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segunda-feira, julho 31

A canção me deu a letra

Eu relia um exercício de jornalismo para o dia seguinte (era uma Ocorrência Policial na qual um sujeito registrava o seu não-desaparecimento na DP!), quando ouço minha mãe, que então já não falava em virtude de um AVC, entoar uma canção. Era uma canção indecifrável, uma canção quem sabe cigana, era triste, muito nostálgica.
Há anos não ouvia minha mãe cantar e de repente era aquele lálálá rouco, suplicante melodia que vinha do leito. De que fundo de memória saía aquilo? Seria uma velha carpideira árabe entoando aqui? Uma bela e suspirada voz. Mas era indecifrável e enchendo a casa a canção ficou.

A canção me deu a letra 2

Eu pensei: ela não fala. Também não escrevo. Ambos, por recusa. Arrisquei já alguma coisa em literatura. Acharam difícil, blablablá, tal e tal.


Queriam histórias e histórias já não fazem sentido. Vez que outra, aparece alguma — e o histórico da Ocorrência era desses mesmo bons: documenta a ida de um sujeito à delegacia para registrar o seu não-desaparecimento, sete anos depois que a família lavrou a sua falta em outra DP...
O fato é que a literatura, graças ao cinema, tevê e às várias opções de Internet, muito mais cômodas e diretas, já não tem história pra contar. Deu pra escrita informativa. Os meios eletrônicos fazem isso mais fácil e melhor.
Daí minha convicção: a linguagem deve ser a própria trama, ser o enredo a desfiar. Eu creio no estilo dando sentido à literatura. Só que desta vez eu tinha o impacto de uma morte de pessoa tão próxima para contar.
É disso que trata Cozinha Gorda, que lanço agora em setembro.

domingo, julho 30

Frio

Dói a tampa do joelho,
a palma do calcanhar acusa o golpe
Rangem as gavetas com documentos, velhas fotos,
um sutiã da amada que restou esquecido...

uma nuvem passa bestamente
(bestamente bonjesuense,
bestamente romântico,
é a nossa inutilidade no escuro...)

para que o frio?

Um guarda-chuva não serve,
um aquecedor de Paris de nada adiantaria
se é o amor que sente saudade...
pr

sábado, julho 29

Os 100 anos de Quintana

Foi Guimarães que conseguiu driblar Elena, sobrinha de Quintana, e agendar um encontro do poeta com Paulo Ribeiro, hoje escritor e professor de jornalismo na Universidade de Caxias do Sul. Conterrâneos, Guimarães e Ribeiro praticamente combinaram um plano para entrevistar Quintana (que era avesso a entrevistas) numa tarde quente de 1985. Como sabia que Elena não apareceria naquela tarde, Guimarães chamou Ribeiro numa espécie de "é agora ou nunca". Ribeiro entrou no quarto de Quintana às 14h e saiu de lá às 17h sem escrever uma linha da entrevista que tanto queria.

- Eu conheci mais um velhinho com a boca suja de rapadura do que um poeta. Ele não queria falar de poesia, queria era alguém para jogar conversa fora - relembra Ribeiro. E assim foi. Durante aquela tarde, Mario Quintana e Paulo Ribeiro trocaram impressões, tomaram café e comeram rapadura. Nada mais. Mas Ribeiro não se conformava, até que provocou:
-Mas seu Quintana, e a entrevista?
-Deixa as perguntas aí que depois eu entrego as respostas ao menino - respondeu Quintana. Ribeiro foi embora. No dia seguinte, voltou correndo ao hotel para receber as respostas. O poeta havia cumprido sua promessa. Estavam lá, dentro de um envelope, duas folhas de papel ofício preenchidas com 12 perguntas e respostas, para a alegria do então estudante da Faculdade de Comunicação da PUC.
Trecho da reportagem de Fabiano Finco publicada neste sábado no jornal Pioneiro de Caxias do Sul, que pode ser acessada em www.clicrbs.com.br, suplemento Almanaque. Para ler a íntegra de minha entrevista com Quintana, clique acima, à direita.

terça-feira, julho 25

A esperança

A esperança do acrobata não é a barra alcançada mas o salto que o impulsionou

A esperança portanto não é conquista fácil, destino, acaso, conquista vã
a esperança é o trabalho digno,
a esperança que quero falar aqui é a dos incompreendidos,
a esperança do cantor afônico antes do show

A esperança da cozinheira em sua boa mão
A esperança do quebra-cabeças em se completar
A esperança de uma paixão secreta
A esperança do perfeccionista, a de quem não tem mais nada e a esperança de quem fugiu

A esperança da imaginação

A esperança da garota presa no elevador

a esperança do ciúme a mover o tesão
o amor

A esperança dos idosos na experiência que ensina
A esperança da nova mãe na paciência do gerar

A esperança dos relógios, que não é nos dar prazo, mas nos despertar
pr

segunda-feira, julho 24

Mulheres, mulheres!! (num Português muito claro)

Ah, mulheres que não se conformam,
que sabem lidar!!

mulheres assim
sovinas,
individuais,
sensuais e inteligentes
mulheres assim com esta beleza espantosa
e que negam ter

de fato,
são mesmo as mais tímidas
sofrem de solidão
um tédio aqui,
um medo acolá
a extrema solidão que a beleza sabe cobrar

não se conformam por isso
fazem barulho
acenam os braços
sentam na grama
servem um chima
e tomam sol

mulher assim tem um Português muito claro
quando quer,
quer,
quando não,
sabe esconder:

que ama o cara que cozinha, lava e passa
( não admite ficar grávida )
usa puro senso de humor

pr

domingo, julho 23

Quintana perdido

Eu não vi a laranja, eu não vi o cargueiro,
nem mar, nem lua... eu vi o muro. Eu vi
um homem agachar-se rente a esse muro
e apanhar a sua sombra.
Depois?
Ora, depois ele assinou embaixo: QUINTANA
... e partiu para a morte
Poemeto, de 1987, escrito em dezembro, em Toulouse, que achei agora revirando umas caixas. O diabo é que estou há 3 dias procurando uma entrevista manuscrita feita com o Quintana e não sei onde enfiei o texto com os “garranchões” do velho. Pra isso não há perdão!

sábado, julho 22

Canção das Panelas por Carpinejar

Canção das panelas é uma esperança, porque renova o próprio trajeto do autor. É possível dizer que é ainda melhor do que Vitrola dos Ausentes, mas seria um golpe baixo, desonesto. É um livro que o completa.
Trecho de A cozinha de estar, apresentação de meu novo livro por Fabrício Carpinejar

Cozinha de estar

Há uma naturalidade que cativa em cada parágrafo, o olhar vem sempre de baixo, de viés, como se o guri descrevesse o mundo do chão de uma mesa. Não há um olhar de frente. O olhar é para os ouvidos. Papo de ouvidos para ouvidos...
A cozinha é uma sala de estar mais do que a sala de estar. Paulo Ribeiro faz uma justiça com um pedaço vivo da residência, sempre deixada de lado nas histórias gaúchas. A cozinha é o motor da conversação.
Excerto da apresentação da Canção das Panelas, a novela que lançarei em setembro, por Fabrício Carpinejar

sexta-feira, julho 21

Pequena elegia para a solidão improvisada no blog

Mais um final de semana de solidão
e há um amigo de aniversário
há um vinho e um livro
uma corrida de gatos dentro do livro

ou dentro de mim???

como a tua sombra nas paredes
1440 minutos desde ontem
mulher amada sem estar!

um tolo só, confessa...

improviso é a invenção do que não se diz

(Concluído em 18h05min)

A Rua dos Cataventos

A Rua dos Cataventos exibe o quê?
A parte interna das saias
Para Mario Quintana

A vida

Para Lu@

A vida, a vida, a vida!
Gritei três vezes a vida quando pela primeira vez te vi.
Eu desescondi então a faca que trazia, o punho de capricho com que esbofeteava o amor, a aproximação de qualquer carinho, a ojeriza estúpida a toda atenção que me dessem.
Eu me desarmei. Minha mão eu cedi.
Humilde, entendi o nojento capricho que se rendia frente à simplicidade de tua oferta.
E pela primeira vez ouvi de ti a palavra filha.
Ao te conhecer, a generosa palavra filha eu ouvi.
E então escondi o meu rosto, porque eu, indigno, indigno ao procriar, vi em tuas mãos a calma do apelo que dizia, honra à espécie!
Honra, homem febril, abre em tia a fenda do amor.
E então eu desrepresei.
E eu vi em ti, a vida e três vezes não te neguei:
Vida! Vida! Vida!
Eu que esbofeteava o amor me rendi. Eu acusava o pleno golpe da aproximação do carinho e da atenção.
E rendido eu cedi.
Vida, vida, vida!
Dei-me ao casamento, as palavras solteiras quebravam.
Vida, vida, vida!
Havia generosidade em mim naquele instante. E, pagão, cristão recém parido, eu parti o pão e te dei. E eu não juntei os cacos e a carne da solidão que antes havia em mim.
A solidão, súbito, morreu. E herdeiro desta morte, eu decidi rústico, simples, a palavra boa que aprendia em ti:
Vida, vida, vida!
Gritei três vezes a vida quando pela primeira vez te vi.
pr

quinta-feira, julho 20

Canção das Panelas

Entreguei o original de Canção das Panelas à Editora do Maneco. O Maneco é o maior importador de livros (da Espanha, da Itália), além de distribuir obras pelo Brasil inteiro. E também edita. Ele está criando uma coleção, Autores Gaúchos, e fui convidado para abrir os lançamentos, possivelmente, ao lado de José Clemente Pozenato, com o seu Babilônia. O livro deve sair em setembro, na Feira do Livro de Caxias do Sul, e depois Porto Alegre.

quarta-feira, julho 19

Palco

— Senhores, eu conheci a altura de pisar o palco com o público de costas. Senhores, eu aprendi a conviver com a baixa bilheteria, com o fracasso do palco vazio, o palco nu. Não me queixo. O palco de costas pra mim. Vejam as cadeiras!, este silêncio de ouro pra minha grande encenação. Um peido miserável que eu desse agora neste teatro, seria como seu eu jogasse igual minhas forças para obter o sucesso e a consagração. Vejam. Vejam a minha pose! Vejam como eu mantenho ainda a postura correta, o olhar decidido em frente, mesmo com esta platéia nem aí. Fodam-se! Bem pior, permaneçam costas, o que vou querer com platéia? Sigam, sigam, fora daqui!!! Quero o palco nu. Quero este vazio que se ajusta tão bem... Platéia de costas, filha de Deus! Permaneça assim porque para onde eu vou, se escalo esta tábua, este palco, se estatelo nesta cera traiçoeira, é o que conquistei. Podem me derrubar ou deixem-me cair, não me queixo. Derrubem-me com a sua ausência. Ela faz bem e eu sempre volto aqui. Hoje, eu vim com minha melhor camisa, com a minha camisa bonita, é seda, ãh-ãh!, e eu vim pra dizer o melhor possível esta cena final. Apaguem. Apaguem as luzes, me deixam só e no escuro, lhes peço!!! Por quê? Por quê? Não se pergunta por que a um homem na sua plena expiação, na exposição total de seu fracasso. Como se sabe, a grande, a melhor platéia é um teatro vazio. Isso é fazer arte. E só depois se mostra. Como agora, aqui.
pr

terça-feira, julho 18

Canção dos chapéus furados

a sombra não deixa furos
do roto chapéu no chão

preservada elegância
é a dignidade mantida

a boa sombra que a todos iguala
embora se ache perdida

pr

Amar

Amar, verbo punitivo
surra,
luta
é de saltar pão da mala

amar, bolsa de apostas
quando o ringue está triste
e as luvas penduradas
pr

segunda-feira, julho 17

Breve

ela iça
descalça
esvoaça
quando está fazendo a limpeza

ela varre
sacode
avaranda
tá lavando roupinha no tanque

dança rumba
assovia
atapeta
é tão breve e o minuto eterniza

pr

Festa no Céu

Lá do céu caiu um sapo
pelo ar se despernou...
e desde aquele dia não chegou
pr

domingo, julho 16

Quatro mil visitas

Quatro mil visitas aqui no blog. Obrigado!
E bem no aniversário do meu Bonja. Não deixa de ser um presente.
Tá valendo

Partir-se

Partir-se
metade
como um deixar de ir
pr

sexta-feira, julho 14

Mercado

Cem mulheres dão à luz por minuto
Nova máquina produz cem livros por minuto
Cem novos escritores são lançados por minuto...
sem leitores
pr

A asa vegeta

A asa semeou o vento
e com a tempestade regou
foi raiz, acidente da asa
e a asa vegetou
pr

Excerto

Que não seja imortal, posto que é grana
mas que seja infinito enquanto dólar
Glaucha, p. 131

quarta-feira, julho 12

Instantâneo

o pouso da Lua
no fundo da mão
parece um ovo
da pata choca

vida seria,
se a mão fechasse
mas prefere ser hóstia,
louça, sem contração
pr

O calor da concha

criança
é uma concha
que guarda o calor pro mar
— a criança esquenta o mar com o seu mijinho

outros,
neste vácuo de busca pra se entender a criança,
preferem o poder da criança como uma adaga retalhando o céu...

e fica bem
pr

segunda-feira, julho 10

De 1913 a Domingo

Na minha terra estão distribuindo mudas
em alarde
tem sinfonia na tarde
à porta do hospital

É a festa da gila,
é a festa do padre,
a cidade toda de gala
que se entrega ao cidadão

Um título pra ele,
o zelador dos viveiros,
e merece quem faz o vento
parecer o vento que é:

uma pipa,
a sua gincana a cumprir,
mas quem vai cumprir a saudade,
me soprem aí!?!

pr
16 de Julho será Domingo de Bom Jesus

O que estou escrevendo

Tenho na gaveta A Cozinha Gorda (título provisório há dois anos; e o texto guardado é uma constante tentação em mexer no que não se deve). A novela expressa a “falta” de lugar, de afetividade, sob o ponto de vista de um menino que vê sua mãe se movimentar na cozinha. Mas a cozinha é apenas o espaço mais pulsante de uma residência que vai abrigar uma paulatina desintegração familiar (os ricos, Fayet; e os pobres, Marmelo) e as conseqüências deste esfacelamento em comunhão.
Mariinha (Fayet) está doente e recebe alimentos por sonda, preparados por Rosa (a Marmelo). Esta incapacidade, este corte em plena ascensão da família, deixa os Fayet perdidos, principalmente o menino Pedro Antônio, que conduzirá a narrativa com este olhar da desorientação. Rosa, a ajudante de pia, que somente perde a timidez quando mandada, é quem melhor se move em meio à desintegração. Mas que também sucumbirá ao dar à luz um “filho-mortinho”. Pretextos, enfim, para expressar a convivência entre etnias que nos caracterizam.
Texto publicado na revista Aplauso, número 76, edição de julho.
O título provisório mudou para A canção das panelas.

sexta-feira, julho 7

O chute francês

Éramos eu, uma mexicana muito chata, uma alemã, sempre na dela, e dois caras da Finlândia. A turminha de estrangeiros na Universidade Toulouse Le Mirrail, em 1987, era pra ser legal, porque era pequena, mas eu não andava com cabeça pra “integração”.
A minha grana se esvaía e eu previa tempos muito difíceis logo adiante. Não conseguia me concentrar. Passava a frango com arroz direto. Era a minha especialidade naquele “estudiozinho” entre a universidade e a cidade dos aviões.
Os Pirineus nevados ao fundo. Soprava um vento intenso e eu ficava tentando adivinhar na janela, na Espanha, onde estava o pintor Salvador Dali. Ele estava bem próximo e no finzinho e eu só usando direto um casacão que levei do poeta Luís Coronel.
Ele, outro dia, contou pra uns amigos desse casaco. Confesso, Coronel, foi uma baita melancolia lembrar do casacão e da volta.
É, eu também não resisti à França. Faz tempo, também frente à França caí.
Quero apenas que me respondam agora. Será que eu fiz bem largar tudo e me dedicar a escrever?
Deixa que eu chuto a resposta.
Foi o que não fiz lá. O chute, talvez da minha vida, eu tenha deixado de dar em Toulouse. Só agora vejo. Na universidade, quando eu me queixava dos poucos tickets (quase passava fome!), me convidaram pra jogar.
Sério! Fazer um teste no Toulouse! Sabe como é, você é brasileiro e, quem sabe, possa ficar com eles.
E arrumei uma chuteira, pasmem, de um amigo português da faculdade, e não é que no dia amarelei.
Achei que estava fora de forma e ia fazer fiasco, suando a minha vida levada a peixe e aquele Coq au riz...
Fiquei em casa escrevendo. E dando umas aulinhas de Cinema Novo por comida até que desisti.
Eu tinha de escolher: ou faculdade ou ir pras uvas. E foi quando eu fui até o Monsieur Emorrine pedir um jeito de voltar.
Levantaram a grana da caixinha do serviço social extraordinário e me enfiaram de volta num trem. Avião em Paris.
Foi a minha segunda extradição. Antes, dois anos antes, eu fora deportado de Lisboa...
Mas, de Toulouse, eu trouxe um livro pronto, que só aqui intitulei: Glaucha.
pr

quinta-feira, julho 6

Compra de roupa

Se esconde para aprovar.
E aprova para se esconder.
pr

Extinção

O tigrezinho espreita o vapor que desgruda do asfalto novo.
Tem a cor dos seus bigodes.
pr

Um amor molhadinho pra sempre

Acordará neste instante, daqui a um ano, um dos participantes do Dilúvio. E lembrará da Arca nas ondas, nas ondas e nos morros. E lembrará de um beijo de pé, das tripas que os alimentavam, da sogra e os dois cunhados.
E lembrará da mulher amada... e o seu decote aqui em cima!
pr

Fiction fashion

O que importa, hoje, é trajar o personagem
pr

Cultura de muitas cabeças

O assunto andou aqui no Pioneiro e caiu esquecido”. Assim teve início o artigo do meu amigo e ex-professor Paulo Ribeiro na edição desta quarta-feira do Jornal Pioneiro. Lembro, caro professor, de ter aprendido contigo uma das regras elementares do Jornalismo, que é o compromisso com a verdade. Se algo caiu no esquecimento, e nesse caso particular envolvendo a Secretaria da Cultura, podes ter a certeza de que teve uma única motivação: a falta de qualquer fundamento, uma invenção.
Mas gostaria de agradecer o meu professor Paulo Ribeiro por ter introduzido em sua manifestação um elemento de dúvida, de oportunidade para o convencimento do contrário do que estaria propenso a acreditar.
Estás enganado, professor. E respondo com muita convicção, com o intuito de desfazer qualquer tentativa de fomentar a informação extemporânea, descabida e totalmente inverídica de que estaria em curso um processo de extinção da Secretaria Municipal da Cultura. Os fatos, por si só, expressam a verdade. A Secretaria está envolvida em um turbilhão de projetos, ações, atividades e programas.
Entendemos que é através da cultura que uma comunidade passa a ter orgulho de si mesma, expressa sua identidade, suas aspirações e seus anseios. Nosso trabalho à frente da Secretaria da Cultura está alicerçado em duas premissas básicas: a preservação das conquistas e a construção das mudanças.
A Secretaria da Cultura permanece fortalecida, ampliando seus programas e ações, respeitando a pluralidade, descentralizando as atividades, democratizando o acesso e, acima de tudo, seguindo o caminho da consolidação de sua estrutura própria. Esse é um caminho sem volta, que vem sendo construído por muitas mãos, por muitas cabeças e com a participação comunitária.
Assim, meu caro professor, podes conter sua agitação e exclamar: “Que bom que eu estava enganado”.
Texto de Antonio Feldmann, Secretário Municipal da Cultura, que saiu publicado nesta quinta no jornal Pioneiro, em resposta ao artigo de ontem no mesmo jornal e reproduzido aqui no blog.

quarta-feira, julho 5

Tirada de Letra

Escrever tudo o que falei para a minha letra.
O ritmo

pr

Tirada de Letra 2

Ninguém falou no parágrafo...
Jornalismo Interpretativo
pr

Tirada de Letra 3

Fábula
Mentira de muitas patas
pr

Tirada de Letra 4

Ironia:
saúde da crônica
pr

Aula de Jornalismo

O que a todos espera na página em branco.
Um vazio. Um desarme. Uma derrota.

pr

terça-feira, julho 4

Cultura sem cabeça

O assunto andou nas páginas do Pioneiro e caiu esquecido. Por coerência, quero retomar aqui a minha preocupação como jornalista, professor de jornalismo e autor de uns pobres livros. Sou contra o processo de extinção em curso da Secretaria da Cultura, que seria “absorvida” por uma futura Secretaria de Comunicação do governo José Ivo Sartori.
É um retrocesso, pois a Secretaria da Cultura é uma conquista, depois de anos de reivindicação, não só dos intelectuais, mas principalmente de setores significativos da cultura da cidade, que vai desde o carnaval, passa pelo organizado grupo de Teatro de Bonecos, músicos amadores e centros comunitários da cidade e do interior.
E uma conquista que, na prática, deu à administração Pepe Vargas, sem dúvida, a oportunidade de valorizar a cultura em seu mais amplo sentido. Houve, acima de tudo, a descentralização e tornou um pouco menos elitista o acesso a espetáculos e produtos culturais.
Independente de cor partidária, quem acompanha a cultura da cidade sabe que este foi um dos pontos certos da administração anterior. Cito apenas exemplos deste acerto: a restauração e abertura do Centro de Cultura Henrique Ordovás e a implantação do Fundoprocultura, que oportunizou a jovens e nem tão jovens de Caxias (entre eles, eu), o lançamento de seus livros, discos, filmes, revistas, peças de teatro e saraus.
Lembro dos ótimos momentos da Orquestra de Sopros, da Cia Municipal de Dança e da cena teatral que, hoje, salvo resquícios da atuação anterior (e porque José Clemente Pozenato, quando secretário, soube valorizar aquele bom trabalho, mantendo inclusive parte da equipe) tende voltar ao ostracismo.
A ausência de um titular do meio cultural, desde a renúncia de Pozenato, relega sim a cultura. Antônio Feldmann (nosso ex-aluno da UCS) assumiu para “conhecer melhor a área”, mas é também o responsável pelo projeto de extinção da Secretaria da Cultura.
Estou enganado?
pr

segunda-feira, julho 3

O Atlas

E o Seu Vantuir Fayet em horas de amizade dizia que tinha treinado como se suportar o mundo.
E ensinava ao Pedro Antônio que a gente suporta o mundo nas costas de pessoa fazendo assim: que um até pode ser pequeno e segurar ou equilibrar o mundo ou a vida conforme a situação se apresentasse ruim.
O mundo é mais pesado que a gente, certo?
O Seu Fayet dizia, pois é. Que o Pedro Antônio devia primeiro ver a distribuição do mundo que ele ia colocar nas costas dele.
O mundo devia ficar bem dividido pra ficar equilibrado, não pender pra lado nenhum.
O peso do mundo.
O Seu Fayet dizia que agora sim, o mundo já tava adequado nas costas do Pedro Antônio, porque ele via que o Pedro Antônio conseguia se equilibrar.
Mas, se fosse um peso de um mundo maior, o Pedro Antônio devia ficar com os pés mais separados, as pernas mais abertas, na largura dos ombros no chão.
E que a largura dos ombros na sombra é fácil de medir.
É só se ver a sombra na terra e ir dobrando os joelhos como a tal.
Ó!
Vai devagarinho e o mundo por mais pesado continua nas costas sem cair.
É assim que se suporta o mundo: com a parte das pernas dobradas, se dobrando o peito pra direita como o Atlas fez.
Era fácil.
E o Seu Fayet dizia, experimente em mim.
O Seu Fayet dizia, faz de conta que tu é o mundo e trepe aqui bem assim em mim.
Ó! Nem cai!
E agora o mundo mais pesado. Venha junto Ana Elisa.
Viu!
Tão os dois nos meus ombros. Não deixo nenhum dos dois cair.
Fácil.
Desça aqui pela cintura e agora tentem fazer.
O Seu Fayet, por ser magro, fazia com o corpo muitas coisas. Se desdobrava, sabia boxe, lutava até.


Excerto da novela A canção das panelas

domingo, julho 2

Limpeza da covardia

Uma pessoa pequena, de pseudônimo SANTIAGO, possivelmente dor-de-cotovelo com relação à obra do autor deste blog, tem usado o anonimato para ataques covardes (como é próprio a pessoas assim) não só a mim como aos meus leitores.
Eu excluirei sempre este frustrado(a), de quem tenho pena, dos comentários.
E mais: anotei seu IP, de número 200 102 199, de Caxias do Sul, referente à visita 3.687, e continuando a covardia, irei processá-lo(a).
Paulo Ribeiro

Pois é...

qualquer descuido é fatal...

sábado, julho 1

As aventuras de Beleco, o Quer Jogar

ENTRAM NO BANCO. AGUARDAM O ATENDIMENTO.
— Quer jogar que a gerente é viúva?
— Viúva? Como sabe, Beleco?
— Só nos detalhes. Quer jogar?
— Essa eu jogo. Como é que vai saber?
— Barba, cabelo e bigode. Jogo que é.
— Viúva?
— Viúva!
— Vamos ver.
APROXIMAM-SE DA GERENTE.
— Eu sinto muito. Fiz vocês esperar.
— Não precisa pedir perdão, por quê?
— Obrigada!
— Ôh, eu sinto muito. Era muito amigo meu.
— Quem?
— Este aí de mau humor. Vi o retrato dele no túmulo.
— Como? Viu? Quem? (PEGANDO O PORTA-RETRATO DA MESA).
— Era o seu marido. Quer jogar?
— Jogar?
— É. Quer jogar que era o seu marido?
— Esse aqui? Não.
— Não?
— Meu marido está vivo. Eu não sou viúva?
— Jogue.
— Já joguei.
— O quê?
— Que não sou viúva?
— Como sabe... Deus! Você andou investigando o meu jogo?
— Não entendi.
— Joguei que era viúva?
— Pois desta vez então perdeu.
— Não perdi.
— Como não.
— Conheço ele. É aquele que eu vi lá.
— O senhor é louco?
BELECO PEGANDO O PORTA-RETRATO
— O mau humor. A cara dele... É sim.
— O Meu marido não morreu.
— Não morreu pra você que é muito insistente. É esse aqui. Eu vi lá.
— Como?
— A cara dele. O túmulo. É esse de mau humor.
— Mas não é meu marido.
— Quer jogar que pergunto?
— Pra quem?
— Pra ele.
— ... Ah!
GERENTE SE AFASTA IRRITADA. BELECO GRITA.
— Vou contar que você já esqueceu dele. Ingrata!
SAINDO OS DOIS DO BANCO
— Beleco, então a tua idéia era esta? Dizer que viu o cara no túmulo. Nós vamos acabar sem crédito.
— Quer jogar que não?
— Mas você assustou a mulher. Vão fechar nossa conta.
— Melhor assim. Conta fechada. Preocupação a menos.
— Mas e os cheques?
— Quer jogar que não têm fundos?
— Beleco, pelo amor!
— Eu sei. Fui eu mesmo que dei. Não têm fundos.
— Que dor de cabeça!
— Eu tô atrasado, meu sócio.
— Mas aonde vai?
— Por aí...
DE VOLTA À MARCENARIA. BELECO LARGANDO O CASACO.
— E aí, meu sócio, alguém ligou?
— Do cemitério, Beleco. Pra avisar que já mudaram o retrato.
— Tá certo. Hoje de tarde ela vai lá.
— Eu não acredito que você roubou o retrato do marido dela.
— Só peguei emprestado. E assim ele vai tomar uns ares.
— E será que ela vai lá no túmulo?
— Vai, vai lá conferir.
— Vai ser boa!
— Pode jogar!
pr