da promoção clicRbs, Feira do Livro de Porto Alegre. Você deve entrar lá no http://www.clicrbs.com/, Feira do Livro, no link Promoção Hagah e continuar a história. O vencedor ganhará 5 dos meus livros (5 títulos diferentes). Participe!)

sexta-feira, novembro 2

Lembrança (2 de Novembro)

Não passaria a saudade se te visitasse!

quinta-feira, novembro 1

Na feira de Porto Alegre

Tô indo pro meu Porto, da Rua da República, da JUC Casa 7, da Noêmia, da Baronesa do Gravataí, que me traz a lembrança do amigo hoje ausente Sérgio Metz, da Lima e Silva, cadeiras na calçada e lugares que fizeram o meu mundo. Porto onde escrevi Vitrola. Há tanto de Porto Alegre, no Glaucha, no Iberê, lembro o Zelig, o sopão do Van Gogh, saudade da Osvaldo... Porto Alegre dá mais livro, outros e outros livros.
Espero o reencontro com alguns leitores e amigos no sábado.