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quarta-feira, maio 31

Segue o barco. Será?

Uma separação para o "nosso bem". Acabar um amor que "vai ser melhor". Bobagens que ouvimos.
Uma separação sempre será para o nosso mal. Acabar um amor sempre será o pior.
O tempo apaga, nos dizem.
Apaga nada, apenas esmaece.
O grande amor, o grande amor mesmo, ficará como uma ilha, silêncio, aquilo que o homem cala até o último dos seus dias.
pr

Te ofereço a neve e umas casas

Esta preciosidade, que achei no site do William Giudice, diz a atmosfera do lugar onde nasci e também a pureza que caracteriza a minha gente. Somos uns românticos inveterados mesmo. A foto é do acervo de Eloni Oliveira Tonoli. Veja mais sobre Bom Jesus em: www.diariodebomjesus.ubbi.com.br

segunda-feira, maio 29

Choque térmico

Pisar no
no
frio dobrado

queima, repuxa, pela

o frio desencapado
é um choque

pr

Figurino

espirra, moça
espirra tua graça

se é por causa do brim
não troca

espirrar é bom!

pr

sábado, maio 27

A bicicleta com a moça

a bicicleta da moça
com as duas pernas grossas
com os seus ricos cabelos negros
acontecia de ir embora


era arrastada por Deus pra ir pro céu

mas se ouvia dizer que não foi
porque a bicicleta se mostrava
no outono no domingo no parque
em cada azul das voltas no selim

e a moça da bicicleta deixava o mundo inteiro à espera
no esvoaçar do seu ir, ficando
no esvoaçar do embarca e anda de cada olhar

e a moça da bicicleta desvestia-se
tão simples, tão nobre
mas nem pra Deus

pr

quinta-feira, maio 25

Sol de maio depois do almoço

Ela diz, amigo!
marido, às vezes,
no momento de descontrair

os sapatos nus
lagartos ao sol
as bergamotas neste aquecer

e aquela falta de música das roupinhas no varal

pr

Filhos

há outras formas de se dar um filho a um homem?
me dê
eu os quero
o filho chamando Segurança
um filho chamado Carinho
um filho chamado Amor
um filho chamado Amizade
um filho chamado Cumplicidade
um filho chamado Sinceridade
um filho chamado Fidelidade
um filho chamado Amor Renovado
e deixa eu ser chamado Pai dos Teus Filhos

pr

quarta-feira, maio 24

Beijo

vejo a sombra de teus cabelos
levemente ondulando
à esquerda
como se fosse
a mancha de uma nuvem
que inventou de contornar
placidamente
o cair da tarde sobre aquela árvore
onde nunca estivemos
e que nos espera
para um beijo de amor
pr

Resposta à Morgana

Outro dia, desenhei um trapézio, um malabarista no alto, e pelos cabelos do cara só podia ser eu. Coloquei isto no blog e uma amiga, a Morgana, em visita, deixou a pergunta: Qual é a visão que se tem do mundo de cabeça para baixo, assim, da forma que estás neste trapézio?
Eu não respondi. Pretendia que o texto bastasse em si. Mas, não, a minha amiga provocava.
E eu entendi. Ela tocava no ponto (sem me dizer, a esperta!): acompanhava ainda o saldo de mortes das ações do PCC e polícia em São Paulo. Isso nas minhas barbas e eu falando de gata em máquina de lavar?
Veja o desdobramento de minha resposta á amiga, clicando em Crônica da Semana, acima, à direita.

terça-feira, maio 23

O segredo

Ficava de espiadora dele mergulhando antes os braços e o peito num bacião.
Espumava e se espumava, chegava ficar de um jeito que parece que nadava.
E ele acontecia como um marreco puxando com as mãos com grande raça dentro da banheira.
Decerto tinha aprendido no rio.
E ela dizia, durma bem quando descer.
E nem sabia que ele roubava os sutiãs ou detalhes de valor do quarto deles.
pr

domingo, maio 21

Amor virtual

Maria - diz:
oieeeeeeeeeeeeeee
Maria - diz:
kd vc?
Maria diz:
tu acreditas q só agora veio um monte de frases juntas
Maria - diz:
e eu achava q vc não estava falando comigo

João diz:
Coisas do msn
João diz:
Superlotação do sábado
João diz:
Todo o mundo nesta hora está no msn
João diz:
amando, fazendo planos.
Outros, brigando, discutindo, combinando encontros reais.
Falando da saudade imensa,
tomando um chima na ausência
como se fosse uma oração.
Para abreviar a falta e para abreviar o tempo.
Para que possam estar juntos,
porque é ruim ficar longe de quem se gosta, carente, querendo colo, querendo peito,
querendo pentear os cabelos com os dedos, assim.
E poder dormir acolheradinhos, bundinha do amor amado aquecendo e quietinhos dormir juntinhos, roubando cobertas só por sacanear.
E neste brincar, vai, percebe ele excitado, rijo, em prontidão, animado; e ela, então — máxima e próxima — com suavidade se despe, com suavidade se abre de costas e ele a ama e faz esse amor fundo e viril.
E a mulher então agradece, sente dentro e pensa sobre esse prazer:
ele me encheu de amor.
O meu homem me encheu de amor, do seu amor líquido.

E esta mulher então pegará a suave toalha e se enxugará e beijará profundamente o homem da sua vida e relaxada dirá:
reza ainda por nós, que eu já fechei os olhos e agora vou mimir sentindo a tua proteção, meu homem!
pr

sábado, maio 20

Reflexões do escritor

Parecia de novo criança: só na base do não quero, não brinco, não falo, fazendo birra, não querendo se lavar.
Tudo de fralda plástica.
E vivia de fralda plástica num lugar sem se lembrar.
Nem no quarto sabia onde estava.
E pra esse paraíso ser mais paraíso, tranqüilo, botavam no quarto dela o rádio preto com Yesterday.
O rádio se acendia pra esquentar a válvula.
Mar, vento, espuma, sangue do nariz.
Ah, TVs ligadas, alegres, tempo da gata andando por cima da máquina de lavar.
Tempo da cor de um eclipse pra porco também ver.
Por que é que sai na praia mais sangue do nariz?
E o Pateta de cabeça arrancada?
Alguém que não quero vem pra jantar.
Alguém que não corrigiu os erres de sua criança pra ser escritor!
pr

Trechos do que não interessa mais

Uma bela e suspirada voz um dia começou a encher a casa e parecia até uma viúva árabe chorando as baladas do marido dela.
Bem suspirada, carpideira com lágrima e tudo se ia pra fora esvoaçando nas cortinas.
Um tremor!
E dava um melancólico quando se ouvia nesses dias que ela inventava de cantar sem mais poder.
Acontecia uma canção.
De quem? pra quem? não se sabia. Acontecia.
A letra ensinava as crianças, falava de um acampamento cigano e outros blábláblá.
Muito legal e muito nostálgica.
Há anos cantava nesse dialeto bem antigo, nesse cigano dela que nem se sabia que aprendeu.
pr

Trechos do que não interessa mais 2

O Seu Caliope abraçava o aspirar de pó quando bebido.
E a D. Norli Caliope se gabava com tanto carinho, “como eu consigo jogar na cama o beberrão”.
É.
Mas nem cuidava direito o marido dela.
E dizia nos vizinhos que, por força de ser esposa, era muito mais que ser parente.
Só por dizer.
E que o Seu Caliope dava uns enformigamentos no rosto e descia pros seus próprios rins pelo suor.
A olhos vistos a camisa, as cuecas, as meias que também usava grudava na pele dele como um lenço.
E a D. Norli, daí, depois, muito lhe acariciava.
Muito.
A D. Norli do Caliope tinha pra ele um corpão daqueles que fascina.
pr

sexta-feira, maio 19

Estridência

Hipotético convalescer imediato à sedução
pr

Coração na mão














—Tinha tanto cabelo que nem escutou.
— E sim?!
— Os cabelos, negros, bonitos...
— E ela braba, decerto?
— O olhinho mais azul ainda e eu olhando aquele olhão.
— O maior pecado.
— Pra ver.
— Santa...
— Perguntava, “que é que eu fiz”, que ela não sabia o quê.
— E você?
— Eu disse: onde estiver um coração na minha mão, eu jogo com a moça?
— E ela. Quis jogar?
— Não entendeu. Mas ainda a amo!

quarta-feira, maio 17

Andando dormindo no mar

— Lembra os cabelos da mãe na praia?
— Ficava bem assim.
— A gente dizia que era pra criar galinha.
— Como a gente era ruim.
— Mas era. Parecia.
— É que ela ficava demais na cama e os cabelos ficavam pior.
— Bem diferente. Perdiam a cor.
— A coitada nem se animava.
— Também, praia no inverno!
— Não era. Era abril.
— Então!
— Era bicarbonato que precisava, né?
— Um pouco mais de carinho, também, né?
— Não comece.
— ...
— ...
— Você sente saudade?
— Sinto.
— Sonha com ela?
— Nunca sonhei.
Espirro.
— Gripe?
— Peguei...
— A mãe pensava em morrer na casa da praia.
— Que lugar!
— Aberto, deserto, sem boi, galinha, nada.
— Já viu na praia um pedacinho de terra, um pomar?
— Nada. Só a mãe mesmo.
— Olhando, admirada, olhando pro mar...
— Os cabelos de galinha...
— Lembra que se escondia no porão?
— E eu levantava e dizia: “Pai, veja se é a mãe. Veja se não é ela andando de novo dormindo.”
— E o pai?
— Ele é que não via!
— Não?
— Não.
— E daí?
— Ele só se queixava das pernas, que não podia descer.
— Mas na praia era diferente.
— Hum-hum. Ficava mais amigo.
— Melhor de coração.
— Ele dizia “é o mar!”
— Lembra que botou assim no peito a mão da mãe e disse, “Esperem. Depois eu converso.”
— Tinha de acabar o mundo naquela hora.
— Hã-hãm.
— Você quer mais um licor?
— Acho que não.
pr

terça-feira, maio 16

Magistério e magistrado

Não é fácil ao julgador a prudência do sentenciar.
Não há graça alguma em valorar ou condenar por dedução.
O magnetismo das provas está na retenção da urina.
pr

domingo, maio 14

O churras

O churras no espeto, esqueleto, costela, o churras é somente pretexto, ritual do coração.
É caipira, urbano, sem classe, o churras do herege ao compadre, com vaquinha se faz um.
É do Inter, é do Grêmio, vale em euro e preserva o juiz como o filho da mãe!
O churrasco é família.
Beberica!, experimenta!,
o bom churras virou encomenda, um processo industrial.
Tá no mar, no Japão, até da rainha eu já soube:
que pediu uma sobra de carne e enrolou no alumínio mortal.
pr

sábado, maio 13

Haicai

quinta-feira, maio 11

Um chima na ausência

Sorve comigo, irmã de mate,
sorve comigo
a espera que sempre te alcanço
em minha oração:
saudade, dom da ausência,
saudade, merdinha de nada,
se grande o amor
pr

quarta-feira, maio 10

Progresso

No começo, Deus fez o vitelo e um vitelo valia um aspirador. Depois, aspirador ficou valendo uma vaca, e mais tarde era a vaca e boi por um aspirador.
Deus progride, Deus não poupa, a vassoura é quem pode dizer.
pr

segunda-feira, maio 8

A Lua da Terra

A Lua que explica, não se importa, crucifica, entorta os lábios pra Jesus. A Lua que beija o céu.
É uma Lua cristã. A Lua é o manto de Nossa Senhora, a Lua que beija, faz que implora, e se faz travessa depois.
A Lua que durou um ano até se instalar.
A Lua explosiva, vistosa, toda prosa, a Lua metida numa gare de trem.
A Lua pela Europa, a Lua que se case de novo, se puder!
A Lua da foto, de rosto, a Lua que vira gravura pra quem não sabe pintar.
A Lua do banho, do tamanho do susto, a Lua dos justos, a Lua no painel da velha Rural.
A Lua com imã.
A Lua que esgrima no espelho, a Lua às favas, a Lua que dá de mãos.
A Lua dos lábios.
A Lua dos doentes, dos alegres, dos tementes, a Lua no modo de se dizer.
A Lua de brinquedo.
A Lua que o passarinho engoliu.
A Lua da lágrima, de feltro, do Norte, a Lua do fecho-eclair.
A Lua do chapéu. A Lua de Havana. A Lua do mar.
A Lua que dorme, a Lua inocente, a Lua pra criança amar.
A Lua da flâmula, a Lua do snooker, a Lua de um selo, a Lua de jeans.
A Lua do baralho, a Lua do Ás, do Rei, do Valete, a Lua da net que pega a viciar.
A Lua da paciência, a Lua do sorriso, a Lua molho no pão.
A Lua do colo, carinho, socorro, a Lua com sua técnica ensinando o crasear.
A Lua do circo, do risco, trapézio, a Lua a cair.
E a Lua desce por entre os meus braços, a Lua da Terra, que beija o chão.
pr

sábado, maio 6

Meu encontro com Quintana

O escritor gaúcho Paulo Ribeiro recorda seu encontro com o poeta Mario Quintana: uma tarde inteira diante do televisor, regada a muito cafezinho. A visita renderia - no dia seguinte e por escrito - uma breve mas bela entrevista.
— Olá, Seu Quintana...
— Sou!
— Poderia...
— Não!
Foi mais ou menos assim, com esta blague, que conheci Mario Quintana, em 1985.
Naquela ano, o poeta mudara-se para o Hotel Royal, na rua Marechal Floriano, no centro de Porto Alegre. O então Rei de Roma, Paulo Roberto Falcão, recém havia comprado o hotel e convidara o poeta para morar lá, pois Mario andava sem paradeiro.
Por intermédio de um amigo, um conterrâneo de Bom Jesus (Mauro, que era garçom no hotel e fazia as “comprinhas” para o Quintana — cigarros, balas, apostinhas em jogos variados — e que era recompensado com livros autografados, que guarda com zelo ainda hoje na portaria do Hospital Saúde, em Caxias do Sul, onde trabalha) cheguei ao inacessível poeta.

À época, estudante de jornalismo, o motivo de minha visita era aquele mesmo: uma “entrevista”. E só o Mauro para convencê-lo.
Era uma tarde muito quente, lembro. E o diabo, então, com aquele calor, era saber qual o Quintana abriria a porta, atendendo ao pedido do seu prestativo amigo.
O poeta me recebeu acompanhado de uma jovem estudante, Sandra Ritzel, que acabou se transformando na companhia de Quintana até o final da vida.
Havia muitos Quintanas, diziam. O Quintana que conheci era um cara brincalhão e feliz, apesar da modorra daquela tarde. À vontade, desfolhando jornais pelo chão (tive a impressão que o poeta lia o jornal por partes; a cada quatro páginas que lia, a desprendia do corpo do jornal, jogando no chão as descartadas).
Páginas de jornais pelo chão, lambuzando-se de rapadura, lá estava o Quintana. Um ventiladorzinho ligado e, à cabeceira da cama, a térmica com café preto. Tão logo me recebeu, deitou-se, pés espalhados pela cama. Mais do que cansaço, era um “empreguiçado” animal que estava ali aos 79 anos.
E começou a falar muito, comentando o que aparecia na tevê então ligada. Duas crianças na publicidade:
— Não gosto de gêmeos... eles nos dão certeza da nossa condição de animais... todos parecidos uns com os outros!
E seus dois olhos, gêmeos também de tão azuis, acenderam-se ao falar de Piazzola. Por algum motivo, Piazzola, na tevê, tinha entrado na conversa. E nada da entrevista.
Quintana me enrolava com sua atenção, e eu nervoso querendo logo fazer as perguntas. E o poeta pigarreava e dizia lá duas coisas antes de um novo café.
E ameaçava:
— Olha que eu não concedo entrevista nenhuma. De onde você conhece o Mauro?
E assim passou a tarde. Aquela tevê ligada e cafezinhos às 14h30min, 15h40 e 16h50min.Era um “cafezeiro”, eu comprovava (e também a lendária foto da Bruna Lombardi emoldurada!). E, assim, como ofereceu a rapadura, um café, com o mesmo simples gesto, a mão estendida, o poeta Mario Quintana, cansado, certa altura me botou pra fora do seu mundo.
— Mande pelo Mauro o que quiser, que eu te respondo.
Assim foi feito. Deixei na portaria a minha pauta e, dia seguinte, já recebi o manuscrito do poeta. Infelizmente, suas respostas restam esquecidas (não perdidas) em meio a caixas de andanças e mil mudanças da vida.
Sobrou, contudo, a entrevista. Ela foi divulgada no jornal interno do Grupo Olvebra, onde eu estagiava, à época, na área de Comunicação. É um material até certo ponto singelo (pela minha inexperiência e condição de fã naquele encontro), mas inédito, pois circulou apenas entre funcionários, em 1985.
Texto publicado, hoje, no Caderno Cultura da Zero Hora, e também reproduzido no Pioneiro, de Caxias do Sul, p. 22.
A foto acima é de Eduardo Vieira da Cunha

O eterno momento: a entrevista

Pergunta: O senhor, hoje, disse que não gosta de gêmeos porque eles se parecem muito, que isso lhe assusta... e os anjos e os fantasmas, também não se parecem tanto?
Quintana: Os meus anjos não são os meus fantasmas. São criaturas diversas, habitantes dos meus poemas.
Pergunta: E Quintana. Quantos são?
Quintana: Há o Quintana poeta, coisa que só acontece quando ele está fazendo poemas. Por isso, quando me perguntam: “O senhor é o Mario Quintana? Eu respondo: Às vezes!”
Pergunta: Como é o poeta Quintana em relação ao poeta medalhão (ele havia concorrido duas vezes à Academia Brasileira de Letras e não conseguira eleger-se)
Quintana: O poeta Quintana “Medalhão” é a última encarnação do poeta Quintana propriamente dito. Ele tem saudades de si mesmo, daqueles tempos em que era um poeta anônimo.
Pergunta: E as homenagens que lhe prestam...
Quintana: As homenagens vieram tarde. As homenagens e reconhecimentos teriam de ser na juventude, ou o ideal seria viver de trás pra diante.
Pergunta: O poeta não é afeito a amizades novas. Como é aquela estória de que “é difícil estabelecer novas amizades porque uma amizade se baseia em velhas recordações em comum”?
Quintana: Não, não é assim. É: “com as amizades novas compartilhamos as esperanças dos moços, da mesma forma que compartilho com os velhos a saudade do passado.”
Pergunta: E os sonhos?
Quintana: Ah, precisaria que eu fizesse um tratado... são tantos.
Pergunta: O senhor não gosta de entrevistas. Qual foi a pergunta mais absurda que lhe fizeram?
Quintana: A pergunta mais absurda que me fizeram foi: De que tratam os seus livros?
Pergunta: E o erotismo na sua poesia?
Quintana: O que você denomina, impropriamente, de literatura ou poesia erótica, deve ser a poesia amorosa, sentimental ou sensual. Da primeira, são a maioria dos sonetos de A Rua dos Cataventos. Há leves exemplos da segunda no “verão” Dos Apontamentos de História Sobrenatural, e na “oferenda”, Dos Esconderijos do Tempo.
Pergunta: Como é o seu processo de criação. Há momento (um estado especial) ou é a toda hora?
Quintana: Vem a qualquer momento, como um relâmpago. O problema é fixar o relâmpago. Aí vem a luta do poeta com as palavras, até que estas expressem o que ele queira dizer. No fundo, a poesia é isto: a eternização do momento.

quinta-feira, maio 4

O medo

O morto de medo dobra bem as mangas, gosta de água morna, tem caprichos de vidro, busca coragem em CD.
Tem o medo do Mercado, não sabe do hippie feliz.
Tomar um guidão, ter um Jeep, se mandar por aí.
Ao contrário, o borrado anda às voltas, tá no gim, na cachaça, o medo tem sobrenome, é a falta de culhão.
O medo das lojas. O medo-remorso, o medo do que não fez.
Que o medroso não faz nada, deita cedo, tapa a cabeça, não dorme de medo também.
De medo do vento, de um outro casamento, de encarar a vinda de um filho e desafinar na canção.
Por isso não canta. O medroso é um triste e a sua elegância reside aí:
o sentimento do medo é o tremer;
o comprimento das pernas a bambar.
Unhas roídas. O medo é feio, é vício, vírus, o covarde tem essa barra a lhe empatar.
Eu já vi por causa do medo muito carão no amor.
pr

quarta-feira, maio 3

A ceia do peixe

A ceia do peixe é bem limpa, tá na água,
tá no fundo do estômago do nariz

Saca-rolha

A cara do Saca-rolha
parece de fome

Não sou turista de mim mesmo

Uma vez pensava gostar do inverno.
Falavam em pelegos e fogo, em cobertas de lã e o sei lá...
Mas eu vi a minha gente no gelo, quebrando Havaianas, e quando eu vi tudo, desacostumei.
E não quis mais saber de céu, seis da tarde, a garoa, ficassem à vontade!, a névoa sem neve da Noiva do Sol...
aquelas agüazinhas que têm por ali, nunca mais!!!
Não sou turista de mim mesmo.
pr

terça-feira, maio 2

Lembrete

Num aconchegar de pés
falamos do que se deve:
do amor, das contas, dos imprevistos de duas vidas.
De viver na água, no frio, na praia,
as desvantagens de um cachorro ou portão maior.
E teu presente afinal foi um pássaro
que grudou na geladeira
pr

A prece arquitetada

Senhor, esta é a Tua casa!!!
Mas, parece até um Super pelo tamanhão
pr