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Quando cai a neve no Brasil
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As luas que fisgam o peixe
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Meia encarnada, dura de sangue
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Contos do Novo Milênio

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sábado, março 31

D. Tertuliana


Programa de índio

O frei Cristóvão de Mendonça, que dá nome ao colégio aqui na Rua Júlio, foi um jesuíta que catequizou mais de 5 mil guaranis na fundação das missões no Rio Grande do Sul.
Ele foi martirizado, assassinado pelo índios que lhe arrancaram a língua e atravessaram o coração com uma flecha para exibir aos outros índios traidores que estavam ao lado dos padres.
A história diz que os índios promotores do martírio eram de má índole. Mas o que é que os padres queriam lá na terra dos caras???

Los hermanos Marx

Porque hoje é sábado, vou deixar aqui como sugesta esta cena memorável

de Uma Noite na Ópera

É a cena do camarote...

Com vocês, Groucho, Chico e Harpo. Divirtam-se!
clicaí:www.youtube.com/watch?v=-lPZhdOLBTc

sexta-feira, março 30

Ter descanso

Ter descanso atrás de uma sombra, ter descanso cabendo nas calças, ter descanso é dinheiro a sobrar.
Ter descanso é coisa do Diabo, ter descanso por todos os lados, é ficar como um leão.
Tem descanso um pequeno, um nascido, tem descanso do falecido, é descanso convalescer.
Tem descanso de mãe, a hora que parte. Tem descanso que é mingua, do réu, desemprego. Ter descanso de formiga a cigarra inventou.
Ter descanso é teatro, bom lençol, bom abraço, dar descanso pros filhos é cuidar coração!
O descanso lucrativo, tem descanso imperativo, ter descanso é profissão.
É preguiça, caldo e cana, Paulo Brossard e o seu chapéu.
O descanso como um fardo, ter descanso prolongado é a causa do moleirão.
E tem descanso que é só desencanto, o fim do amor!
pr

quinta-feira, março 29

Saudade

Leva a minha mão nas tuas
tenta dormir nós dois

pr

terça-feira, março 27

Mergulho






Mergulho II





Mergulho III


Capital da Cultura I

Eu tenho provocado alguns amigos, pessoas bem informadas, qual é a Capital Brasileira da Cultura este ano? Não sabem. Nem eu. Nem deste ano, nem do passado.
Bueno, por aí eu começo a defesa da candidatura de Caxias à Capital da Cultura em 2008. Ah, vão ficar sabendo!, porque temos aqui meios de comunicação que contemplam todas as áreas: temos tevês, jornal, rádios, uma ótima extensão já de informações on-line. Pelo menos por este ângulo Caxias poderá se mostrar melhor que as capitais anteriores.
Sim, eu considero Caxias do Sul candidatíssima, não só pela mídia, mas por alguns outros fatores.

Capital da Cultura II

Ser Capital da Cultura significa “troca”, isto é, trazer gente com suas tradições, obras e idéias, para levar daqui nossas idéias, obras, tradição. Isso implica em ter bom aeroporto e infra hoteleira, coisas que a cidade e a região já oferecem.
Outro aspecto positivo é o nosso potencial de público. Ora, somente em curso superior temos um universo de 40 mil alunos, entre universidade e faculdades, sem contar a rede pública e privada com seu contingente de alunos em formação.
A possibilidade de incluir eventos da “Capital” na Festa da Uva é outro bom argumento. A idéia tornaria mais abrangente o investimento na área cultural durante a Festa, o que acrescentaria aos shows comerciais a presença, quem sabe, de artistas e projetos mais elaborados.
Boa ou média, a atuação cultural de Caxias também pesa muito nesta possível candidatura. Todas as áreas da cultura, dança, música, teatro, artes plásticas (incluindo a fotografia), literatura, estão em plena atividade.
Há por aqui também uma grande disponibilidade de espaços culturais (Teatro da UCS, Casa da Cultura, São Carlos), além da ocupação dos museus e parques da cidade. Temos ainda uma Feira do Livro totalmente profissionalizada em sua organização.
Por último, e este é um passo importante, a disposição da comunidade. É preciso querer Caxias a Capital da Cultura por um ano. Eu só vejo ganhos em perseguir este sonho!
Crônica de amanhã no Pioneiro

segunda-feira, março 26

Nu Ióq e o Salvador Dali morrendo

Caramba, está fazendo 20 anos que escrevi Glaucha. Eu tinha largado tudo e me arriscado numa bolsa de estudos em Toulouse (e pombas, eu fiquei bem instalado, com uma janela que dava pra Figueiras, bem pertinho, onde Salvador Dali morria, não morria, em 87).
Loguinho acabou minha grana e nada de bolsa e me sobrou um casal de amigos. Eu poderia ir colher uva. Não quis. Eu voltava, mas antes, me ajudassem a escrever um livro.
E como Albane e Jacques me ajudaram! Passei 3 meses só escrevendo e eles me fizeram ranchos e me alcançaram até cigarros. Devo a eles o Glaucha.
Soube depois que os meus amigos tinham também largado tudo e estavam morando num barco na Espanha. Nunca mais nos falamos, mas eles receberam o livro que é um vôo sem redes e, acho, decente.
Voltei, não colhi uvas, e Glaucha saiu aí. Veja este trecho:

Há palavras que requerem uma pausa e um silêncio:
Nu Ióq!
“...........”
sonouro
completamente vivo.

Glaucha, p. 138.
Publicado em 1989, bem antes, portanto, de 11 de setembro de 2001

sábado, março 24

Durante a fala

Uma fala figura, aparenta, bambeia
uma fala durante o desenho escurece

uma fala durante o verso é moderno
uma fala durante o corpo se despe

uma fala durante a graça se humora
uma fala durante a morte declina

uma fala durante o vacilo é combate
uma fala durante a derrota não cede

a fala que chora durante uma lágrima
a fala que é pomba-gira pra chamar orixá

uma fala durante o barco revela!
uma fala durante o incêndio se apaga

a fala que afia, que lima e tempera
a fala do nada durante esvazia

a fala que corre, zoa e protege
uma fala que blefa, costura e destila

a fala que eleva, é benesse, naufraga
a fala sugere durante o presságio

a fala faz preço, a fala estipula
a fala durante a piedade te humilha

a fala que é grito, do parto te expulsa
fala durante a fala é aquela que estraga

a fala carece de quem se enamora
durante o relógio a fala envelhece

a fala que enruga, a fala da foto
a fala põe cláusula — é a fala que cala

a fala que durante a língua
se desossa,
liberta!

pr

sexta-feira, março 23

O justo amor

O justo amor chegava cedo, amor debaixo de chuva, era pouco e se acabou.
O justo amor adorado, muito em si, transmitia confiança, foi amor que saiu gritando a sua mais bruta impressão.
Não mais o amor que falava mansinho, amor, só amor no princípio, a maior trapalhada depois.
Amor ajuda, amor tristeza sobreviveu. Justo amor que retribuía visita e caiu na solidão.
E caiu pra valer, o amor que atendia à fala, o justo amor que acabou pausado, em silêncio, incompleto, racional.
O justo amor que trazia certezas mais uma vez se enganou.
O justo amor que se expandia em carinhos, os seus milhões de carinhos que podaria depois.
O justo amor obsessivo (breve!) à indiferença passou.
O justo amor, que é o amor no começo, era pouco, se acabou.
pr

quinta-feira, março 22

A cabeça do morto

Bernardino tinha dois metros de altura e, quando morreu, Bento da Lavra Pinto não viu jeito senão emendar duas mesas para o corpanzil do amigo.
São os primeiros escritores de Caxias do Sul, ambos funcionários da Comissão de Terras à época da imigração. Em 1884, dizem, tuberculoso, Bernardino veio morar aqui. Funcionário da Fazenda Federal, ficaria encarregado do pagamento aos italianos na instalação das colônias.
José Bernardino dos Santos era um intelectual de prestígio. Interlocutor de Apolinário Porto Alegre, era o orador oficial e dos mais assíduos na revista do Partenon Literário, movimento que agitava a Capital naquele período.
Na Revista do Partenon ele divulgaria o seu texto mais importante, Serões de um tropeiro, com o pseudônimo Daymã.
Na sua História da Literatura do Rio Grande do Sul, Guilhermino César atribui à obra a primeira abordagem do gaúcho serrano.
Embora Apolinário houvesse pincelado as “selvas da Vacaria” em O Vaqueano, no Serões é que teremos uma visão de quem conhecia o meio.
A Biblioteca Pública de Caxias do Sul guardava até bem pouco a mesa que serviu de repouso à cabeça de Bernardino morto, doada depois para a Academia Caxiense de Letras.
Mas o que não se acha mesmo são os dois capítulos finais do Serões de um Tropeiro, o que é uma lástima.

Os Bee Gees foram os nossos Beatles

Quem se deslocava ganhava o olhar.
Quem se deslocava em torno da boate ganhava o convite expresso das garotas se tocasse... Bee Gees!
A sedução é convencimento, talvez já soubessem.
E, por isso, embora tão iguais no compasso, tremiam depois concentrados que deviam convencer.
A sedução é convencimento. Por isso, sem projetos, mas virtudes, sem horizonte, mas com uma grande vontade de acertar, dançavam com a vida esquecida lá fora.
Naquele clubezinho de madeira ainda não se “ficava”, levava-se em casa.
“Amanhã, depois da aula”, “no sábado, quem sabe”.
Combinava-se o reencontro e se voltava na noite assobiando a canção que devia ser.
Era esta aqui.
Clica: www.youtube.com/watch?v=mARmCouGVGs

quarta-feira, março 21

O sino de D. Bilia

A D. Bilia morava ao lado da igrejinha dos pobres. Pelo menos era assim que chamavam a igreja de Nossa Senhora de Fátima, que dava nome de bairro à Vila Pinto, a mais pobre de Bom Jesus nos anos 60, quando a templo de madeira foi lá construído.
E foi construído bem ao lado da casa da D. Bilia, que também cuidava da conservação da igreja, além de bater o sino de tardezinho.
Entre a casa de D. Bilia e a igreja ficava o sino, num campanário rude, também de madeira, com umas cordas que pendiam e ficavam atadas ao tocos de pau que serviam de base.
A missa das Sextas-Feiras era na vila. Com minha família adotiva, eu morava bem na entrada da mesma, e isto queria dizer, quando se “passava” a igreja.
É que a igreja ficava de frente para uma rua interrompida e a construção era uma espécie de ponto final da via. À esquerda ficava a Vila Pinto.
Toda as sextas-feiras a D. Bilia tocava o sino anunciando que missa na cidade, neste dia, só ali, na igreja dela.
Era assim a paisagem: a casa da D. Bilia, ao lado o campanário com o sino, a igrejinha, uma churrasqueira e o Clube Fátima, que ficava nesta seqüência.
Fundado por frei Hermeto, um frei comunista, em 1964, o “Fátima” era, digamos, a parte nobre da Vila. Só que o clube acabou tomado também pelo pessoal da cidade, que não compartilhava obviamente das missas no templo.
Com pouca audiência, um dia, resolveram transferir a igrejinha para um outro bairro, a Vila Madeireira, ou Vila Santa Catarina, o seu nome de bairro.
E lá foi então, depois de arrastada em toras móveis para um caminhão, a igreja inteirinha. Atravessaram a cidade com aquele cortejo de tábua, caibro e janela santa. Um milagre num raio de não mais do que 4 quilômetros. Nossa Senhora de Fátima era agora Santa Catarina.
E vá se saber o vazio que curtiu a D. Bilia!

terça-feira, março 20

Gaita

Gaita, na minha terra, é grana
‘bandônio’ é acordeom
a mão que tecla, sanfona
gaitada é um gargalhar
pr

Tio Purça

Durante a leitura do livro sobre Roniquito, cheio de tiradas geniais, lembrei do Tio Purça lá do meu Bonja. A verve é a mesma, além de ambos serem franzinos e o uísque.
Roniquito, que se notabilizou por cunhar a expressão “aspone” (assessor de porra nenhuma) quando foi pra Globo “assessorar” Walter Clark em nada. E o Tio Purça também criou o “Teixerinha”, para designar gosto ou comportamento que não batesse com o seu. Era a sátira que ele fazia com o cotovelo esparramado. No fundo, o Purcínio era chegado numa gaudéria, pois sempre cantarolava aquele do Porca Veia (“vou morrer nesta tarde morena”), quando moça bonita chegasse.
E locais que gostava não faltaram ao Purça (que como Roniquito morreu cedo). Vinha do tempo do Cascata, passou o Bar do Queijo, Alfredo, Pauzinho, todos os clubes.
Voltava sempre tarde. Numa dessas, como morasse perto do Centro Espírita, era inevitável passar na frente. E o Cesinha (que depois foi prefeito), vendo o Purça, se escondeu, e começou a chamar na escuridão:
—Tio Purçaaaaaaaa!!!!
E o Purcínio:
—Ouço vozes?
E arrematou com as mãos pro prédio dos Espíritas:
—Ah, só podia ser daí!!!

domingo, março 18

O amor por ele mesmo aprendendo

O amor ficava na Rua Laurindo na passagem das garotas
O amor ficava por ele mesmo esperando na esquina
O amor ficava na vitrine com as roupas pro sábado
O amor ficava depois na guitarra que arrastava pra sala
O amor ficava por ele mesmo quase parando na dança
O amor ficava depois pedindo idéia do que se fazer no domingo
O amor ficava por ele mesmo aprendendo
pr

Roniquito (ou, Atenção alunos de Edição Jornalística!)

Acabei de ler a biografia de Roniquito, uma lenda do circuito Copacabana-Ipanema nos anos 60-70, no Rio. Roniquito era habitué de lugares como o Antonio’s, preparado intelectualmente, perspicaz, sem contar que “enxugava”. Roniquito era irmão de Scarlet Moon Chevalier, que vem a ser a senhora Lulu Santos, e que EDITA mal pra caramba. Mas o livro vale pelas histórias.
Certa vez, disse para o Tom (sim, Tom Jobim, o cara era íntimo dessas feras) que “fotografei você com a minha Rolyflex”, era uma “eme” de poema. Roniquito não poupava. A melhor, entre tantas, envolve o escritor Fernando Sabino. A cena é cercada de amigos.
—Fernando, quem é melhor, você ou Nelson Rodrigues?
Sabino, pensando escapar da ira de Roniquito, não titubeou:
—É claro que o Nelson é muito melhor do que eu.
E Roniquito larga:
—E quem é você para julgar Nelson Rodrigues?
O livro é cheio destas tiradas memoráveis.

Allegro ma non troppo

A sugestão de hoje é Antonin Dvorak e o 4º movimento da sua Sinfonia do Novo Mundo. Clica aqui:www.youtube.com/watch?v=yctfXIqugXc

sábado, março 17

Totens

Riverão Sussuarana é, na verdade, uma profunda revisão crítica da história do Brasil. Seu destino messiânico. A fé, a crença ingênua, são expostas por Glauber numa tentativa obsessiva de libertar o povo brasileiro de sua eterna necessidade de proteção.
Fazê-lo ver a sua impotência para buscar o seu próprio caminho, sem atrelismo aos ideais europeus de conduta política-ideológica. Vontade de destruir com a adoração dos Totens Oficiais, ou aqueles criados pela sua própria inconsciência de abandono.
É dentro deste propósito que Glauber se insurge contra um dos totens político: Luís Carlos Prestes. Para Glauber, Prestes não assumiu a Revolução de 30, e, por isso, caímos no regime ditatorial de Vargas.
Um soldado anônimo — falando do seio da própria Coluna — faz a denúncia.
O caso Geisel e as multinacionais (não esquecer que estamos nos anos 70) também passam pelo crivo glauberiano.

Totens II

A crença popular é vista impiedosamente por Glauber no romance. Ele julga que os seguidores de Antônio Conselheiro eram verdadeiros camicases de um revolucionário de causa nenhuma. Um “anacoreta sombrio” no dizer do próprio Euclides da Cunha.
O Totem Religioso, representado por Padre Cícero, é mostrado nas suas relações com os deputados do nordeste.
Cícero viu Prestes como o anticristo a caminho do Juazeiro. Numa única passagem, o anônimo soldado da Coluna acaba com os mitos Cícero e Lampião — o Robin Hood tupiniquim:
Até Lampião nos enfrentou empresado pelo Padre Cícero mas ficou com medo do Fogo do Cavaleiro da Esperança – este Cavaleiro de Glórias Pátrias! Nós afundamos na Bolyvya, derrotados porque de 1924 a 1926 as massas urbanas não responderam ao nosso grito” (p. 81).
Se Grande Sertão: Veredas é um poema épico da gente nordestina. Se os Sertões é uma reportagem humanizada do apego à terra seca, Riverão Sussuarana é a expressão falada desses dois clássicos da literatura brasileira.
É absolutamente necessário ler Riverão Sussuarana”, recomendava Jorge Amado.

sexta-feira, março 16

Sertanês

Glauber acreditava ter escrito um livro bíblico, uma espécie de terceiro testamento plasmado no sofrimento e na vivência. Um Canudos redivivo. Um livro com a linguagem brasileira do povo do sertão, diferente, portanto, do eruditismo de João Guimarães Rosa que, no Grande Sertão: Veredas, acaba compondo um épico que nada tem a ver com os “falares” do sertanejo-povo.
E Rosa paga tributo, transformando-se ele mesmo, Rosa, num dos personagens —carne e osso— do Riverão, em contato epidérmico com o “sertanês” oficial, a fala dos matutos.
Glauber julga Rosa “um ditador do sertão”. Argumenta que, a partir do Grande Sertão, toda a literatura brasileira de caráter regionalista teria se aprisionado na camisa de força da subversão da língua natural do sertanejo promovida pelo mineiro. Assim, criar uma obra que resgatasse o “sertanês” contador de causos era o objetivo de Glauber.
E Riverão cumpre este papel. Um livro com a fala do povo que, interessante, transcrita esta mesma fala para o papel, acabou se tornando um emaranhado gramatical, tão antigramática que os críticos e lingüistas não reconheceram aquele registro como sendo literatura.
A fala do povo é secreta, selvagem, reprimida, uma fala antigramatical, capaz de ser transposta literariamente somente na boca de um ator, intérprete da boca do povo.
E, entre tantos atores que atravessam a narrativa, este também é o papel a cumprir pelo Rosa-personagem.
Ele, ao mesmo tempo, é ouvinte-pesquisador, recitador dos clássicos greco-latinos, cavaleiro-romancista, acadêmico de Cafarnaum (leia-se Academia Brasileira de Letras) e, suprema desmistificação, amante de Linda, a “heroína” do Riverão, filha de Riobaldo com Diadorim.
(Termino amanhã).

quinta-feira, março 15

Riverão Sussuarana

Como já acontecia em torno de seu cinema, naquele final de anos 70 o preço que Glauber teria de pagar por suas idéias seria alto. Sua posição de criador heróico, inconformado, temido, corajoso, faziam com que este baiano-judeu-protestante fosse amado e amado-odiosamente.
Amado, por aqueles que o entendiam e à sua obra. Amado-odiosamente, por queles que entendiam sua obra, mas não aceitavam a força daquela natureza individual.
“Voz de trovão do povo em seu grito de guerra”, escrevia Jorge Amado.
Pensamento livre e criador. Sem papas na pena, Riverão Sussuarana (ed. Record) surgia para destruir com todos os mitos da história brasileira, sem concessões. Antônio Conselheiro, Luís Carlos Prestes, Lampião, Padre Cícero e João Guimarães Rosa — personagem espécie de ator em meio a saga dos jagunços ­ habitavam a corrente caudalosa daquele glauberiano rio: Riverão. Revisão. A heustória (a estória que incorpora a História, não conta, nem contra ) do Brasil.
Riverão Sussuarana está ligado diretamente à dimensão do itinerário sertanejo. Do sertanejo de Vitória da Conquista, Glauber Rocha, que não é, no romance, o seu itinerário único e total,
É a manifestação estética de um rio que corre (riverun ­— “rio que corre” — segundo a tradução de Augusto e Haroldo de Campos de Panaroma do Finnegans Wake, de James Joyce).
O livro começa e termina num “riverun” dentro das veias de um protestante —de origem judia— em terras messiânicas.
Um rio sertanejo que está ligado à infância do autor (a infância povoada de tiroteios dos “westerns” de Hollywood, estrelados por Gary Cooper, John Wayne, Errol Flyn, e dirigidos por John Ford) que agora, bem mais tarde, marcará o estilo de sua romanesca forma narrativa: longas seqüências descritivas e logo irrompe o diálogo. E ligado também à maturidade de Glauber, rompida bruscamente por uma tragédia pessoal do Rio de Janeiro já daqueles dias, que foi a morte (nunca suficientemente esclarecida) de sua irmã Anecy Rocha, em Copacabana.
Continua amanhã

quarta-feira, março 14

O romance de Glauber

Em 1977, Geisel fecha o Congresso e racha ao meio a chamada Abertura Política. Na mesma época, Glauber Rocha saturava de fazer cinema. O mais significativo representante do Cinema Novo se tornava, lenta e gradualmente, romancista. Começa a produzir textos para serem lidos, não para serem vistos.
Com 39 anos, o homem que esteve com deus e o diabo na terra do sol, em plena crença da maturidade, acreditava que o Brasil estava precisando passar por uma varredura.
Uma revisão crítica do seu pensamento, das suas perspectivas ideológicas, de sua literatura, das formas de comunicação popular.
Enfim, fazer uma revisão de seu destino, nem que para isso precisasse achar Golbery “um gênio da raça”, e Ernesto Geisel, “um exemplo de disposição democrática”.
Glauber tocava nas feridas e pagaria por isto. Diante de toda a intelectualidade perplexa, ele estava sozinho. Para muitos, o ápice da louca epopéia glauberiana em vida. Para outros, como Jorge Amado, “um clarão que está iluminando o Brasil”.
O romance Riverão Sussuarana, escrito exatamente em 1977, aparece então como a resposta mais feroz: a crítica da crítica.
Polêmica violenta se travaria em torno da obra, que ousava desmistificar todas as sagrações brasileiras.
Negado. Não reconhecido, o livro deixava estupefata a esquerda brasileira, com os direitistas não entendendo bem o que se passava, como ocorre com obras de gênios da estatura de um Salvador Dali ou Pablo Picasso.
Amanhã continuo a falar sobre o livro de Glauber e a radical experiência do cineasta como romancista.

terça-feira, março 13

Teixeirinha no Bonja

Quando vi a programação fiquei meio surpreso. Bom Jesus está no roteiro dos 80 anos de Teixeirinha, que estaria completando no último 3 de março. Por enquanto, nem Porto Alegre está incluída na comemoração que começou por Passo Fundo, passa por Vacaria, e chega ao Bonja de 11 a 15 de abril.
E sabem que a inclusão de Bom Jesus no roteiro até que faz sentido! Em outubro de 1961, Teixeirinha esteve com Pedro Raymundo fazendo um show por lá, num salão paroquial super lotado. Era o começo da carreira.
Os padres de então não se conformaram. Nem tanto pelos artistas (e “suas piadas”), mas porque, dias depois, no mesmo salão receberam o polono-paranaense W. Romanovski (um “escritor de fama mundial”, como registraram), para autografar o seu Retrato de Wlade (um monólogo), com pouco mais de meia dúzia de professores do ginásio.
Os freis não entendiam, mas a “audiência” de Bom Jesus queria mesmo era ver o cara que cantava o seu “maior golpe do mundo”, narrando a morte de sua mãe queimada no fogo, que conquistaria o Brasil e algumas emissoras pelo mundo.
O ano de 1961 foi de fato especial para Teixeirinha. Foi o ano de projeção do seu primeiro disco, O Gaúcho Coração do Rio Grande, que trazia exatamente Coração de Luto, e foi quando conheceu a garota que tocava sanfona, Mary Terezinha, a grande companheira. Ela ficaria ao seu lado até o começo dos 80, pouco antes do final da trajetória.
Bom Jesus teve este Teixeirinha ali, em 1961, quando a sua carreira estourava.
Crônica de amanhã no Pioneiro.
Teixerinha no Bonja será de 11 a 15 de abril, com shows, filmes e oficinas.

Genesis

É, somente neste blog pra se misturar Genesis com Teixeirinha... mas, como faz dias que nada sugiro, fica aí..

segunda-feira, março 12

O amor que Deus fez

parte do que Deus fez para não ficar sozinho foi o amor
essa necessidade de gente e mais os seus partos sonhados
pr

Um famoso insucesso

Quando me perguntam de Vitrola dos Ausentes, eu respondo:
Um famoso insucesso!

domingo, março 11

Despedida do verão

há um sol molengo, um juntar de roupas,
um coração em família
pr

sábado, março 10

Um peixe daquele ano

Um peixe daquele ano
sagrado no silêncio
em seu pleno sucesso
fisgado
pr

sexta-feira, março 9

A música

A música é feita de acenos e sem abraçar

A música II

A música (o que a música implica) é conversa fora

A música III

A música de tão antiga mudou de idéia
pr

quinta-feira, março 8

A mãe das mães

Na casa de Jarcedi, casa infeliz, a mesa era curta, mas não seria pobre o seu acolher. Curta era a mesa, era mesa emendada, mesa disfarçada, mas não sentisse vergonha, que ganhava amor!
Eis meu amor!, dizia o Theodoro. E ainda em preces, por gestos dela, a Mudinha fazia assim: roçava o seu santo rosário na cabeceira daquela Jarcedi com muitos filhos que pedia pelos seus.
Dormisse assim no carinho a Cristino, dormisse assim a Cristino infeliz! Na força louca dessa mão de amor que alinhava o rosto querido, louca mão de amor da Mudinha, com seu coração enorme, seu braço forte, ela debruçada ali. Em carinho sincero, Mãe Eselita atenta aos gemidos, ajudando ao Bili.
Ia a Mudinha do Salami, ia aos 46 anos, nem parecia!, ia às Jarcedis. Ia se partilhar! Ia Doar-se, entregar-se, não tendo hora, nem frio.
Ia parteira, auxiliar, amante, esposa, seguia a Mudinha o Theodoro Belly, seguiam aquela missão.
A Mudinha, no seu amor, trazia a mão ao seio, apertava o lenço contra o peito, a Mudinha “mãe” que a porta rude cruzou. Em ajuda, e a querida mulher assim, já no pano que subia, entre as pernas tendo um filho seu: filho pelado vindo ao mundo e assim pelados seriam por seu padecer. Criança que não teria tão cedo a roupa, um infeliz trapo que escondesse essa cicatriz: seu destino, negro, pobre, marcado.
O que dizer nestes casos em que o destino se traçou?
Nesses casos, a candura sincera, e no parto, em Natal que faziam, era a candura e um tal de abanar no suor.
A Mudinha a segurava, vinha?, Mudinha a acarinhava, pedia coragem, força, força, pedia a força com gestos à mãe. A força de mãe, não tivesse dúvida no coração. A negra, os trapos, punhal que arremessava na força que vinha assim: no sangrar e sangrar. Vinha o filho a nascer.
Amparada na cama de pau, amparada em amor de Mudinha e Bili, a Jarcedi virava, forçava, era o seu jeito de ganhar.
Ajeitada de lado, olhando a cruz, o proceder da parteira.
Se a senhora e o doutor ouvir o que tô lhe pedindo, a Jarcedi dizia, ajude meu filho a nascer.
Mudinha ouvia o pedido, ficava melhor com a coragem lhe atender. Vendo os trapos ali, ia pensando a filha do Salami em uma mãe a dar à luz.
O seu triste olhar de mãe. Seu afeto chegado, seu afeto vindo, mãe em trapos, qüeros molhados, era Natal.
Batizassem então a criança, o recém pequeno nascido com o condizente Natal.
Chamasse desse nome, Natalício. Ela escolhia era um outro, mas como era Natal, deveria ser: Natal ou Natalício.
Mas tinha o direito, pelo menos ao nome lhe davam o direito.
E o Bili e a Mudinha souberam que era Gesper o que ela queria, e Gesper seria. E que ele tivesse um destino melhor.
Este trecho de Missa para Kardec é a minha homenagem a todas as mulheres neste dia.

quarta-feira, março 7

Sedução

a mulher sugere um céu
a nuvem carregada
a mulher sugere o banho nessa chuva que ela constrói
e ela constrói o céu
a nuvem
e a água...
a possibilidade de ser intocada
pr

terça-feira, março 6

Esta planta

Esta planta cenário
de idéias, de obstáculos
esta planta estridente
de informação inútil
pr

domingo, março 4

Mulher com filho no colo

Mulher com filho no colo que anda
É mulher que ainda traz o filho como o coração
pr

Mulher com filho no colo II

Mulher com filho no colo da estrada
É mulher que só traz o filho no coração
pr

sábado, março 3

O pouco deixado

O pouco deixado é um silêncio a quilo.
Fratura sem afago, pouco esperado e compreensivo.
É sincero, sonâmbulo.
Há pouco nascido e famoso por ser da pior família.
Pouco santo, pouco expansivo, de pouco barulho.
O pouco silêncio!
Pouco andado, desbastado, humilde.
Se era latim, já é pouco grego.
De pouco carisma, alto o seu custo, é um pouco engenheiro, pouco nomeado.
De pouco propósito, pouco enérgico, um pouco Cristo.
Crucificado, por pouco tino.
É pouco humano, de corpo presente.
E de pouco abraço.
O pouco sozinho.
Pouco bondoso, pouco triste, inteligente, muito do ausente.
O pouco dilúvio que afoga.
O pouco transtorno que conforta.
É o pouco fraterno, o pouco querido, o pouco afeto.
Ainda pouco. Pouco e doloroso.
Um pouco como chuva afobada.
O pouco de óbito, pouco e ainda pacífico, o pouco incapaz, o pouco dos malditos.
Um pouco acostumado.
Um pouco estandarte, pouco à mostra, pouco tão antigo como a humanidade.
O pouco imprevisto, o pouco amor, o pouco empreiteiro:
de um pouco de nada, com pouco cuidado, o pouco do zelo e do zero.
O pouco adeus que é a saudade!
pr

quinta-feira, março 1

No laboratório do cara

Admirador da pintura de Iberê Camargo e interessado no processo de sua criação, entre os anos 1991-1993 freqüentei o seu ateliê. De nossos encontros resultou o romance publicado, Iberê. Da convivência constitui a fonte do texto: conversas, muitas conversas, “falas” espontâneas que tínhamos.
Naquele período, ele se mostrava muito aberto ao diálogo e foi quando decidiu escrever as suas memórias. Era um momento profícuo, já que estava remexendo em suas gavetas, em seus papéis, esboços e notas de viagem. Em meio àquelas conversas, solicitei que me concedesse uma entrevista. Uma entrevista formal e longa, com o que o pintor concordou. De forma manuscrita, a entrevista desenvolveu-se em encontros que duraram cerca de dois meses. Ela é o núcleo de todo o Iberê.
Para além das tantas indagações a que o submetia, procurei também “anotar de memória” as nossas falas. E, privilégio na convivência, observei-o trabalhar no ateliê, acompanhei a elaboração dos seus quadros, além de estudar muitas telas pertencentes à coleção da família. Meu guia era o próprio Iberê: ele me falava das telas, explicava um e outro detalhe. Explicava, mostrava como fizera — e porque fizera.
O romance Iberê procura dar conta do artista em “processo”; mas, muito mais do que isso, a partir de uma interessada pesquisa, busca refazer toda a trajetória artística e de vida do nosso pintor.
Como fontes secundárias, aquelas ligadas aos aspectos mais mundanos da sua trajetória, episódios e fatos, principalmente ligados à tragédia de sua vida, auxiliei-me do que foi noticiado na imprensa na época, tendo como principais referências a revista Veja e os jornais gaúchos Correio do Povo e Zero Hora.
A fonte suplementar mais importante na construção de Iberê, entretanto, foi o excelente Iberê Camargo, organizado por Evelyn Berg. A obra, que já me proporcionara atalho nas conversas com o artista, facilitando para que fosse direto ao assunto em nossos encontros, foi a minha bússola.
Os ensaios presentes no volume, assinados por críticos com Wilson Coutinho (além de outros menos sistematizados, como os escritos por Ferreira Gullar) podem ser pinçados aqui e ali em meio ao ficcional Iberê.
De uma aproximação tão privilegiada — não tenho dúvida ser ele, Iberê, homem-pintor, a personalidade mais forte que já travei conhecimento —, não poderia resultar apenas na realização de um livro sobre a sua trajetória, mas em ensinamentos que eu talvez pudesse ter assimilado.
A gente aprende vendo o que é bom, no convívio”, disse em uma das suas tantas entrevistas, falando sobre a importância do seu aprendizado com Guignard no início de sua carreira.
O registro deste “estágio” que tive com Iberê Camargo resultou numa outra pesquisa inédita, a partir de seus escritos, como pode se ver pincelada abaixo.
É um pequeno tributo à sua generosidade e ao ensinamento legado.

Iberê escritor

Iberê Camargo escritor? Serão de fato importantes os textos deixados pelo artista plástico, a ponto de merecer um estudo no âmbito da Literatura Brasileira?
A ligação de Iberê com a literatura remonta ao tempo de aprendizado: ainda servindo no Batalhão Ferroviário de Santo Ângelo, núcleo da Coluna Prestes, Iberê ficava no acampamento exercitando-se no desenho a partir de uma Divina comédia ilustrada por Doré. Mais tarde, já em Porto Alegre, ele viveria a efervescência intelectual da Livraria do Globo, promovida principalmente por Erico Verissimo, com quem trocaria cartas durante a vida toda.
Também é interessante registrar a relação muito próxima do pintor com Vianna Moog: esse escritor foi um dos responsáveis pela Bolsa de Estudos que levou Iberê ao Rio, em 1942. Na bagagem iria uma carta do autor de Um rio imita o Reno endereçada a Augusto Meyer, para que introduzisse o jovem pintor no ateliê de Portinari.
No Rio, Iberê passaria a freqüentar o Café Vermelhinho, ponto de encontro da intelectualidade. Daquele tempo, o artista guardava histórias memoráveis, que envolviam desde os poetas Drummond, Bandeira, o escritor Marques Rebelo até ao ator Solano Trindade, o fundador do Teatro Negro. Um dos episódios referia-se à maneira “desajeitada” com que recebeu Augusto Frederico Schmidt: “Quer dizer que este é o poeta do Galo branco?” perguntou Iberê ao ser apresentado aquele sujeito sombrio e esquisito, levado ao seu ateliê pelo seu então amigo e mecenas, Luís Aranha.
Augusto Frederico Schmidt era conhecido pelo espírito sempre aberto para ajudar os seus colegas artistas; foi ele quem teve a estranha idéia de pedir romance a um sertanejo ocupado em escrituração mercantil, orçamentos e relatórios — Graciliano Ramos. Foi também Schmidt o responsável pelo lançamento de Vinícius de Moraes no mundo literário.
Esse era o seu círculo, e que o deixava sempre muito próximo do interesse literário. Além disso, Iberê escreveria continuamente artigos para jornais, a maioria deles relativos à baixa qualidade da tinta nacional e muitos de fundo crítico, como Angra, no qual faz a denúncia da ameaça nuclear.
Seu breve escrito quando da morte de Guignard, mais que um reconhecimento, redimensiona a importância da convivência entre os velhos mestres e o aprendiz. Ele ainda nos legaria vários outros textos que demonstram que a pintura nos privou de um fabulador, de um escritor muito interessante. Como em suas telas, nos seus escritos encontraremos as nossas dores e angústias, revelando pleno domínio da técnica literária.
Era leitor refinado. Além de Dante, tinha como seus autores prediletos Dostoiévski, Tolstói, Balzac, Faulkner, Thomas Mann, Kafka, Goethe e Cervantes. Dessa eclética seleção, era capaz de passar dos poemas do português José Régio às descrições políticas e apaixonadas da Grécia, feitas por Henry Miller, no seu O colosso de Marussia, lido no italiano.
Entre os nacionais, Machado de Assis — e nas suas estantes apareciam exemplares de Jorge Amado, especialmente um A B C de Castro Alves, em alemão, cuja paisagem de capa tinha a marca do seu punho; sua biblioteca continha ainda um razoável número de obras específicas de estética, História da Arte, além de livros com reproduções dos grandes mestres.
Em 1988 publicou No andar do tempo. Neste livro de contos encontraremos imagens ligadas ao plano do fantástico, um narrador envolto com forças estranhas e, sobretudo, personagens imersos num ambiente de suprema angústia diante do tempo (tempus fugit), a inquietação diante de um mundo regido por forças inconcebíveis. Temos ali uma narrativa tomada de traços sobejamente vinculados à tradição do mais genuíno grotesco.
Novamente tendo como eixo narrativo o fluxo aterrador do tempo, encontraremos também em suas memórias (Gaveta dos guardados, publicado post-mortem em 1998) a expressão da condição humana, da dor humana, e expressão raramente alcançada em literatura.
Ele ainda nos deixaria outros inéditos, como os textos escritos originalmente em italiano, quando de seu aprendizado no ateliê de Giorgio De Chirico, na década de 40, em Roma. Embora em número pequeno, são textos que enriquecem e comprovam a capacidade de Iberê Camargo como escritor.
Demonstrar a importância dessa literatura para a apreensão mais ampla da obra do pintor foi o estímulo de nossa pesquisa, que deverá ser publicada a partir de setembro, na inauguração do Museu Iberê, em Porto Alegre.
As fotos são de Luiz Eduardo Achutti