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quinta-feira, junho 29

A memória nos una

Um senhor, com mais de 90 anos,
morreu em paz esta semana

esquecido,

disseram dele:
"tinha apenas a memória antiga"

que me chegue logo também os 90!
pra esquecer, amada
—que recém-separamos—
e só lembrar o daqui pra trás

pr

terça-feira, junho 27

O ano que vem melhora

— Vou sim, eu não quero mais!!
— Você quem sabe...
— Vou sim!
— Como se sentir melhor.
— Melhor??
— É...
— Vou sim, não quero mais!
— Você quem sabe.
— Eu que sei?
— É...
— Não me conformo. Rateada ficar contigo!
— ... Ma ...
— Você me sufoca!
— Não...
— Nem que eu quisesse... vai ser melhor pra nós.
— Vai ser pior...
— Ah, não, vai ser melhor...
— Maria!
— É...
— É?
— A gente logo se esquece...
— Não pode fazer isso!
— Eu faço como quiser.
— Eu não sei... tô indeciso.
— Eu sei...
— Não me peça, tá!
— Isso passa...
— Como é que você sabe?
— Passa.
— O que vai fazer?
— Eu não sei, eu não seiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
— Tá bom. Nos separamos amanhã então!
— ...
— Me dá um filho...
— Não fale assim...
— Me dá um filho.
— Não podemos.
— Podemos. O ano que vem melhora.
— Não quero.
— Você sempre quis.
— Não quero mais.
— Ih!!!
— Olha, se cuida. Não gaste tanto, não pegue frio.
— Eu tô indeciso...
— Se cuida, viu.
— O ano que vem melhora... escuta...
pr

segunda-feira, junho 19

A canção das panelas

A cozinha só não andava mais triste porque as crianças eram obrigadas a passar ali.
E diziam, crianças, pelo amor de Deus, entrem pra baixo da mesa, respeitem a Néia.
E que a Néia não ficasse no apuro, pedisse pras crianças também ajudar.
E era por isso que a Néia deixava se beijar.
E a Néia, na hora de dar banho, dava um grande susto no coração do Pedro Antônio.
Se beijar numa grande dá um grande susto.
Mas criança se beijar é que nem uma lágrima.
E o Pedro Antônio se lembrava da língua da morte da mãe e das pernas peludas da Néia também se lembrava.
Será que era por causa dos pêlos que tinha nas pernas que a Néia sentia um desprezo com os próprios cabelos?
Lutava com os cabelos dela.
Os cabelos da Néia eram também cabelos de galinha e ela batia nas panelas.
O Pedro Antônio e a Néia ficaram amigos.
O Pedro Antônio que levaram no velório com uma blusinha de marinheiro.
E o vestido que mudaram na mãe dele tinha a cor da mariposa.
As crianças que acompanhavam, queridas, ficavam sentadas.
Tudo tinha o gosto da Néia no caixão da mãe dele.
O tom combinando, as flores inocentes de coroa, nada de muito caro pra quem tinha loja.
Pensando bem, os que trabalham, mas trabalham por anos, entristecem na morte da patroa.
E quer jogar que daqui a pouco a Néia chorava?
Como diria a Néia, “praticamente”.
E também praticamente parecidas eram ela e a cantora Martinha.
A Néia que beijava guri na boca.
pr

quinta-feira, junho 15

Mãe de José

Tinha aparência pra ser a mãe do José. Tinha bem um semblante de quem era mãe de carpinteiro, porque mãe de carpinteiro se reconhece na primeira olhada: elas têm um olhar bem puro, coisa de religião. Só que se diz “é mãe de carpinteiro” pra quem tem também um filho em carreira de padre. E no município tinha uma mãe de padre. E muito da roupa usada era aquela quem ganhava.
pr

quarta-feira, junho 14

Vestido

Depois de tanto usá-lo, cansou-se do vestido. Vestiu-se de sossego, ficou nesse figurino pra sempre.
Triste e o vestido no guarda-roupa de barriga pra cima.
Mas o vestido, bem pensado, serviria à menina da casa.

Triste, triste dona do vestido nessa memória do seu primeiro baile.
pr

terça-feira, junho 13

Crianças se beijam

Criança se beijar é que nem uma lágrima.
O Pedro Antônio e a Ana Elisa se beijaram a primeira vez atrás do marmeleiro.
O Pedro Antônio se lembrava da primeira vez do mar e que no mar tinha o Homem-peixe.
Crianças também entristecem os doentes.
Não é de hoje e nem só em dias tristes.
Para as crianças, o doente é alguém que fica gostando mais de Yesterday pra toda a vida.
Já notaram como as crianças se sentem mais aliviadas com essa música?
E ficam direitinho de lado pra se beijar.
E nesse beijinho de lado a lágrima escorre assim: bem aqui, no caroço do rosto, quando se tem caroço de nascença como os peixes.
pr

segunda-feira, junho 12

A namorada

faz teu perdão

e, perdoado,
pergunto:
quer me namorar?

as mesmas teclas
antes
e depois
pr

sábado, junho 10

Sementinha

Para a Lua

sementinha
tá no chão
nem aí
despreocupada
sementinha
põe à prova
a prova de amanhã

sementinha
oix, beijux, rebeldia suave
neste seu dialeto em XD

sementinha
pisa poça
salva a chuva
sementinha toda prosa
antes do carro esquecer
sementinha
luz da casa
barulho bom
ouvido de amiga
sementinha
ora, vejam
a sementinha que eu gerei

sexta-feira, junho 9

Sincronia

Você, confidente, eu, teu ouvido, eu já fui teu remédio, a pílula, eu já fui teu mel e o sal.
Amargo, te enchi, ofendi, fui humano, aprendi e fiquei melhor.
Eu fui prum cantinho daquela igreja, lembra?, eu era o ateu a dizer: Senhor!
Adeus, teimosia, por ti.
Eu fiquei mais bem-humorado, sim. Deixei os ciúmes, as brigas, abracei-me de apego e menos opinei.
Partilhei mais.
Eu te chamei, predileta, bem ou mal, sempre na festa, você me estimulou: fez chorar, me fez rir, fez gemer, deu calor e estendeu a mão.
Passou as madrugadas comigo, às vezes, muitas vezes, sem estar.
Afastou a solidão sem vir.
E eu te estive e eu fiquei triste e eu muito sorri.
E eu escrevi aos milhares, aos bilhares, aceitei e pedi desculpas, eu acho que te animei.
Ainda menos, devia ser mais.
Por que no carnaval eu não estive, aquele encontro foi adiado, mas o meu ciúme incontrolado foi como prova do gostar.
Precioso gostar.
Bonito e verdadeiro, gostar que não se conta e se guarda pra si.
Mas eu conto dele, das minhas cuecas-furadas, das minhas barbeiradas por não saber dirigir.
Meus erros, as metáforas, e os nossos pensamentos escritos de uma vez só.
E eu acho que se falar junto não é ser mal-educado, é estar sincronizados, é amor.
pr

quarta-feira, junho 7

Vamos sair sempre com as mesmas roupas

Vamos sair sempre com as mesmas roupas
vamos deitar sempre com os mesmos pijamas
vamos roçar sempre os mesmos travesseiros
vamos ser comuns
insuportavelmente comuns
insuportavelmente sairemos por aí
comuns
com o mesmo amor
único e nosso
roupas iguais
amados e amando iguais
um só
os dois
pr

TV interativa

Pedimos desculpas pela inconveniência, mas não é possível processar seu pedido de um programa mais instrutivo no momento. Nossos engenheiros foram notificados deste problema e trabalharão para resolvê-lo.
pr

O vigário cassado

Vitorino, às voltas com a loucura de visitar “todas” as serrarias, andava faltando às reuniões do clero. Faltou três naquele ano. Uma por estar em retiro, a segunda porque recebeu o aviso na véspera, na terceira já nem indicou os motivos.
Batia de frente com o bispo. Em março, recebeu uma sexta (!!!) advertência. Cansado, rebateu as ameaças. O bispo julgou-se e ofendido e, no dia 1 de abril de 1956 (!!), o próprio vai a Bom Jesus para a deposição.
Gostou da história? Clica em cima, à direita, em Crônica da Semana, e saiba mais.

terça-feira, junho 6

Rejeição

negas o que há do meu amor em ti
negas as vestes
também tuas
negas o corpo
todo teu
a perna
a curva do cinturar
negas o seio
que escondes ainda
na abertura do roupão
Não negues!

pr

segunda-feira, junho 5

Readormecer

pelo beijo que recebeu
da suave luz da janela
ainda não ao umbigo
ainda não à costela
a réstia em teus pés
(que à medida se abriu)
era para um amor
tranqüilo
readormecido
pr

domingo, junho 4

Presente

inclinada sobre o medo
à altura do ouvido dos vizinhos ainda
sabia a pretensão que por trás da intenção dele havia
e pensou:
suportar um amor assim, abafado e firme,
poderia ser o seu presente

Por que não
a dor imprevista de um presente descoberto
Por que não
o embrulho despido
o papel retorcido em suas mãos?

E se fez o estocar dos dedos no tope por fim
desfeito
nas pregas e sussurros plenos
não mais à altura dos vizinhos
que não ouviram
não ouviram a muda e intensa duração do seu prazer

pr

sábado, junho 3

Permissão

O que não se deve dizer foi dito
impreciso
dúbio
imprevisto
apressado
jogando-nos ao assédio
às voltas
para a virtude dos pés no chão
que bloqueia,
exclui,
não permite
e nos reinventa
sós
pr

sexta-feira, junho 2

Campanha do Agasalho

A campanha do agasalho quer roupinha que não se usa mais.
Então, meu Deus, por que doar??

pr

A estação do pão-de-ló

prostitutas
pedintes
salário máximo
vacinem-se!
afrouxem o braço
curso de outono de Inglês

prostitutas
pedintes
salário máximo
somos todos iguais nessa névoa
estação do pão-de-ló
pr