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domingo, setembro 30

O convite

Vitrolas (Borzeguim)

sábado, setembro 29

Luterano-umbandista e crismado

Quinta-feira, foi ao ar um entrevista que dei à UCSTV na igreja São Pelegrino, que é o ponto cultural mais interessante aqui de Caxias. Eu mesmo sugeri o local e falei um monte de tempo com aquelas obras-primas do Aldo Locatelli, incluindo A Via Sacra e o teto da igreja que lembra, claro, o teto da Capela Sistina.
Locatelli é o nosso Michelangelo, eu disse.
Mas, esse exagero não vem ao caso. O que interessa mesmo que eu comecei dizendo que estava ali, admirado com a suntuosidade da igreja, mas que eu era um luterano. Mais que um luterano. Um luterano-umbadista.
Fato: quando minha mãe, mão solteira, inventou de me batizar, o vigário de Bom Jesus disse, nananinanã... mãe solteira, tô fora!
Minha mãe voltou então para a churrascaria onde trabalhava, triste, e contou a conversa com o padre. Sua patroa, luterana, disse, deixa conosco.
E fui batizado na igreja luterana. E, minha mãe, agora percebo, deve ter pensado em dar uma lição no padre, e convidou para o meu batismo em casa o maior cara da Umbanda em Bom Jesus. Meu padrinho João Maria e sua doce Lelé, negros, as figuras mais amadas que cruzei na vida.
Mais tarde, ironia, numa escola franciscana, eu era dispensado das aulas de “catecismo”. Achava uma discriminação me liberarem antes do término das aulas, porque havia Religião. Eu ficava sentado no muro, do lado da janela, ouvindo o que é que se passava com os meus colegas.
É que eles iam ser crismados. E eu falei pra Irmã Dulce, a irmã que me presenteou com uma Bíblia que ainda guardo, que também queria fazer parte da lista.
Não dava. Cadê a tua certidão de batismo?
Como eu insistisse, deram um jeito. Me levaram de contrabando pra Lagoa Vermelha e, lá, acabamos enganando o bispo.
Voltei pra Bom Jesus da seguinte forma: luterano-umbandista, crismado na católica.
Hoje, depois de ter ultrapassado a minha longa fase de agnóstico, digo que sou espírita.
Falei estas coisas lá na igreja, com aquelas imagens de fundo e sendo mesmo um legado. Admiro isto na Igreja Católica: a sua valorização da arte.
E vocês? Vocês conhecem fiel mais infiel. Ou um infiel com tanta fé como este que vos reza???

sexta-feira, setembro 28

Este é o texto de hoje a valer

Leiam este texto aí embaixo. Tá franciscano, moralista, uma espécie de poesia que mata duas ou três frases boas. E o resto é ritmo. Só isso.
Eu queria mesmo era falar de uma cadeira de praia. É, destas cadeiras de assento parecendo náilon, coloridas, com uns aros de aço. Destas cadeiras que sempre liguei ao lazer (isso eu falei para o jornal ontem em uma entrevista) e serviu também para eu assistir a primeira morte em minha vida adulta. Fiquei umas 3 noites sem dormir.
Era um domingo à tarde, no Hospital Pompéia, o hospital de todos os povos aqui da cidade e minha mãe agonizando numa cama do quarto ao lado (um conjuga do INSS, uma porta que dava para o outro quarto) e tinha um vôzinho passando a tarde de domingo na cadeira esta de praia, que os pobres levam para servir de cama nestes hospitais públicos.
De repente, vi o desespero da acompanhante deste senhor e chama enfermeira aqui, atendente ali, e eu atravessei a porta do conjugado bem no instante que o vôzinho perdia as forças e a vida. Foi a primeira de mais duas mortes que vi no Pompéia quando estive por lá uns 8 meses.
Um outro dia, a colega de minha mãe naquela semana era uma senhora, um senhora idosa, que pediu para ligarem pro seu filho, queria vê-lo.
Era um pouco antes do meio-dia. O cara mandou dizer pela auxiliar de enfermagem que não viria, porque não tinha com quem deixar a sua churrascaria, hot dog, lanchonete, sei lá, não entendi qual era a do cara.
Ali pelas duas da tarde a mulher morreu. Queria apenas se despedir do filho.
É, sucesso ao seu negócio!!!

Quando a conversa muda

Só temos tempo para conversar com medo. Uma hora com o médico, quinze minutos com o filho, um aceno pra mulher.
Só temos tempo para conversar sobre o próprio tempo, sobre uns rabos de nuvem e uma certa frente fria que o Uruguai nos traz.
Só temos tempo pra conversar quando há surpresa, um assalto, um crime, quando sobra pra nós.
A conversa do tanque, muito menos, Bagdá.
O desemprego e o divórcio. Conversar fazendo negócio. Conversamos com um abraço na aflição do adeus.
Temos tempo para um barbante? Conversar sobre panquecas? Conversamos pulando de assunto, conversamos fazendo desenho e o ponto que o rio subiu.
Sobre a gravidez, quando é grave. Sobre um hobby, se é vício.
Conversamos com intervalos, conversa no pé da cova, conversa de ex amor.
Conversar pra lembrar de chuva, conversa pra boi dormir.
Conversamos sem partitura, sem ritmo, sem graça, interessa é a bolsa que humilha e a família real.
Conversamos se há lágrimas. Conversamos um filho dos outros e a queda do avião.
Conversamos — e é sobre a Pátria, sobre a esperança e a náusea. Conversamos, se sobrar tempo, e aí já é muda consolação.

O convite

quarta-feira, setembro 26

Das escarpas da vida aos píncaros da glória, ou o Paulismo, ou ainda uma idéia engraçada que me fez abrir a crônica e mostrar as suas tachas

Encontrei outro dia, em sala de aula, um exemplar do jornal-laboratório dos alunos de jornalismo da UCS. O jornal estava aberto num texto, acima do qual estava escrito à caneta: Paulismo!
O texto marcado era de um aluno e começava assim: Nas ruas da minha infância, em Flores da Cunha, blábláblá.
Achei muito engraçado. Paulismo!
Claro que teria de ser ironia, mas temo que a pessoa que sublinhou este “paulismo” tenha feito a sério e veja mesmo algum tipo de escola nessa falação que eu deito sobre Bom Jesus.
Esta vai entrar pro meu anedotário, como aquela outra, de um sujeito que foi visto em São Pelegrino com uma camiseta escrita: Eu entendi uma crônica do Paulo Ribeiro.
Quaquáquá.
Mas, o fato é que Bom Jesus nunca me deixou sem assunto. E por isso eu tanto volto ao tema, em dia de preguiça, de nada a dizer, em cima do horário do meu compromisso semanal... eu, vamos lá, Bom Jesus!
É fácil. Datas redondas, por exemplo, eu corro nos meus arquivos e sempre há assunto.
Vejam só, 1957, há 50: foi comprado um carrilhão pra igreja com três sinos. Em julho, uma nevada derrubou parte da cobertura da igreja. Não deve ter atingido os sinos, porque até hoje eles dobram lá.
No mesmo ano foi inaugurado a Escola Frei Geraldo. A “paroquial” era dedicada aos pobres mesmo de Bom Jesus. Aos pobres da Vila Pinto, do Fundo do Coador e do Caraguatá, que vem a ser o que se compreendia como a “grande” Nossa Senhora de Fátima.
Naquele ano, frei Getúlio de Vacaria, que talvez tenha sido das melhores cabeças que passou pelo Bonja, foi escolhido paraninfo dos formandos do ginásio. E o frei Getúlio, que diziam ser bom de oratória, escolheu o seu discurso no esmerilho, a dedo: das escarpas da vida aos píncaros da glória.
Sério!!! Está lá num quadrão de madeira na parede do Ginásio.
Hehehe. O nosso frei Getúlio (me releve frei, tô brincando!) adiantava em alguns anos o Odorico Paraguassu, o mais notável personagem do Dias Gomes.
É ou não é ter sempre assunto em mão?
Paulismo ou Getulismo, não importa! O fato é que jamais queimei o dead-line. E de lambuja, por linhas bem tortas, acabei decerto descrevendo pedaços do meu Bonja.
E é isso: acabei de abrir a crônica e mostrar as suas tachas.

terça-feira, setembro 25

Pára de falar agora

Uma noite, meu caro, você e sua garota estarão no bar e ela vai se virar e dizer:PÁRA DE FALAR AGORA!
Será como um sopro quente o que ela estará dizendo e será quente como a música e será quente como ambiente e será bom pra você saber que a vida de um bar é bem legal por aí!!
É. Eu estou contando de uma garota que mandará você parar de falar e você deverá saber que num bar decente é bem razoável ouvir isso de sua garota e porque você também saberá que a noite deve continuar.
Será jogo duro, meu garoto. Aquele PÁRA DE FALAR AGORA continuará e se arrastará com a fumaça e aquele ar morno que só sabe ter um bom bar. E você dirá, tudo bem!
Sim, um Bar, meu caro, é onde a sua garota poderá dizer PÁRA DE FALAR AGORA!
E você deve.
Ela terá o seu bom motivo e você ficará em silêncio e poderá compreender que isso não é incomum e que você ainda tem um grande amor por esta garota e que isto voltará ainda um pouco e com todo o efeito na hora de dormir.
PÁRA DE FALAR AGORA. Será você com seu travesseiro e vai ficar tudo bem porque a música era mesmo decente e a sua garota não tinha outra coisa a fazer.
PÁRA DE FALAR AGORA!
Vai por mim, garoto, ela dirá. E você compreenderá que elas estão sempre com a razão.

(Não sou de ficar babando nos meus textos, dificilmente gosto do que escrevo, mas acho que neste acertei a mão. E a gravura também tem a ver. Coisa da corrida na semana. Reposto ele aqui.)

domingo, setembro 23

Reunião dos escritores

Nesta quinta, 27, às 19h, na Casa de Cultura, a segunda reunião dos escritores de Caxias do Sul. Integrantes da AGE (Associação Gaúcha de Escritores) estarão aqui, além de outros assuntos sobre a feira do livro.
Apareçam!

sábado, setembro 22

Vitrolas (Tempo...)

O novo livro

Lançamento: 7 de outubro, domingo, às 17h, Feira do Livro de Caxias do Sul.

sexta-feira, setembro 21

Saberia

Saberia se falasse com os mortos, se abrissem o mistério, o céu despencasse a chover.
Saberia o que acontece por trás da bondade, num acenar da saudade, no que se preserva no gelo, um amor que nunca se disse.
Saberia adiante, a dolorosa expressão mais tranqüila, saberia como se diz um adeus!
Saberia como se um Kardec curvo, um Kardec de joelhos, saberia o amor por compaixão.
Saberia. Saberia o soar do gongo, cada passo meu, inclusive, saberia cem anos atrás.
O verso da tabela, saberia. Saberia em conjunto com o sino, onde é que me enquadro no Código Civil.
Saberia e aconteceria. Operaria um milagre. Saberia o balanço das fábricas, a Ford, Chevrolet, saberia as datas, parentescos — descobrir no casamento o preço por mim.
Saberia malabarismo, o perdão, altruísmo, saberia depois o que treinei.
O rugir do leão e a partitura. O jejum e a lábia. Saberia acompanhar a gravidez.
E o que saberia para ser velado?
Saberia 100 missas? 1000 missas? Saberia depois destes milhões de missas a minha alma?
Saberia da situação.
Saberia minhas casas fechadas. Saberia como um arquivo.
Recordaria pedra, seria como um rádio. Saberia o que acontece em minhas próprias bombachas.
Saberia, eu, pára-raios! Saberia, fosse eu cata-vento! Saberia utensílio, uma lágrima, saberia minha sombra no deslocar.
Saberia feito um juiz, um médico. Saberia um cheiro, uma erva, saberia da alcova, o debaixo dos lençóis.
Saberia muito acima do que desejo. Saberia ser engraçado. Saberia um segredo, guardaria, saberia por pura intuição.
Saberia pressentindo, saberia e não só saberia como pensaria um rio.
Saberia os seus oito pontilhões. Saberia a criança triste, saberia quem come o alpiste, saberia um tango e a bonita manhã.
Por que a tuba toca? Por que o barro e por que aconteceu de os olhos de minha mãe eu fechar?
Saberia e não seria este mudo, este homem sem frase. Saberia o que me tranca o chorar.
Mas, nada sei.

quinta-feira, setembro 20

Vitrolas (Ne me quitte pas)

Dos amores

Nada mais inútil que o amor platônico. E o amor virtual só tornou essa patetice mais sofisticada.

pr

Literatura é ultrapassar o remorso

Um dos maiores dramas que eu vivo como escritor, autor, sei lá que nomenclatura se usa hoje para quem escreve, é narrar intimidades, dramas pessoais que insistem em sair. Ontem, postei aqui um texto, ex-texto deletado.
Ele dizia assim:
"Mais tarde, minha mãe no seu coma de um segundo AVC, não reagindo aos sinais (eu baixava a mão, dava tchauzinhos em frente aos seus olhos e ela nem piscava), pedi a esse médico que viesse dar uma olhada. Ele enfiou um aparelho no seu olho, parecia tirar medidas, sei lá. E eu ali do lado. Ele disse: seja forte, segura bem aí, porque ela não reage mesmo.
Mais uns dois meses, por essas coisas que não se explicam, minha mãe morreu me olhando. E me via. Certeza absoluta
.”
Sabe o que é:
Literatura é ultrapassar o remorso.

Não confundir simplicidade com a falta de invenção

Fui ler um livrinho despretensioso do Malba Tahan, e não é que rendeu alguma lenha. O livro do cara é cheio de incríveis problemas e inventivas soluções. Ele trata a Matemática em “linguagem de gente”, como certa Literatura sempre perseguiu.
E, no fundo, é isto aí mesmo. Falar como gente. Na segunda, no lançamento da feira, eu contei como cada um é conhecido em Bom Jesus. É o Juarez da Zaida, o Paulo da Carmem, o Alemão do Heloís. E tem referência melhor? Sobre o teu nome vincularem o teu berço! Pai, mãe, cidade, distritinho onde nascemos, acabam por nos acompanhar. Não há credencial melhor.
Mas, eu desconfio, aqueles que por acaso tenham lido algum livro meu ( e eu sempre disse que em literatura sou radical, não aceito o texto lienar, papinha de mel na boca do leitor) possam apontar aí agora uma contradição.
Não há. Vitrola dos Ausentes, na inventividade de sua forma (cada faixa do disco é uma fala, um evento, um episódio, características das pessoas e da cidadezinha) traz a linguagem como “se fala”. “Disseram que o Belè tinha roubado umas tal madeira”. “Mas o que é que te deu, homem, pra andar neste estado?!”
São falas coloquiais, a expressão autêntica daqueles sem voz. A simplicidade das suas vidas sem horizontes manchada pela invenção da narrativa, esta sim, radical, que exige um leitor cooperativo (aquelas “faixas narrativas” do disco a tocar na vitrola do meu cabaré sugerem. E o leitor deve também preencher os “arranhos” que possa haver em algum vinil), senão empaca e não vai.
É isso, em síntese: não confundir simplicidade com a falta de invenção.

quarta-feira, setembro 19

Progressão narrativa pra falar do amor

Sai meu ar em luterano e eu funciono o cara mais cômico na hora de escrever.
Eu mesmo sorrio, acho graça, eu crio a estética do sopro, eu toco em meu bombo tarola, eu faço das frases a maior diversão.
Eu busco a fala da perdiz. Sou experiente em carneiro d’água. Sou catálogo, sou mau preço, eu crio na verdade adereços pra dizer que sou pai.
Eu estudo as tarolas pra escrever! Eu estudo a música patética. Eu estudo a mecânica da expressão.
Eu já fiz desenho bucólico. Eu já fiz da calvície meu tema e um jarro, já quantas engravidei?
Quantas, hein, Paulo, escrevendo?
Quantas, Paulo?
Já levou um passa-fora? Aprendeu com o simples (a amada no banho, a gravidez não-dita)?
O amor merece colo. Alegria, não pena.
Já comeu milho cozido? Conhece o amor de cabelo louco?
Não, não. Não merece o amor a astúcia.
Goste. Perdoe sem surpresa, Paulo!

terça-feira, setembro 18

Boneco molão saiu do fogo (ou a história de um incêndio nos 17 rádios)

O João Surdo botou 17 rádios na rua pra ouvirem a furiosa notícia do carnaval do incêndio.
Foi na ocasião da rainha:
Elegeram a rainha e — rainha eleita, justo, merecido — a Guadalupe saiu erguida num cordão organizado.
E trouxeram um rei pra Guadalupe entronizar.
Um esqueleto de namorado dela. E parodiaram esse rei-esqueleto na pessoa de um molão.
Um boneco, um manuseado rei, marionete, e troçavam com ele nas cordas como o São João Maria na imolação.
Bem manipulando e hereges, em poucos minutos fizeram o maior cortejo pra morto que já se viu. Com alto-falantes e tudo.
Guadalupe tinha esse nome em homenagem à santa mexicana da anunciação. É que sua mãe, Dona Maria Lura, a famosa Formiga, doceira, era muito forte em devoção.
Guadalupe tinha uma filha para criar. Se chamava Tuca a guria.
E, bem no carnaval, a casa delas queimou.
Ficou a Tuca lá dentro e a Virgem de Guadalupe no pedestal.
E daí que se encapuzaram e foram fogo adentro como se o cordão do carnaval.
O que seria salvo do fogo era pouco, em dois minutos de conversa já dava de dizer.
Mas os rádios do Seu João Surdo tinham a mania de encompridar o incêndio.
E a Santa e aquele cordão de moreno que lá pra dentro do fogo entrou demorava quase uma manhã no noticiário.
Cada idéia! Ora, botar rádio na calçada, ora arrumar capuz em dobra!
Foi o que fizeram. Os encapuzados dos sacos cada um deles pra dentro do fogo.
Por causa daquele engano de forno e cheiro de doce em louro já iam a se espalhar.
Um incêndião bem de madrugada. Tinha pegado fogo na casa e tiraram a velha ligeiro e não me esquecem justo a criança, o principal.
A criança, uns docinhos e a Virgem de Guadalupe ficaram lá dentro do fogo e o que tinha de homem e mulher já chegaram apressados pra ver o jeito de ajudar.
Em fogo nunca se sabe, e foi uma engomadeira que tomou a definição: enfiassem em dobra cada saco no rosto e entrassem pra dentro do fogo e vissem lá dentro se podiam tirar com vida o que se pudesse ver.
Andavam junto lá dentro atrás de nada e já não havia entre eles cordialidade, porque em incêndio, até debaixo de chuva, de noite, um ou outro pega sempre a se irritar.
Acompanharam junto do padre a casa velha a queimar, coisa mais triste, os morenos entrando lá dentro e andavam naquela missão.
Ostrinha derretia assim na pedra, tanto era o calor.
Remédio, vidrinho explodia lá dentro.
E o que era de mais pra doceira, bandeja, travessas de entrega, se arranjava de novo depois. Que se pensasse agora na neta e o resto se ia arranjar.
Um Leônidas tinha dito com razão esses conselhos e a Formiga tinha os braços da filha em torno do corpo inteiro e suado, chegada do Carnaval.
E choravam naquele foguetório. Chuva mesmo de cartucho subindo, e assim é que descobriam que a Maria Lura tinha espingarda por casa.
A doceira tinha a sua filha, a neta, uma cicatriz com fiapos e uma espingarda.
E tava ali afligida por tudo. Que não se envergonhasse por isso.
Que ela se acalmasse, iam dominar o fogo, tinham tomado do fogo metade do sobradão.
E um Vital que voltava de estômago ardendo do incêndio, esse Vital pegando fogo foi tomar água numa torneirinha.
O Vital já todo queimado, mas trazendo a vestimenta da guriazinha.
Agora sim.
A Tuca desnuda lá dentro do fogo e o Vital sem poder falar se tinha visto a criança bem. Se dormia ou coisa assim, porque era de noite.
E um belga lascou “olha lá” pro povo, porque um outro moreno voltou correndo do fogo dizendo que tinha visto a Tuquinha, sim.
E a doceira, nem se lembra, nos braços de quem desmaiou.
Tava viva a menina e, como em prática de incêndio, a guria veio puxada na afobação. Ia pra uma caixa de papelão.
Agora era controlar a hora da água e nas três torneiras botaram mangueira e fincavam água no que era madeira com bastante pressão.
Um sapatinho azul anil subiu pra cima com o borrifo e o que era de prego e prato e copo ganhava impulsão.
Só se desviava a água do que fosse dinheiro.
Que noite! Com uma caixa mesmo do fogo, o terceiro moreno (o Luís S. do Záide?), cabeçudo de fogo, voltava irreconhecível.
Era. Era o Luís S. que vinha inchado.
Parecia com aquela figura de São João Maria ardendo no fogo que o padre tinha atrás do altar.
O corpo ao menos do Luís S. vinha bêbado num ergo fogo, escapo por baixo e grudadinho na caixa que a criança tinha dentro.
O Luís S. tinha bebido na hora do incêndio, bebia toda hora, e fazia essa exibição no fogo que lhe passava na cabeleira.
Era o homem do Sete Baiano, o mal-visto do Pôquer Itália e virado um divertido ao sair com a criança na caixa do incêndio afora.
Festejando, de brasa fantasiado, e como um boneco molão de novo gritava: foi um milagre que eu fiz!
Foi uma milagre dele... esqueleto de carnaval! E os rádios diretamente ligados em Porto Alegre depois diziam que um operário do Curtume tinha salvado uma criança de um incêndio no interior do Estado.
***
(Esta história deveria fazer parte de Valsa dos Aparados —o meu livro de contos sem desfechos— mas sobrou.)

segunda-feira, setembro 17

A invenção e a simplicidade

Terminei de ler O Homem que calculava, do Malba Tahan. O cara é bom, o livro é bem bacana, com os seus incríveis problemas e inventivas soluções. A Matemática em “linguagem de gente”, como certa Literatura sempre perseguiu.
E, no fundo, é isto aí mesmo. Falar como gente. Hoje, no lançamento da feira, eu contei como cada um é conhecido em Bom Jesus. É o Juarez da Zaida, o Paulo da Carmem, o Alemão do Heloís.
E tem referência melhor? Sobre o teu nome vincularem o teu berço!?
Pai, mãe, cidade, distritinho onde nascemos, acabam por nos acompanhar. Não há credencial melhor.
E acabou me ocorrendo na fala esta trilha. Clica aqui. http://www.youtube.com/watch?v=P7mHf-UCZp0

domingo, setembro 16

Lançamento da Feira

O lançamento da Feira do Livro aqui de Caxias será nesta segunda, 10h, ali na prefeitura. Fica aqui o convite.

Rotina para vencer a solidão

Não há piedade: minha solidão me cobra chamar o conserto. Pagar aluguel, negociar aquela dívida em parcela.
Eu desenho com um lápis de vento porque a minha solidão me faz cumprir calendário.
Não há piedade, minha solidão é Matemática: corrijo textos, como disso, o meu ganha pão é este exercício solitário.
Minha solidão tem asas e a pior solidão é como uma música travada.
Há uma gota na pia. A solidão tem companheira.
Eu fujo destas. Dono de crases, dono de livros, dono da sorte, eu já fiz o bom exercício de só às vezes cruzar a saudade.
Eu não estou sozinho feito um homem de luto, mas ainda assim digo, vamos solitário, alegre-se!
Vá ao mercado, você é o dono da casa que não tem muitos luxos: compro sapólio, Ajax, eu compro margarina como compra um solitário.
O solitário é aquele cara que sai várias vezes pensando em comprar um bicho. Coisas de gente sozinha que usa a geladeira como a melhor agenda.
Está tapada de recados. Minha solidão me passa e-mails.
Vejam que a solidão me põe na prensa e eu bendigo: não há por aqui opinião ou idéias.
A cor, se combina ou desbota, vai pelo humor que eu traga.
Eu sou vencido pelas coisas e a sua geometria: o varal com a roupa despenca? Eu calculo de novo o peso.
Viver na solidão, se querem saber, é se encher de horas marcadas. E eu mato a solidão o dia inteiro.

sexta-feira, setembro 14

O novo livro

Esta é a capa definitiva.

Valsa das letras

Alegria, alegria! Argélia. Regalia. Galeria. Alegrai! Gear, ali? ‘Gare’, (lia). Geria lá... Lá regia! Elga ria. Ar e liga. Ri... alega... Ali, gera? Era gila. Ela? Gari. Ela gira. Ia geral! Alergia.

Vitrolas (Kashmir)

quinta-feira, setembro 13

142.857

142.857
—Que significação tem esse número? — perguntou.
—Trata-se — respondeu o calculista — de um dos números mais curiosos em Matemática. Ele apresenta, em relação aos seus múltiplos, coincidências interessantes.
Multipliquemo-lo por 2. O produto será:
142.857X2= 285.714
Vemos que os algarismos constitutivos do produto são os mesmos do número dado, em outra ordem. O 14 que se achava à esquerda transportou-se para a direita.
Efetuemos o produto do número 142.857 por 3:
142.857X3= 428.571
Ainda uma vez observamos a mesma singularidade: os algarismos do produto são, precisamente, os mesmos do número, alterada apenas a ordem. O 1 que se achava à esquerda passou para a direita, os outros algarismos lá ficaram, onde estavam.
A mesma coisa ocorre, ainda, quando o número é multiplicado por 4:
142.857X4= 571.428
Notemos, agora, o que vai ocorrer no caso da multiplicação por 5:
142.857X5= 714.285
O algarismo 7 deslocou-se da direita para a esquerda, os restantes permaneceram em seus lugares.
Observemos a multiplicação por 6:
142.857X6= 857.142
Feito o produto nota-se que o grupo 142 permutou apenas de posição com o 857.
Uma vez chegados ao fator 7, impressiona-nos outra particularidade. O número 142.857 multiplicado por 7 dá como produto o número:
999.999
formado de seis noves!
Experimentemos multiplicar o número 142.857 por 8. O produto será:
142.857X8= 1.142.856
Todos os algarismos do número aparecem, ainda, no produto, com exceção do 7. O 7 do número primitivo foi decomposto em duas partes: 6 e 1. O algarismo 6 ficou à direita e o 1 foi para a esquerda completar o produto.
Vejamos o que acontece quando multiplicamos o número 142.857 por 9:
142.857X9= 1.285.713
Observemos com atenção esse resultado. O único algarismo do multiplicando que não figura no produto é o 4. Que teria acontecido com ele? Aparece decomposto em duas parcelas 1 e 3, colocados nos extremos do produto.
Do mesmo modo poderíamos verificar as singularidades que apresenta o número 142.857 quando multiplicado por 11, 12, 13, 15, 17, 18 etc...
Trecho de O homem que Calculava, de Malba Tahan, que estou devorando. O livro é cheio destas incríveis coincidências precisas da Matemática.

quarta-feira, setembro 12

O homem que calculava e a adição do aprendiz

Como é ser patrono?
É o que mais me perguntam.
Na primeira semana, confesso, estranhei. Depois, como sou muito piadista, eu digo: saiu na urina. A novidade arrefeceu e o medo nem sei mais.
Estou acostumado à idéia. E nada mudou no cerne, só algumas iniciativas e atitudes, de fato, o patrono precisa controlar. A personalidade deve ficar mais branda e saber os limites e tals.
Tão vendo, sou um patrono que escreve, tals, e, aprendiz como sempre, diria que vou até me divertir.
Claro (agora jogando pra platéia, leiam aí), fosse para escolher (arredio e tímido que sempre fui) preferiria ser patrono da natureza. Quem sabe, padrinho de algum rio ou terra não-queimada, sei lá. Ou, patrono dos pássaros, dos bichos, das árvores, como São Francisco foi.
Mas me coube ser e isso é um orgulho. Ser patrono dos livros e livro pressupõe gente, leitor, editor, autor, bem nessa ordem aí.
Ser patrono então, eu diria em resumo, é a arte de conviver. Ser anfitrião.
Claro, vem junto o conjunto da obra: não esquecer o primeiro livro, a professora que o alcançou.
Tão vendo, já corri pra infância!
É que sou de carne e osso, urino... e, por isso, andar na praça será uma atitude calma, humana, normalidade, porque eu sou mesmo um mero aprendiz.
Outro dia, no Bar do seu Ivo, cobraram se eu conhecia a nacionalidade do Malba Tahan. E se eu conhecia o seu “famoso” O Homem que calculava. Tô é tratando de fazer o dever de casa agora. Fui achar o livro do cara e ele está aqui.

Dois blogs bacanas

Dois blogs bacanas estão explorando a internet numa das coisas que ela tem de melhor: permitir usar a criatividade ao mesmo tempo que se traz informações de interesse. Os blogs são dos alunos de Jornalismo da UCS (Universidade de Caxias do Sul) e estão fazendo literatura infanto-juvenil em cima de dois temas de relevância. Um, trata da piração pré-vestibular. O outro, da coleta do lixo.
Os textos são coletivos e atualizados diariamente (em forma de episódios), com o melhor estando na surpresa que o autor do dia deixa para o próximo post.
Faz parte de uma disciplina experimental da UCS e estou com eles nessa.
Vale conferir!
CLICA AQUI:
http://www.turmadalimpeza.blogspot.com/
e
http://www.vestipirandos.blogspot.com/

terça-feira, setembro 11

Palomas, os ausentes e o fantasma de Erico

Tive a honra de ser escolhido patrono da Feira do Livro de Caxias. Em Porto Alegre, na lista dos patronáveis, estão Carpinejar, Juremir Machado e Luís Augusto Fischer. Não vou dizer que é a nossa geração, mas parece ter acontecido aí uma coincidência que expõe a nossa turma.
Quem somos? Antes de tudo, uns sujeitos otimistas. Com os nossos defeitos, obras pela metade, persistimos quando se sabe dos parcos índices de leitura. Investimos vida e cada centavo nisso. Não tivemos casa. Um dia, no Bar do Antônio, brinquei com o Fischer: somos a turma do apartamento alugado. O mote virou ensaio no seu livro seguinte, com o título Desenho de Uma Geração.
Fischer, tentando nos entender, aponta dois fatores: a nossa descendência (classe-média baixa, alguns até mais pobres) e os fantasmas Quintana e Erico.
A literatura que nos antecedeu foi feita por jovens oriundos de famílias que geriam o campo. Ser escritor era sinônimo de posição social. Com a literatura perdendo status, nossa turma entrou neste vácuo.
Por outro ângulo, a literatura gaúcha, já se disse, sofre de torcicolo, tanto olha pra trás. Em prosa, Erico. Em poesia Quintana. Imagine-se ter estas duas sombras. Pois, a nossa turma já não padeceu deste mal como um Tabajara. (Taba, Assis e Scliar situam-se na passagem daquele “status”). Já não tínhamos compromisso com o passado, visto que vínhamos “de baixo”.
Somos cria da cidade, das Casas de Estudantes, a turma do apartamento alugado que chegava para tentar a universidade como forma de salvar o pescoço. Juremir de Palomas, Livramento, que equivale aos Ausentes no Bonja. Fischer, precocemente dando aulas. E Fabrício fruto dos novos tempos, da dissolução de dois poetas: Maria Carpi e Carlos Nejar, que reuniria de novo ao se assinar Carpinejar.
Classe-média, modernidades, há ainda o componente político. Somos a esquerda pós-ditadura. Lembro nós, da JUC 7, aos pés de Flávio Tavares em sua volta do exílio.
Os patronáveis são isso. Afora o Vitor Ramil, desconfio, como padrão estético.
Crônica de amanhã no Pioneiro.

segunda-feira, setembro 10

Saudade

Hoje é um dia de muita saudade. E é isso!

domingo, setembro 9

Hai-Kai

tomar a
garrafa
andar no liso


Vitrolas (Easy rider)

Como hoje é domingo, um brinde ao velho Hemingway seguido de uma bela cena.
CLICA AQUI
:http://www.youtube.com/watch?v=gPtkVo92nTU&mode=related&search=

sábado, setembro 8

Hai-Kai

repousa
a natureza
o ventre com preguiça

Hai-Kai II

a chuva
se debruça
de vento ocupada

Hai-Kai III

na cruz
de braços
o vento se espanta

sexta-feira, setembro 7

Se

Se o tambor tombou, bebem a gasolina
Se prenderam o réu, a prova é de chumbo
Se perder o véu, é cabelo louco
E se é o Beleléu? Toma o seu destino

Se o latim parou, segue gregamente
E se o mar se abriu, lança então semente
Se uma hora folga, o ponteiro alcança
E se o céu chorar, sepultam criança

quinta-feira, setembro 6

Hai-Kai

arejada
a carga
cesto de vime

Hai-Kai II

a lágrima de Jesus
no trevo

o beija-flor está triste

Hai-kai III

num passo de
chumbo
passa a tartaruga

quarta-feira, setembro 5

Vitrolas (Acrilic on canvas)

O patrimônio do silêncio

A peça de um suspensório, uma boneca desnuda, um distintivo do Grêmio.
Um bule com manchas de cinza, um apito jogado longe, a folha que foi do plátano.
O balde, um bombo e um surdo, um prato de louça sujo, panela de chumbo torta.
Um vestido desbotado, um lápis todo barbudo, um lampião banhado em cobre.
A cristaleira trincada, um ano inteiro a caneca, a meia dúzia de cálices.
Um beija-flor sem o bico, um livro dos perseguidos, escala e mais partituras.
Recortes de folha larga, gravuras de amor em couro, um tambor ali destapado.
O vento que entra na fresta, uma cesta que jaz num canto, ponteiros em descontrole.
Uma honra já sem moldura, a cadeira toda de vime, um funil já preto, mas liso.
Um tarro pintado em verde, um pegador retorcido, de brasa, o fogareiro do mate.
Uma fábula faltando bicho, a faca sem cabo e uma broca, um álbum tomado de teias.
Uma pipa de guardar lágrima, aquela garrafa roxa, a jarra num tom de vinagre.
Um alambique caseiro, um casaco de solteiro, um berço, caveira e pedaços.
Um selo embebido em cera, a cinta de um Sidino, a arte que resta num frasco.
Um Cristo torneado em prata, um olho feito de vidro, um peso e mais 5 litros.
Um garrafão e galochas, um velho bodoque, uma rosa, borracha de pôr na cintura.
A cifra de um certo Hortêncio, receita de doce-de-gila, galhetas de usar na missa.
Uma bolsa usada por doentes, um formão de mau aspecto, formigas que andam amiúde.
Um papel de casamento, um véu de usar no luto, figuras de uns jogadores.
Um casco de tartaruga, um tostão falsificado, Deus em dobro escrito num pano.

terça-feira, setembro 4

Diversão aos navegantes

Vou te dar a minha ciência, a minha ciência fraterna, a minha balela sincera, a representação da roda e do eixo.
A mais pura diversão. Fique aqui, não mude de blog:
vou trazer a muda ortografia, a minha missa de Sétimo Dia e o instinto dos solteiros. A nossa comédia humana, o elogio que me salta dos lábios. O sangue do meu sangue, hehe, o meu jogo de personagens.
O meu jogo de frase espalhado, maluco, sou árvore, eu vou fingir que sou grego. E vou começar um teatro. Um comprai em nossa farmácia, um astral bem de polaco, o meu humor de ferreiro.
Tá na bigorna se ajeitando. Sou moreno, negociante, estrelas no meu terreiro eu deixo que nem um gato. Os olhos dele. Eu noto e anoto. Que a minha letra é sem hora e isso se chama na ciência a memória do Paulo.
Exemplo?
A Tuca Velha.
Lembro a canção da maluca, e lembro a Tuca casada com um sírio banguela. O mais dedicado sírio que já vi no amor era o dela.
E qual a explicação pra tal feitiço? A paixão. A escrita. Aprendi, vim dos Trindades, sou Catálogo da Esperança, eu interpreto até o guizo de cobra. É o meu Sistema Gertrudes, benzedeira lá do Bonja!
Será que se morre sabendo?
Merecemos ser assim tão sérios?
Dou braçadas, pareço um marreco, eu nunca que me deslumbro com o chamado método. Eu faço é muito barulho e na linha da minha escrita se pensa pouco. É só forma, seja em texto, seja em nota, eu quando encarnei inseto me disseram "um escritor"!!
Escritor por causa do velho. E do mar. Eu fui na praia, fui de propósito, eu fui ler então Ovídio e vi as formigas no sexo.
Descrevi um guarda-chuva, descrevi cerveja agüada. Ouvi um monte de música e fiz o que um inventarista deve fazer: eu amei umas quantas mulheres.
Amei, me amaram, eu lembro da lagunense deitada na areia.
Desenhei, criei histórias, eu ontem reproduzi essa moça na harmonia das sombras...
(meu pensamento no mar acaba em naufrágio) ...
E ontem eu vi um casal se mandando na estrada. E seguiam na estrada com a porção de netos.
O humor das crianças, seu encantamento: é que viam o avô deitado e o avô deitado de brim dormindo.
Ele era um Cômico. Ensinava no sono.
Será que um dia eu aprendo?
O coração me dita estas coisas: modéstia. Humildade, mas que eu siga os Tertulianos no Tênis Clube.
Saúde!

segunda-feira, setembro 3

A mecânica da viagem

A mecânica é pra tempo escasso, é como amarrar um fio fino, é comparar alho e cadarço e o crucificado falar.
Há a mecânica da luz e dos grilos. Há a mecânica numérica e esta da enrolação.
Das sombras, das árvores e do oculto. Toda a mecânica humana se resume num salão.
A mecânica quando dança. A mecânica das águas, a mecânicas das asas, do pretérito e do bebum.
A mecânica do processo, das nuvens, a mecânica da paciência e do gesto, a mecânica das latas e do cirurgião.
A mecânica do Dire Straits, do Led, do Tião Carreiro e Pardinho, a mecânica que toma as rédeas do cavalo no galpão!
A mecânica que desbota o jeans, tinge as patas, a mecânica do chapéu de Labeo.
A mecânica do espaço — do balde no poço — a mecânica da linha de passe e da infinita aliteração.
A mecânica da mecânica é a acrobacia. A mecânica que funde o verbo no livro é a chamada edição.
A mecânica litúrgica e a mais recente do pastor.
A mecânica das mangas, pra usar Havaianas, a mecânica que tem a forca e desses olhos da moça ali: a mecânica de criar beleza e maneiras de amar.
São mecânicos os prosadores, os otimistas. Toda a mecânica do alpinista está em não olhar pra trás.
Não é dom é um propósito. A mecânica é juntar conteúdo na forma e fazer viajar!

domingo, setembro 2

A Cultura toma a cidade

Caxias do Sul será oficializada como a Capital Brasileira da Cultura 2008 nesta segunda. E o dia será de tomada da cidade por música, poesia, dança, oficinas, exposições, oferta de livros, mateadas e muito mais. São mais de 100 atrações por diversos pontos.
Agora, até 31 de dezembro de 2008, não cessam mais os eventos. A Feira do Livro, logo em outubro, será uma primeira mostra do que Caxias oferecerá como Capital.
Não se surpreenda com a chegada dos artistas na segunda em sua escola ou trabalho. A intenção é esta mesma. A Cultura tomar a cidade.
E o ponto alto da programação será às 17h, nos Pavilhões da Festa da Uva, show com Ivan Lins e Orquestra de Sopros, com a participação do Coral Municipal. Gratuitamente.

sábado, setembro 1

Pequena blague para um pai sem filho

Sai meu ar em luterano e eu funciono um cara cômico na hora de escrever.
Eu mesmo sorrio, acho graça, eu crio a estética do sopro, eu toco em meu bombo tarola, eu faço das minhas frases a maior diversão.
Eu nunca fiz desenho bucólico. Eu já fiz da calvície meu tema e um jarro, já quantas engravidei?
Eu busco a perder, minha música patética, eu crio na verdade adereços pra dizer que sou pai.